Capítulo 15

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Kelly

Eu estou nou no meu trabalho, mas a última coisa que consigo fazer agora é trabalhar. Com todas as coisas que estão acontecendo nos últimos dias está difícil de me concentrar. Sinto que só o meu corpo está aqui. A minha mente está na pessoa que se encontra na sala ao lado. Está em Daniel.

Desde o dia do almoço no domingo o clima entre a gente mudou. Há algo de muito errado acontecendo e eu preciso muito saber o que é. Não entendi até agora porque ele ficou tão diferente depois que viu a minha mãe naquele dia. Achei que ele iria desmaiar naquela hora, mas por quê?

Dias se passaram e ele não consegue nem me olhar direito. Sua expressão sempre fechada, evitando meus beijos e meu toque, me afastando cada vez mais. Não consigo evitar a ansiedade que me toma. A vontade de resolver de uma vez por todas esse desentendimento.

Preciso entender isso, ajudá-lo no que eu puder. Não posso esperar mais. Aproveito que está quase no horário do almoço e não há nada marcado para agora para esclarecer logo tudo de uma vez por todas. Tranco a porta da recepção e vou até a sala de Daniel. Eu bato na porta devagar.

— posso entrar? — Eu pergunto ansiosa, sentindo o meu coração batendo forte.

Daniel responde algo que não entendo, mas considero com um sim. Abro a porta e o encontro focado no computador. A mesma expressão das últimas semanas; ombros baixos, olhos cansados, testa franzidas. Seu foco não sai do computador à sua frente e eu aproveito para me aproximar.

Paro atrás de sua cadeira e começo a massagear seus ombros, em uma tentativa de fazê-lo relaxar.

— Dan... — Falo, mas não sei por onde começar.

— Oi, pode falar. — Ele diz sem se virar para mim, inclinando o seu corpo para frente, querendo me afastar do seu corpo.

— Dan... — Tento mais uma vez puxá-lo para mim, descendo minhas mãos pelo seu peito. — O que está acontecendo?

Pergunto quando beijo seu pescoço e seu rosto em seguida.

— Tantas coisas. Eu sou um desgraçado, que será um infeliz para sempre, e mereço isso. — Ele fala deixando o computador de lado e chorando compulsivamente.

Me assusto com sua mudança repentina, mas continuo abraçada à ele. Olho seu rosto de lado, toda a tensão do mundo parece se acumular nele.

— Não diz isso, Dan. Ninguém merece ser infeliz para sempre. — Digo e beijo seu rosto novamente, enxugando algumas lágrimas com a mão. — Por favor, me conta o que aconteceu. Foi algo que eu fiz? Não me afasta de você...

— Digo porque é verdade. Não me abrace, nem me beije. Você não vai querer sentir o meu cheiro em seu corpo quando souber de tudo. Eu só quero que em algum lugar dentro do seu coração fique gravado que eu te amo, com toda a minha alma e sempre será assim. Eu sempre vou te amar Kelly.

Permaneço sem entender, mas paralisada por suas palavras. Meu estômago revira e eu sinto um enjoo forte tomar conta de mim. O que ele quer dizer com isso?

— O que aconteceu, Daniel? — Pergunto ainda abraçada à ele, sem ter forças para me afastar. Sem querer de verdade ouvir o que houve

— A praça, a boneca, a casa enorme e o quarto de brinquedos. Lembra? Era eu. Eu juro que não sabia quando te conheci, eu tive a impressão que te conhecia, mas eu não te reconheci. Só soube quando reconheci sua mãe no almoço. Eu não vou me justificar. Nada que eu disser fará isso.

Sinto meus braços mole, assim como todo o meu corpo. Não posso ter escutado isso.. é loucura de minha cabeça. Tudo ao redor gira e eu tento compreender o que está acontecendo, o que meus ouvidos pensam ter ouvido.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora