Capítulo 19

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Daniel

Eu passei os últimos três dias no hospital, em observação. Ao cair da cadeira o tombo foi mais forte do que é o comum e eu quebrei uma costela, por isso precisei de maiores cuidados.

Agora eu recebi alta e finalmente estou indo para casa com a minha mãe e Katherine.

— Pronto para ir para casa meu filho? Minha mãe diz me olhando da porta. Vejo as suas expressões mais leves, o alívio presente em seu rosto.

Apenas afirmo em resposta. Ainda estava com medo de me mexer demais, falar demais e sentir dor. Olho minha mãe mais uma vez, com medo de contar para ela quem é a Kelly.

Não consigo me imaginar contando isso para ela ou para a Kath, logo agora que ela parece querer se aproximar.

— Está tudo bem? Sente muita dor? — Ela me pergunta enquanto se aproxima para acariciar em meus cabelos.

Afirmo mais uma vez, fechando os olhos para aproveitar seu contato. Minha vontade é contar tudo e o mais rápido possível. Depois do que aconteceu, prometi não lhe esconder mais nada. Só que, dessa vez, é muito delicado.

— Mãe, senta aqui por favor?

A coragem me vem momentaneamente. Sinto a dor mais forte a cada palavra que eu pronuncio. Meu Deus, eu não posso chorar ou essa dor será insuportável, a dor física e da alma.

Minha mãe senta na cama, ao meu lado. Seus olhos voltam a ficar apreensivos, como se ela tivesse medo do que eu posso dizer.

Sua mão busca a minha, procurando me dar apoio. Respiro fundo, mas a pontada me atinge forte e eu faço uma careta antes de continuar

Decido que preciso ser forte e falar tudo de uma vez. Sinto as lágrimas querendo vir com tudo pelos meus olhos, busco contê-las a qualquer custo.

— Bom mãe, eu descobri uma coisa terrível para mim. A Kelly é a mesma Kelly de dez anos atrás... — deixo espaçar o suspiro de angústia ao remoer toda Aquela história. Mas preciso ser forte, tenho que falar — A garotinha da praça.. A garotinha a quem eu fiz tanto mal..

Não consigo conter as lágrimas e com elas vem a dor praticamente insuportável. A sensação que tenho é que vou desmaiar de tanta dor.

Minha mãe arregala os olhos, mas busca conter suas expressões assim que percebe o meu estado.

— Oh meu Deus, eu sinto tanto meu amor. Você já passou por muito sofrimento, não merecia isso! — Ela aperta a minha mão e mantém os carinhos pelo meu corpo. Eu a aperto também tentando encontrar uma forma que substitua o abraço.

— Não sofri o suficiente, mãe. Você precisava ver o ódio nos olhos dela. Ali eu vi que eu sofri pouco, que mereço mais. Essa costela não é nada perto do que mereço. — Digo, deixando que as lágrimas saiam de vez.

— Não Daniel, isso não é verdade. Quando aconteceu tudo aquilo eu senti uma dor enorme. Parecia que o meu mundo ia acabar, mas mesmo com tanta dor e não querendo acreditar em tudo aquilo, eu sabia que você tinha que pagar pelo que fez. Por isso te fiz desistir de fugir, fui com você para a delegacia. — Seus dedos passam outra vez por meus cabelos enquanto ela fala tentando se conter também — Mas agora eu acho demais. Você se tornou uma pessoa maravilhosa, que sofreu por todo esse tempo e agora vem isso. Não é justo!

Ela começa a chorar, beijando o meu rosto.

— Não chora, mãe. Por favor! Eu prometi que nunca te faria chorar novamente. — Digo sentindo a dor aumentar por conta da minha respiração acelerada.

— Eu não estou chorando por sua causa Daniel, eu estou chorando por causa das consequências da sua vida. É diferente. Por favor, não se martirize tanto. Saiba que eu sempre estarei com você. Sempre.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora