Capítulo 57

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Kelly.

Daniel está dormindo pesadamente no sofá e Matheus também dorme no carrinho. Eu nem sei descrever o que estou sentindo agora. Eu deveria estar com medo por Daniel estar tão perto de mim? Minha mãe com certeza diria que sim e surtaria se estivesse aqui e visse essa cena, mas o estranho é que eu não me sinto mais assim tão desconfortável. A verdade é que Daniel deixa tão claro que ele não me faria nada que é praticamente impossível manter o medo presente por muito tempo. Ou talvez eu esteja com algum tipo de problema em não estar vendo maldade nele? Será que eu preciso urgentemente tratar isso? Caramba Kelly para de paranoia, assim eu até pareço o Daniel.

Decido deixar meus pensamentos de lado e pego meu celular para ligar pra dona Kátia. Ela atende no terceiro toque.

— Oi Kelly, soube algo do Daniel? Consigo ver apreensão em sua voz, mesmo que ela tente se manter contida.

— Sim. Ele está aqui comigo, não se preocupe ok? Respondo no tom mais calmo que consigo.

— Ah que bom, mas tá tudo bem?

Fico em dúvida se devo contar a ela  como ele realmente está, já que Daniel me pediu que eu não dissesse nada sobre o seu estado a fim de que ela não se preocupasse com ele,  mas decido que certamente e melhor dizer a verdade, mas vou tentar falar de um jeito que não a preocupe, como Daniel queria.

— Bom, ele chegou aqui muito bêbado. Eu tenho certeza que aconteceu algo muito sério porque ele me pareceu muito perdido, mas eu não sei o que aconteceu ainda, pois ele nem bem chegou e já dormiu assim que ele se deitou no sofá e continua dormindo até agora.

Ouço dona Kátia respirar fundo antes de me responder.

— Você quer que eu vá aí para trazer ele pra casa? Eu estou desocupada agora, eu posso ir aí.

— Não, realmente não é preciso, nós estamos bem dona Kátia. Assim que ele acordar eu peço pra ele ir ver vocês, não se preocupa, tá tudo bem. Afirmo novamente para tranquiliza-la, pois imagino exatamente o que ela está pensando agora.

— Certo querida, muito obrigada por avisar e qualquer coisa é só me ligar ok?

— Pode deixar, pode ficar tranquila, um beijão.

S— Um beijo pra você também, até logo.

— Até. Ela desliga assim que termino de falar.

Aproveito que está tudo tranquilo já que meu filho está dormindo e vou até a cozinha, retiro a mesa do café de mais cedo e deixo na pia, eu posso lavar isso depois, agora eu só preciso dormir nem que seja só um pouquinho, o fato de não ter dormido absolutamente nada na noite anterior me deixou exausta.

Fecho a casa e volto para a sala, pego Matheus do carrinho o mais devagar que consigo para que ele não acorde, quase comemoro com pulinhos quando consigo entrar em meu quarto e colocar ele na cama sem acorda-lo. Me deito ao seu lado e não demora muito para que eu seja vencida pelo sono.

****

Acordo com o choro de Matheus e um cheiro maravilhoso de comida que invade minhas narinas e me faz perceber o quanto estou com fome, porque eu juro que estou salivando neste exato momento. Será que é a maldita vizinha que está mais uma vez fazendo essa maldade comigo? Sim, eu tenho uma linda vizinha que ama cozinhar e o cheiro da comida dela vem aqui. Eu tambem juro que um dia vou lá na casa dela bem no horário do almoço só pra constatar se a comida é tão boa quanto o cheiro que chega aqui em casa.

Me perco tanto em meus pensamentos que até me esqueço que meu filho está chorando desesperadamente ao meu lado. Droga, que mãe desnaturada que eu sou.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora