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JOÃO HENRIQUE

Eu não sei mais o que tô fazendo com a minha vida, tá ligado? Fiquei com a Sheila na intenção da Laura me procurar, ficar puta, qualquer parada, mas ela fez totalmente o contrário. Tomou nojo da minha cara.

Sheila me fortalece, deu jeito na casa, deu jeito na minha vida. Mas a Kelly também é foda, cuida das crianças e dá pra eles o que eu não sou capaz de dar, tá ligado? Eu sou todo errado mesmo, todo revoltado e nem sei o motivo.

JH: Qual que é? — entrei na casa do meu pai.

Adolfo: Chega devagar, porra.

JH: Tem comida aí? — de um beijo na careca dele. — Benção.

Adolfo: Tu é um grande filho da puta, só aparece pra comer. Deus te abençoe, tua tia fez comida aí.

Fui pra cozinha e arrumei um prato regado, deixei as peças em cima da mesa e meu pai já logo me olhou, reprovando.

JH: Ah pai, pô.

Adolfo: Quer conversar agora ou depois de comer?

JH: Vai tontear? — dei uma garfada.

Adolfo: Vou falar contigo uma coisa séria e pela última vez.

JH: Fala, logo. — revirei o olho. De todas as pessoas no mundo, eu só conseguia escutar meu pai e a Laura, mesmo assim era mais ou menos, não levava tudo em consideração.

Adolfo: Você tá todo errado com os seus filhos e eu não admito essa porra, te deixei faltar alguma coisa? Não deixei né. Mesmo no tempo preso, dava meu jeito e a tua avó tava contigo. Tem que ver as crianças, dar moral pra única coisa que a gente leva pra sempre, o amor dos filhos. Tua mãe não soube dar pra você e nem pros outros filhos dela, mas tu me teve presente, não tá certo isso não. — falou a beça e já pesou na mente, olhou quase transbordou, meu pai não tem milindre, só dá o papo reto. — E outra, tua mãe tá doente.

JH: Caô. Tá com o que?

Adolfo: Alex disse que é câncer no estômago, e acho que você tinha que ir lá dar uma força.

JH: Vou lá, pai. Vou lá.

Terminei de comer, lavei a louça pro coroa, pinguei um pra ele e saí. Meu pai é foda demais, teve os erros dele, era envolvido também, pagou o que tinha pra pagar lá dentro, saiu de lá com tuberculose, quase morreu, nessa época eu já era bicho solto, envolvido dos pés à cabeça, sem promessa de volta.

Ele tentou me aconselhar, sempre tenta me tirar as ideia errada de cabeça, mas eu to sempre nem aí pra nada. Escuto essas paradas que ele fala, por respeito ao pai que ele é pra mim, sou filho único e sofri sozinho com ele. Pensa num coração bom? É o do meu pai.

JH: Vou na dona Katia, mais tarde to aí. — joguei a camisa no ombro, pulei na moto e guiei.

Passeei pelo morro e lembrei de tanta parada que vivi aqui, de quando conheci minha nega, das missão com os cara, tudo. Sinto falta pra caralho, mas tive que pular. Serviço é esse!

JH: Alex? — dei um grito quando entrei no quintal. Ele logo brotou, mancando um pouco.

Alex: Fala, meu filho. Chega aí. — cumprimentei ele e entrei.

JH: Cadê? Dá o papo, qual é a situação? — sentei no sofá.

Alex: Tua mãe tá lá dentro, deitada. — respirou fundo, sentou e escondeu a perna, quando percebeu que olhei. — Seus irmãos não param em casa, me ajudam em nada. Kamila tem 1 mês que não aparece aqui. Kézia tá morando com o namorado, e teu irmão tá por aí, né? Vem, come e sai. Tua mãe recebe a aposentadoria e é só isso que a gente tem pra viver, comprando remédio, levando pra quimioterapia, pagando conta e comprando comida. To parado pra cuidar dela, não tem ninguém pra ajudar.

ANDANÇAS - PARTE IOnde histórias criam vida. Descubra agora