Marcas do Passado

Capítulo 13

Daniel

Assim que paro o meu carro em frente ao endereço que a Kelly me deu no dia anterior, não consigo deixar de observar a fachada da casa aparentemente pequena, o portão velho rosa e todo o resto ao redor.

Percebo o quanto somos diferentes. Tivemos vidas diferentes, mas ao mesmo tempo isso é o que nos completa e faz a nossa relação evoluir mais a cada dia.

Enquanto eu passei a maior parte da minha vida sendo um cara fechado e sempre sério, Kelly é mais extrovertida, natural e sempre com um sorriso no rosto mesmo com todas as dificuldades. Isso me faz pensar que nunca aproveitei de verdade as condições boas que a vida meu deu e também nunca canalizei para algo de bom.

Kelly possui uma vida simples e ainda assim não escuto uma reclamação vinda dela. Parece sempre tão grata por estar trabalhando que eu evito até exigir mais do que o necessário dela, profissionalmente falando.

Eu, aqui do outro lado, sinto vontade de reclamar de tudo todos os dias. Não sinto disposição de fazer minhas atividades, mas acabo por vencer meu cansaço mental e emocional e me obrigo a fazer tudo que tenho que fazer todos os dias. Sinto que tem ficado cada vez mais fácil desde quando Kelly entrou pela porta de meu escritório.

Lembro sempre dos seus sorrisos de olhos brilhantes, do profissionalismo ao me tratar formalmente dentro do escritório, das gargalhadas gostosas durante nossos almoços na copa, dos conselhos que ela me deu e tudo de bom que fazíamos lá.

Nunca entendia porque a sua expressão se modificava de repente, passava de um sorriso enorme para olhos tristes e distantes em questão de segundos. Até ontem, quando ela me contou tudo de ruim que aconteceu com ela, quando ela me disse com a expressão perdida que foi estuprada. Fico imaginando o que ela teria sentido, se o idiota que tinha a machucado muito, o quanto ela deve ter sofrido durante aquele ato. Pensar nessas coisas me causa calafrios, uma sensação ruim me invade.

Prefiro evitar esses pensamentos que já estão me causando até um mal estar. Decido descer do carro e enfrentar logo isso. Droga, pareço um adolescente nervoso. Caminho até a porta e finalmente aperto a campainha.

Espero alguns instantes, sentindo meu corpo esquentar com o nervoso que sinto. Quando estou prestes a apertar o botão novamente, a porta se entreabre revelando o meu olhar preferido nos últimos tempos.

Kelly sorri tímida, abrindo mais a porta e desviando os olhos para dentro da casa. Me convidando silenciosamente. Entro como se um imã me atraísse. Não consigo olhar nada além do seu rosto sorridente. Ela fecha a porta, sem desviar os olhos de mim.

— Minha mãe ainda está no banho. — Ela fala baixo. — Terminamos o almoço tem pouco tempo. Admito que nos empolgamos.

Não consigo conter meu corpo. Isso sempre acontece quando estou perto dela.

Me aproximo lentamente, ainda focado em seus olhos. Envolvo sua cintura com meus braços e ela quebra nosso contato visual quando deita a cabeça em meu peito, aceitando o contato.

Seu calor me contagia de uma forma maravilhosa. Ela se afasta minimamente apenas para me encarar. Seus lábios se esticam em mais um sorriso, dessa vez sem mostrar os dentes.

Ela fica na ponta dos pés e aproxima seus lábios dos meus. Sua maciez me atinge de forma carinhosa. Seu beijo é lento e delicioso. Ela estimula o que há de melhor em mim, meu lado mais generoso de homem gentil.

Eu nunca a forçaria a fazer nada, nem mesmo um beijo. Eu sempre espero ansioso que seus lábios me procurem e me sinto extasiado quando isso acontece.

Peço passagem, de forma temerosa, com medo de que ela se afaste no mínimo erro que eu cometa. Ela cede, entreabrindo os lábios me deixando mais quente e ansioso. Sentir seu gosto é a melhor coisa que pode acontecer. Eu preciso desesperadamente achar formas de fazê-la me beijar mais vezes.