Capítulo 24

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Capítulo 24

Daniel

Eu paro meu carro em frente a casa pequena, com a fachada precária e o portão rosa, a mesma casa que eu parei há um mês atrás. Mas as circunstâncias de como eu estou são tão diferentes agora.
Há pouco mais de um mês atrás eu estava parado nesta mesma casa, observando a mesma fachada, o mesmo portão rosa pensando como a minha vida era tão diferente da vida da minha namorada e como mesmo com tudo isso nós nos completávamos.
Naquele dia eu estava radiante e agora eu apenas me sinto triste, sozinho e perdido. Sem saber o que fazer para conseguir ter a única coisa maravilhosa que a vida me deu perto de mim, o meu filho ou filha. O fruto do amor mais intenso e puro que já senti.

"Meu deus, eu já o amo tanto". Fico imaginando como seria tê-lo em meus braços, tão lindo, tão pequeno. Decido criar coragem para descer do carro e apertar a campainha.

Sei que será muito difícil de enfrentar a pessoa que eu encontrar do outro lado da porta, mas eu não tenho outra opção. Eu preciso tentar algo ou vou acabar enlouquecendo com tanta angústia e desespero.

Me aproximo mais e finalmente aperto a campainha. Os segundos que se passam até que alguém abra a porta parece minutos perturbadores e eu sinto meu corpo trêmulo. As mãos geladas, as pernas moles.

É como se eu pudesse cair a qualquer momento. Não tenho mais tempo para pensar no que vou dizer, Kelly já está em minha frente com os olhos arregalados. Me distraí tanto que não percebi quando ela abriu a porta.

Eu posso sentir a tensão em todo o seu corpo ao me ver, constatar isso me deixa ainda mais perdido e arrasado. Ela se sente mal por estar tão perto do seu estuprador, ela tem medo de mim.

  — O que você faz aqui? — Sua voz sai cheia de nervosismo ao mesmo tempo que seus olhos espelham ódio.
Respiro fundo antes de dizer algo, espero que com isso a minha mente se ilumine e surjam as palavras certas.

— Kelly, por favor.. me escute. Eu já sei que você está esperando um filho meu. Sei também que você gostaria de nunca mais ter que me ver e compreendo a sua dor e ódio. Eu, realmente, sinto muito que não possa ser assim. Juro que eu queria poder te deixar em paz, até abrindo mão do meu filho, deixando que você o criasse com alguém muito melhor do que eu. Mas eu não consigo, eu preciso desse bebê, eu não aguentaria saber que ele é meu e viver longe dele.. me desculpa, mas eu não consigo. — As lágrimas começam a cair sem controle pelo meu rosto, eu não consigo dizer mais nada.

— Não posso te impedir de procurar  seus direitos como pai depois que essa criança nascer Daniel, mas até lá eu quero que você continue longe da gente. Até porque esse bebê ainda está aqui dentro de mim, ou seja; é o meu corpo e são as minhas regras. Eu imagino que para alguém como você seja difícil de entender isso.. mas espero que você consiga.

Eu sinto como se as palavras dela me cortassem por dentro, elas tinham sido ditas com o claro intuito de me machucar, e realmente tiveram o efeito esperado. Eu não consigo parar de chorar, mesmo que eu queira muito para que o raciocínio flua melhor em minha mente.

— Eu entendi sim, você não quer que eu acompanhe sua gravidez, mas eu gostaria de te implorar para que não faça isso. Me deixe apenas acompanhá-la nas consultas... por favor.
— Não! Eu não conseguiria ter que te ver a cada nova consulta. Mas você é um advogado influente não é mesmo? Pode impor a sua presença. Só assim você terá o que quer.

— Não vou te impor nada, eu estou apenas te implorando para que tenha um pouco de bom senso, mas não irei te obrigar a nada. Afinal é o seu corpo e são as suas regras... Dessa vez eu vou respeitar isso.

— Ótimo. Então, já terminou, era só isso?

— Kelly por favor.. o que posso fazer para que você mude de ideia?

— Nada, vá embora daqui. — Sua voz sai áspera.

Quando ela está quase fechando a porta eu me ajoelho em sua frente, deixando de lado todo o pouco orgulho que ain me restava.
— Me perdoa, por favor.. me perdoa. Eu não quero ter que entrar na justiça para poder ver meu filho.. eu quero poder ter contato com ele naturalmente. Juro que eu passarei da vida inteira me esforçando para que eu e você possamos ter a melhor convivência possível. Mas não me prive de ver a sua barriga crescer, de acompanhar o seu parto ou de pegar o nosso filho nos braços. — eu choro ainda mais a cada palavra nova que pronuncio. A olho nos olhos deixando que ela veja toda a minha dor e desespero.

  — Eu não consigo te perdoar. Jamais vou conseguir.. — ela diz me olhando também, com toda a raiva que ela sente por mim ali, totalmente explícita em seus olhos. — Entenda isso e aceite isso. Me deixe em paz!

Nesse momento eu não digo mais nada, me sinto sem forças até para me levantar dali. Kelly fecha a porta e eu não a detenho. Apenas me sento na escada e choro por tudo que deu errado em minha vida.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora