Capítulo 2

1.6K 422 4.4K
                                    

Marília, segunda semana de junho de 2018.

Daniel

Chego ao escritório bem cedo, o mais cedo que consigo. Preciso organizar tantas coisas que não sei como dar conta. Por sorte minha, a secretária aceitou vir antes do início do contrato para me ajudar nessa organização. É óbvio que vou dar um adicional para cobrir suas horas gastas aqui.

Assim que abro a porta, me deparo com tudo vazio. Não pensei nem em trazer um banco para esperar que tudo chegue. Abro todas as janelas e fito o horizonte, o mar de prédios e casas que me traz uma nostalgia imensa por voltar ao interior depois de rodar por tantos países diferentes. Mas não se pode negar o pedido de uma mãe, eu não tive coragem.

O interfone toca, me tirando dos devaneios. Imploro que tudo chegue de forma tão pontual quanto esse primeiro entregador e que eu sobreviva até às oito, o horário que combinei com a secretária.

— Senhor Daniel, chegaram alguns móveis e o montador veio junto.

— Pode mandar subir. Tenho muitas entregas hoje e algumas pessoas vão aparecer para realizar algum tipo de serviço, mandei uma lista por email ontem. Por favor, confira direitinho as pessoas que entrarem e pode insistir no interfone quando houver alguém fora da lista. Não mande subir sem meu conhecimento, ok?

— Sim, senhor!

— Obrigado

Desligo o interfone e abro as portas para que os entregadores entrem sem precisar tocar campainha alguma. Não escolhi esse prédio à toa, é o mais caro da cidade e espero não me decepcionar com a segurança.

— Bom dia, doutor!

— Bom dia. Pode ir montando os móveis onde der, ainda vão chegar as divisórias, depois disso eu distribuo melhor a organização.

— Sim, senhor.

Deixo eles cuidando das grandes caixas de móveis e volto a olhar pela janela. Sem tempo algum para me perder pela paisagem, pois logo chegam mais entregas. São cadeiras, armários, materiais de papelaria, instalação de telefone e internet, câmeras de segurança.

Tento ao mínimo organizar tudo da melhor forma possível, mas estou a ponto de enlouquecer dentro daquela sala antes tão quieta e vazia e agora barulhenta e cheia de pessoas andando de um lado para o outro.

Libero os entregadores das divisórias e tento organizar o fluxo de pessoas na sala.

— Esses materiais de escritório, você pode deixar aqui perto das mesas. Minha secretária está vindo me ajudar e esse serviço mais leve pode ficar com ela. — Falo do meio da sala para os entregadores da papelaria. Torço internamente para que a moça chegue logo.

— Eu sou forte o bastante para ajudar a arrastar alguns móveis também. — Escuto uma voz feminina falar da porta. — Bom dia à todos.

Um sorriso me invade involuntariamente e me viro na mesma hora, se for ela mesmo sou capaz de lhe beijar infinitamente em agradecimento. Tudo muda quando encontro seus olhos sorridentes, algo se revira dentro de mim e eu não sei o que é. Ela é muito bonita e muito mais nova do que imaginei, mas há algo nesses olhos sorridentes que me alertam perigo. Seu sorriso aumenta junto com meus alertas internos. Meus pensamentos são interrompidos pelo mensageiro do prédio.

— Seu Daniel, aqui estão os cartões de acesso da portaria de todos os funcionários, para evitar ficar pedindo autorização na recepção. — André entra sem cumprimentar a moça, já é a terceira vez que ele vem aqui, deve ter achado que já a viu antes. Ele me entrega os envelopes que eu havia solicitado. — Aqui dentro tem as chaves da caixa de correspondência...

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora