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15 DIAS DEPOIS

A vida está normal, tudo acontecendo como tem que acontecer. Não é fácil terminar um relacionamento de três anos, mas eu sigo invicta.

Estou aqui no salão, que hoje tá com um movimento absurdo, são quase 21h e ainda tenho mais duas unhas pra fazer.

Meu telefone tocou, era dona Sônia.

📞 tia Sônia 📞

"Oi tia."
"Oi meu amor. Tudo bem?"
"Tudo sim, e com a senhora? O que manda?"
"Tô bem. O Wellerson perguntou se a Joice pode dormir aqui hoje."
"Pode, ué. Pode sim."
"Tá bom, minha filha. Obrigada."
"Obrigada você. Beijo"

——— fim da ligação ———

Desde que terminamos, não falo com ele. Tudo que preciso falar ou ele precisa, mandamos recado pela dona Sônia. Bem maduros, né? Mas acho que foi a nossa melhor decisão.

Nesse tempo que passo sozinha em casa, encarando nossos porta-retratos, e escutando o eco que os personagens das minhas séries fazem, eu tenho pensado muito em mim. Em viver pra mim.

Esses dias, a Kelly me mandou mensagem e no meio disso tudo, eu tinha até esquecido do pedido que ela me fez, o qual ainda não decidi.

Liara: LAURA? — deu um grito e eu voltei pra terra.

Laura: Oi menina. — todo mundo riu.

Liara: Tá em Nárnia? — rimos — Tem horário amanhã 9h?

Laura: Até tenho, mas só vou trabalhar depois de 12h, olha a hora que eu vou sair daqui hoje. — voltou a falar no telefone.

Liara: 15h tem vaga?

Laura: 15h30, tenho uma fibra de vidro 14h.

Liara: Ok.

Cheguei em casa morta, tomei um banho e pedi um lanche. Quando chegou, lembrei do Vagner, de quando ele vinha fazer minhas entregas e parecíamos dois adolescentes se paquerando. Bons tempos!

Devorei tudo, fiz minhas higienes e apaguei.

Laura: Boa tarde! Boa tarde! Boa tarde! — cheguei bem felizinha no salão.

Vanessa: Olha, esse salão não é o mesmo sem você. — me recebeu sorridente.

Liara: Vanessa e eu quase matamos uma hoje cedo. — falou baixo quando fui atrás do balcão deixar a bolsa.

Laura: Vocês estão muito estressadinhas. — ri e fui pra minha cadeira.

A cliente de 15h30, chegou às 16h e eu boladíssima já.

@: Boa tarde! — sentou na cadeira — Desculpa o atraso.

Laura: Boa tarde! — sorri amarelo.

Fiz a unha dela, e quando estava quase terminando.

@: Você é a mãe da filha do Boca, né? — arqueei a sobrancelha e confirmei com a cabeça — Você é muito bonita mesmo, do jeito que as pessoas dizem.

Laura: Obrigada! — Vanessa me olhava atenta.

Depois que a menina saiu, ficamos nos olhando, sem entender e sem tocar no assunto.

Juliana: Ou — chamou nossa atenção. Ela é uma das meninas novas que trabalham com a gente — Essa menina é irmã daquela Carla, enfermeira, que tem um cabelão, sabe qual?

Laura: Claro que eu sei. — bufei — Cuidou do meu digníssimo ex-marido quando ele tomou aquele tiro.

Vanessa: Vocês duvidam que tem coisa aí?

Laura: Claro que não. — falei puta — Ainda bem que a gente não fala nada demais quando tem cliente nova, né?

Liara: Pois é, essa mona nunca veio fazer unha aqui. Com certeza ela veio catar alguma coisa, mas saiu sem nada...

Laura: Saiu fodida, pra deixar de ser otária.

ANDANÇAS - PARTE IOnde histórias criam vida. Descubra agora