Duas semanas depois.
Daniel
Eu me sinto, realmente, nervoso. Saí do escritório mais cedo e decidi andar de carro dando voltas e mais voltas. Espero até o momento em que eu sinta a coragem que preciso, para dirigir por mais uma quadra até o lugar onde tenho que estar daqui a meia hora.
Estaciono o carro e olho mais uma vez todas as notificações do celular. Nada de novo.
Nada que prenda minha atenção ou me tire desse estado de agonia. Eu, realmente, deveria me esforçar um pouco e seguir por mais uma quadra.
Mexo e remexo algumas vezes as minhas próprias mãos enquanto continuo tentando me distrair com algo e penso no que vou dizer quando chegar lá. No que podem me perguntar.
"Será que me sentirei confortável? Será que o desastre que eu já imaginei inúmeras vezes em minha mente irá assustá-los?"
Olho novamente para a rua e resolvo dar a partida no carro para voltar a dirigir. Dessa vez, não vou virar à direita e sim continuar em frente. Vou chegar na próxima quadra, parar o carro no estacionamento do prédio, pegar o elevador e chegar ao consultório.
Enquanto dirijo penso em voltar para casa e não ter essa consulta. Sei que qualquer pessoa pensaria que estou exagerando e fazendo drama com todo esse medo, mas não estou. Ninguém sabe como é, falar abertamente sobre os demônios internos.
É difícil para mim. Eu nunca consegui falar muito do que sinto, nem mesmo com minha mãe.
Forçando a determinação eu consigo estacionar o carro no consultório, caminhar até a entrada, pegar o elevador rumo ao oitavo andar onde estará a sala do Dr Alexandre Alencar, psiquiatra e amigo de minha mãe.
O tempo que espero na recepção mais parece uma eternidade. Minhas mãos começam a suar e eu tenho uma vontade louca de levantar e ir embora.
Depois de muito tempo, ouço o meu nome ser chamado. Me levanto, cogitando ir para a saída, mas caminho devagar até o homem que me espera na porta de uma sala mais a minha frente.
Quando chego ele me dá passagem para que eu entre e fecha a porta assim que estou do lado de dentro.
Ele se senta em uma pequena poltrona aveludada na sala e me indica o acento semelhante ao seu lado, que é separado apenas pela mesa de centro.
— Sinta-se à vontade, Daniel. Pode se sentar aqui ou no divã. Meu nome é Alexandre Alencar e sou psiquiatra há 15 anos. É um prazer te conhecer. Quero e espero muito que possamos ser amigos. — Ele lança um sorriso simpático para mim. Bem que as pessoas falam que psiquiatras e psicólogos tem o dom de te fazer se sentir mais à vontade só pelo tom da voz e a forma de falar.
— Eu também espero — Sussurro olhando ao redor como uma forma de reconhecer o ambiente. — Eu não sei bem como começar..
Me mexo na cadeira tentando achar um conforto para minha agonia.
— Bom, comece tentando me explicar o motivo que te trouxe até aqui. As pessoas só costumam procurar ajuda quando não estão conseguindo lidar com os seus problemas sozinhas. Então, suponho que sua mente já não consegue, estou certo?
Me seguro para não gargalhar com a pergunta. Não conseguir lidar com os meus problemas é o que me define.
— Não consigo lidar mesmo. Eu não sei como explicar o que sinto e quais os motivos dos problemas.
— Tudo aquilo que não conseguimos lidar tem uma causa, um motivo. Há sempre algo que machucou ou machuca muito nossa mente, ao ponto da razão não saber o que fazer e não encontra uma solução
s. Então, vamos tentar descobrir os seus motivos juntos. Você não está indo bem profissionalmente? Tem algum problema na sua família ou é algum trauma do passado que voltou com tudo agora?
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Marcas do Passado
عشوائيDaniel e Kelly, dois corações machucados e marcados para sempre pelo passado de cada um. Será que o amor pode uni-los e cicatrizar as marcas que o passado deixou? Venha ler e embarcar nessa história com muito drama e romance. **** Atenção, essa hist...