1

16.6K 788 61
                                    

LAURA

Laura: Porra, eu já disse que não. — virei as costas e ele segurou forte em meu braço.

JH: Tu não tá me entendendo não? Eu vou te matar se você tirar esse filho, matar. — me empurrou e eu bati com as costas no portão.

Laura: Eu não tenho medo disso... — respirei fundo. — VAI TOMAR NO CU! — gritei sem pensar. Ele virou imediatamente, me dando um tapa estalado no rosto, senti o mesmo queimar, meus olhos marejaram, mas segurei as lágrimas.

JH: Não se manda sujeito homem tomar no cu, tá de marola? — me empurrou e saiu.

Virei as costas e entrei pra casa chorando. Eu não sabia mais o que fazer, estava a ponto de tomar a pior decisão da minha vida, ou a melhor, nunca se sabe.

Meu nome é Laura, tenho 18 anos, moro na Formiga desde os 10, quando perdi a minha mãe e viemos (eu e meu irmão) morar com meu pai, minha madrasta e os filhos dela. Como podemos perceber, a minha vida é uma merda. E eu vou contar um pouco dela pra vocês....

Sou a filha mais nova de uma mãe abandonada pela família e pelo marido, tenho um irmão, o Roger, que é 2 anos mais velho que eu. Morávamos só os 3, e eu tive de amadurecer muito cedo, porque precisávamos cuidar um do outro. Minha mãe saia pra trabalhar, e muitas vezes dobrava, ou seja, era o dia inteiro fora de casa, íamos e voltávamos da escola sozinhos e tinha uma vizinha que passava o olho na gente às vezes. Meu pai saiu de casa quando eu tinha 6, 7 anos, ele aparecia muito raramente, dava um qualquer e sumia no globo, minha mãe nunca fez questão de nada e vivemos assim, até o pior dia das nossas vidas.

Todo mundo sabe que quem mora em comunidade dorme e acorda rezando pra não morrer, principalmente quando o caveirão sobe. Primeiro vem o tiro, depois as perguntas. E foi assim que perdi a mulher da minha vida, vítima de um tiro nas costas, quando chegava do trabalho. Graças a Deus (ou não), eu lembro de poucas coisas em relação a esse dia.

Depois disso, o meu inferno começou. Saí da Vila Cruzeiro, lugar onde cresci, pra ir morar com meu pai, pois eu não tinha mais ninguém no mundo, éramos só eu e o Roger, eu com 10 e ele com 12.

Lembro perfeitamente de como foi a nossa recepção na casa da Kátia, e de coração, eu preferia ter ficado sozinha na outra casa. Ela não nos aceitava de jeito nenhum, e quando meu pai saia pros corres dele, as coisas pioravam. Cansamos de apanhar pra ela sem motivo, passamos dias com fome e se contássemos pro meu pai, apanharíamos mais no dia seguinte.

Muito sofrimento até hoje, coisas absurdas que passamos, e eu ainda passo. Ano passado, meu irmão voltou pra Vila, se envolveu e eu morro de medo de perdê-lo, mas diante de tudo que nos aconteceu, poucas coisas nessa vida nos restaram.

Eu trabalho como manicure desde os 14, hoje trabalho fixa em um salão aqui do morro e faço uns extras a domicílio. To juntando uma grana pra sumir daqui, já não aguento mais.

Não tenho muitas amigas, só um ou duas, converso com as clientes e nada demais, sei os segredos de quase todo mundo nesse morro, incrível. Não vou pra baile, não costumo ir ao rodas de samba, nada vezes nada.

META
20 ⭐️ | 10 💬

ANDANÇAS - PARTE IOnde histórias criam vida. Descubra agora