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LAURA

📞 Laís 📞

"Alô."
"Oi Laura." — ela dizia em meio a soluços.
"Oi, o que houve? Tá precisando de alguma coisa?"
"Tô, to sim." — ficou em silêncio.
"Pode falar."
"Quero que você fique com a Joice pra você."
"Oi?"
"Eu não aguento mais, Laura. Eu não quero ter que abandonar a minha filha, eu não quero mais ela, eu não quero mais viver." — ela chorava muito e eu não sabia o que dizer.
"Calma aí, Laís. É sua filha, como isso? Por que isso?"
"Mesmo depois de muita luta o Marcos morreu... — respirou fundo, tentando conter os soluços — E uma parte minha também se foi. Sinto que eu não vou aguentar mais essa vida e se eu não tomar uma providência, algo vai acontecer com ela também e eu não quero."
"Laís, onde você tá?"
"Tô na porta do seu salão, vou deixar ela aqui, trouxe até os documentos."
"Não sai daí, eu to indo aí te encontrar."

—— fim da ligação ——

Voltei pra cozinha sem reação, o Boca me olhava assustado, meu coração parecia que ia sair pela boca.

Falei mais ou menos o que estava rolando e ele também ficou sem resposta. Só que como eu estava com medo do que ela poderia fazer, eu agi no impulso.

Peguei a chave do carro e saí de pijama mesmo, em dois tempos, eu estava lá. Encontrei a Laís sentada na porta do salão, abraçada nas pernas e a neném no bebê conforto ao lado. Desci do carro e fui de encontro a elas.

Laura: Oi... — disse me abaixando em sua frente — Vamos lá pro carro.

Laís: Não, leva só ela. — pegou o bebê conforto pra me entregar.

Laura: Não Laís, vem também. — segurei na mão dela, que se levantou comigo — Vamos lá pra casa, você janta e a gente conversa melhor. — ela assentiu e me seguiu.

Arrumei o bebê-conforto no carro e ele se sentou no carona, voltamos pra minha casa e eu a guiei até a cozinha.

Fiz um prato de comida pra ela, que se sentou à mesa e devorou aquilo. Sentei ao lado dela, tínhamos deixado o bebê na sala.

Laura: Tá mais calma? — fez que sim — Pode me contar o que houve? — ouvi de longe um chorinho começar, mas logo cessou.

Laís: Fica com ele, Laura. Fica com ela pra você.

Laura: Laís, não é assim que as coisas são.

Laís: Eu não vou durar muito tempo, eu não quero mais viver, eu não quero mais estar aqui sem o meu amor. Eu não tenho ninguém, sabia? A família dele me virou as costas, eu não tenho mãe, não tenho pai, não tenho ninguém por mim e não quero deixar a Joice assim também. — voltou a chorar — Você fica com ela? Por favor. Eu não vou ser uma boa mãe, eu não sou uma boa pessoa.

Laura: Mas é claro que é uma boa pessoa, Laís. Você lutou pela sua filha, pelo seu marido, pelo seu casamento. Isso não é ser uma boa pessoa? — ela só chorava — Você não pode largar as coisas assim, ela é sua filha, ela só tem a você.

Laís: Não, Laura. Ela tem só você! Eu já não existo mais....

Fiquei conversando com ela, até convencê-la a pensar melhor e não agir no calor da emoção. Botei-a pra tomar banho, enquanto o Boca ninava a Joice na sala, preparei um chá de camomila pra ela, que se deitou e ficou chorando ainda por algum tempo, segurando a minha mão.

ANDANÇAS - PARTE IOnde histórias criam vida. Descubra agora