1 mês depois.
Daniel.
Não sei como descrever em palavras o real significado do dia de hoje para mim, mas vou tentar descrevê-lo em duas palavras: Feliz ou decisivo, talvez.
Hoje eu consegui marcar um encontro a sós com Kelly. Não é um encontro para a reconciliação do casal impossível, infelizmente. Mas iremos nos encontrar pelo único motivo que temos em comum. Nosso filho.
Tenho tentado esse contato por diversas semanas, mas ela não aceitava. Pedia para minha mãe interceder, mas ela também não me falava nada. Tenho quase certeza que as duas estão em contato. No entanto, ninguém quer me confirmar.
Então eu apenas espero a boa vontade de Kelly, querer me encontrar para ter notícias do meu bebê. Tenho que aproveitar ao máximo.
Enfim, ontem ela resolveu me responder dizendo que se encontraria comigo, mas com duas condições: que fosse rápido e que fosse em um local público. Até pensei em discutir sobre a primeira condição alegando que é impossível ter uma conversa rápida sobre um assunto tão importante, mas resolvi não me opor já que isso é melhor do que nada.
Visto uma roupa mais informal e decido ir caminhando até a rua da casa da Kelly, onde será o nosso ponto de encontro. Assim tenho mais tempo para refletir e decidir quais as melhores palavras para usar a fim de que possamos nos entender o melhor possível. Assim que chego na rua da casa dela, Kelly já está me esperando logo na esquina. O movimento está bem fraco, quase nenhum carro passa por ali no momento, o que faz com que eu chegue até ela rapidamente.
Eu me aproximo devagar parando logo a sua frente mas tomo o cuidado de manter uma certa distância entre nós.
— Oi, Kelly. Espero não ter demorado muito. Tudo bem com vocês? — Pergunto apontando para sua barriga que agora está bem aparente, deixando Kelly ainda mais linda.
— Tudo ótimo. — Ela diz cruzando os braços como se quisesse se proteger de algo. O gesto deixa sua barriga mais evidente ainda o que aumenta minha vontade de tocá-la. Sua voz traz um pouco de chateação e eu ainda não sei se é pela minha presença ou se algo mais está acontecendo.
— Tem certeza? — Pergunto, analisando-a. — Parece que tem algo te incomodando.
— Me desculpa, mas isso não é da sua conta. No entanto, você é uma coisa que me incomoda bastante e.. bom, vamos ao que interessa. É o nosso filho que te fez insistir nesse encontro não é? — Ela fala firme parecendo querer me alfinetar. — Devo te dizer que a minha posição sobre isso continua a mesma, enquanto ele estiver dentro de mim é como se fosse só meu.
— Você não está cooperando, Kelly. — Digo tentando lhe mostrar minha chateação. — Quero ter notícias do meu filho e estou sendo privado disso. Digo baixo, me sentindo cansado.
— Olha eu até acho que eu sou bem generosa em estar aqui, conversando com você. Será que você realmente já se pôs no meu lugar ao menos uma vez? Por um acaso imagina como seria ter tanto contato com o meu estuprador? Kelly quase grita, quase sem me olhar.
— Mesmo depois de tanto tempo? Mesmo sendo por algo maior? Eu só quero acompanhar o crescimento de nosso filho, saber o sexo, comprar presentes, acompanhar as consultas...
— Daniel, deixa eu tentar te explicar uma coisa. Quando se é estuprada é como se o tempo não existisse, sabe? Talvez se eu conseguisse perdoar, aí sim o tempo poderia agir ao meu favor e ao seu. Mas eu não consigo. Acho que nunca vou conseguir. — Ela diz me olhando nos olhos. Seus olhos enchem d'água, mas ela respira fundo e continua me encarando.
— Não quero comparar sua dor com a minha, mas para mim não é fácil também. Tantos anos tentando tirar a culpa, tentando esquecer o que fiz e as consequências que existiram. Agora a falta de acompanhar esse processo da gravidez me faz mal. Vou acabar enlouquecendo. — Desvio o olhar dela, passando as mãos em meus cabelos.
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Marcas do Passado
AcakDaniel e Kelly, dois corações machucados e marcados para sempre pelo passado de cada um. Será que o amor pode uni-los e cicatrizar as marcas que o passado deixou? Venha ler e embarcar nessa história com muito drama e romance. **** Atenção, essa hist...