Capítulo 46

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Daniel.

Assim que chego na sala de espera encontro Katherine sentada em uma das poltronas mais afastadas enquanto dona Carolina está ao lado de André mais próximos da porta por onde entrei, os 2 parecem estar se apoiando. Assim que eles me veem todos se levantam, André ampara a mãe de kelly a ao mesmo tempo em que ela me olha com hostilidade. " Meu Deus, será que isso nunca irá mudar? Sempre será assim, com esses olhares que me julgam a cada passo que dou, a cada palavra que eu pronunciar?"

— E aí, o bebê nasceu? — Andre me pergunta no seu tom calmo de sempre. Eu juro que gostaria de entender como ele consegue se manter sempre com o seu jeito tão leve de ser.

— Sim, ele nasceu e e lindo. Kelly também está bem, acho que ela só precisa descansar e receber todos os cuidados necessários pós sesária que ficará tudo bem.

Nesse momento, percebo o olhar de hostilidade da Dona Carolina mudar para um sorriso aliviado assim como  André. E como se eles finalmente conseguissem relaxar ao ouvir que aparentemente tudo ficaria bem.

— Obrigada, meu Deus. — escuto Dona Carolina dizer levantando a cabeça para o céu, como se agradecesse a deus por suas preces terem sido atendidas.

É interessante ver essa cena, me pego a pensar que eu nunca consegui crer em um Deus quando eu era um adolescente, talvez a falta de valores religiosos tenha contribuido para que eu fosse o demônio que cometeu monstruosidades, talvez seja isso que me fez ter pesadelos recorrentes com o meu pai. Ou não. Acho que nada disso justifica a merda que eu fiz e não me isenta da culpa pelo que causei, eu era lúcido o suficiente para saber que eu não poderia repetir o mesmo erro do meu pai, mesmo assim eu agi como ele, nas porquê? Essa é uma pergunta que eu procuro a resposta até hoje, mas eu não a encontro. Quem sabe agora seja o momento de eu realmente me apegar com deus, talvez eu precise disso para não enlouquecer de verdade.

Meu coração começa a dizer para me afastar dos dois, dar espaço para eles desfrutarem melhor da boa notícia, já  que claramente minha proximidade incomoda a mãe da kelly.

Percebo que André continua mantendo a segurança de Dona Carolina, não sei se ele pensa que ela pode surtar e querer me bater a qualquer momento, ou se ele tem medo de que ela possa se desequilibrar a qualquer novidade que possa surgir, seu olhar demonstra incerteza, apesar de parecer que sua felicidade e genuína.

Sento em uma das poltronas ali perto onde dona Carolina e André esperam pelas notícias. Quando escuto a voz de minha irmã.

— Uma moeda pelos seus pensamentos. — ela diz, se sentando ao meu lado.

— Será que serei suficiente? — pergunto a ela, desviando meu olhar, sem querer encarar seus olhos, com certeza  ha algumas semanas sua resposta seria  não sem pensar duas vezes. Mas agora sinto que as coisas possam ter mudado um pouco. Na verdade eu acho que minha mente precisa acreditar nisso, como se pudesse encontrar algum alívio para todos os sentimentos ruins que insistem em me perturbar.

— Não posso te responder isso. Porque quem vai poder te responder essa pergunta é o meu sobrinho. — ela fala sem olhar nos meus olhos.

Consegui perceber seu olhar distante quando ela diz aquilo. Talvez esse momento a tenha lembrado de nosso pai, da falta de contato com ele e do porque ela nunca tê-lo conhecido.

— Eu realmente não deveria estar aqui Kath — eu digo abaixando o meu olhar, me sentindo cansado.

Novamente começo a pensar em tudo o que eu tinha causado. Kelly e Matheus podem ter sido uma bênção em minha vida, mas isso não significa que eu sou digno de estar vivendo essa alegria. Eu realmente não sei o que pensar. Sinto calafrios, minha boca secar, minhas mãos suarem ao pensar que deveria fugir daqui o mais rápido possível.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora