Capítulo 41

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Daniel

Escuto burburinhos que não consigo decifrar. Tudo é muito confuso em minha cabeça, eu não consigo sequer manter um pensamento coerente por muito tempo
.
Sinto o calor em minha mão, como se ela fosse segurada por outra. Tento abrir os olhos com toda a força de vontade que a minha mente consegue ter e a mão ainda está aqui, mas meus olhos falham ao comando e não consigo abrir, não consigo mostrar que estou acordado.

O suspirar chama minha atenção e apuro meus ouvidos para tentar descobrir quem está comigo.

  Forço meu corpo em outra tentativa de movimento. Quero apertar a mão que me segura, mas não sei se consegui por a força que eu gostaria nela.

"Droga, quem será que está comigo? Será minha mãe, ou quem sabe por um milagre Katherine".

É nesse momento que eu penso que a minha memória está em ordem e todas as minhas últimas lembranças vem em minha mente com força.

O encontro com Kelly, a discussão e o atropelamento.

"Meu deus, será que Kelly ficou bem?".

Pensar nisso faz com que meus sentimentos fiquem mais rápidos e o alerta me impulsiona a tentar mais uma vez abrir os olhos.

Novamente tento apertar a mão que me segura esperando que a pessoa sinta que estou aqui. Os barulhos ao meu redor se tornam nítidos e eu consigo sentir a agitação no quarto.

Ainda assim, não consigo apertar a mão que me segura, mas a pessoa se agita.

— Daniel? — Ouço a voz de Kelly preencher todo o espaço.

Eu não entendo se isso me acalma ou me agita mais. A segunda opção parece ser a mais certa, pois sinto meu peito explodir e os bipes aumentam com essa sensação.

"Estou em um hospital?"

— Daniel. Está acordando. — Sua mão sobe pelo meu braço a agitação me domina. — Que não seja um alarme falso..

Tenho tempo de ouvir seu sussurro antes do barulho aumentar no quarto. Pessoas entram conversando comigo e com Kelly. Eu não entendo nada além do meu nome e do dela.

Sinto toques e até mesmo olhares em mim. Alguém abre um dos meus olhos e eu consigo ver a luz que jogam neles.

Essa luz repentina faz com que meus olhos pisquem algumas vezes e eu sinto como se aquela luz me incomodasse e me irritasse muito.

— Sim, ele está consciente. Os olhos dele estão mexendo da forma característica de consciência. Mas pelo visto ele não está conseguindo se expressar, o que é preocupante.

Ao ouvir aquelas palavras eu sinto a agonia crescendo ainda mais dentro de mim.

— Eu... Sim... Acordado… Acho. — Sinto uma extrema dificuldade ao pronunciar as palavras que não tenho certeza se elas foram ouvidas por alguém ali.

— Oh, meu Deus! — A voz de Kelly sobressai em meio à confusão de médicos.

Abro os olhos lentamente, me incomodando com a luz e tento responder as perguntas de forma automática. Meu nome, o nome de minha mãe, quantos anos eu tenho, em que ano estamos.

Depois de algumas falhas eu finalmente respondo sem dificuldade, sem hesitar, enquanto meus olhos procuram por ela. Fora da agonia, em um canto do quarto, encolhida com os olhos arregalados e um sorriso começando a surgir.

É assim que encontro Kelly. As mãos se contorcendo em ansiedade e a barriga sobressalente, linda como sempre. Sorrio para ela, me distraindo das perguntas por um momento.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora