Capítulo 63

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Lindsay Philips

Quando a gente acha que toda dor se foi, que a pessoa que nos machucava não tem mais esse efeito sobre a gente, ela aparece e faz a gente reviver cada momento, cada minuto da dor. Eu cresci sem ter pais, posso afirmar isso com toda certeza por que é a verdade, eles nunca foram presentes na minha vida, se quer participaram do meu primeiro dente arrancado. Se participaram não me lembro.

Kenny veio ontem conversar com a gente, uma bela surpresa para todos nós. Meus irmãos por serem pequenos e inocentes aceitaram perdoa-lo. As palavras dele não pareceram mentira mas também não consigo perdoar ele de primeira. Eu por ser mais velha, tive mais momentos de saudade da atenção e presença dos meus pais, isso dói muito ainda.

Sabem o que é você sentir dor na escola e não ter pra quem ligar para pedir ajuda? E sua única opção ser pedir a um estranho ajuda? Ou sentir febre e não ter ninguém que você ama por perto pra cuidar de você e dizer que vai passar que é só uma virose ou algo do tipo?

Eu aprendi o que sei, ninguém me ensinou, não tive pais pra isso. Meus irmãos foram minha salvação em meio esse caos, por isso eu jamais quero se quer pensar em perder eles.

Eles são como o meu coração em mim.

— Ei princesa, você está bem? — Tay passa a mão em meu cabelo.

Eu assinto. Estamos na cozinha sentados na mesa tomando café, meus irmãos ainda dormem, eles estão felizes por terem perdoado o pai, estão preocupados comigo e estão se contendo, mas eu sei que estão felizes.

— Eu sei que não está, porém eu sei que você precisa pensar um pouco sobre tudo isso, só quero que saiba que estou do seu lado para o que der e vier, ok? — Segura a minha mão e assinto novamente segurando a vontade de chorar.

Sem Taylor eu também não conseguiria, ele tem sido minha base em todos os momentos.

— Eu te amo tanto. — Declaro observando cada pedacinho do seu rosto.

Ele sorrir sem mostrar os dentes e me puxa pra um abraço.

— Eu também te amo, meu amor. Isso tudo vai passar, você vai ver. — Beija o topo da minha cabeça e me acalmo mais.

Os pais de Taylor são um amor, eles foram tão amáveis e carinhosos comigo, eles foram tão atenciosos e sempre mostravam admiração por Taylor. Eu nunca tive isso e eu sempre via minhas colegas com seus pais, eu ia para o banheiro da escola e chorava, isso no início quando fui percebendo a ausência dos meus pais. Só que o passado atrapalhou tanto minha vida que já estou farta de sofrer por isso, não é algo que a gente acaba em um minuto, porém tomar atitude de não pensar nele já ajuda muito.

— Tay, me leva na mansão? — Peço suspirando triste.

Ele assente. Nos levantamos, mando mensagem para Clarisse vim ficar com os meninos, alguns minutos depois ela chega. Saio com Taylor de casa e vamos pro seu carro. Não estou bem pra dirigir.

— Você tem certeza? — Ele pergunta e assinto.

Tenho que me libertar, chega de viver sufocada de dor, não vai sumir de uma vez, mas vai amenizar o aperto e a mágoa. Não quero ser novamente a Lindsay de quando Taylor começou a trabalhar na mansão.

...

Estamos andando até a mansão e olho ao redor. Uma mansão que eu pensei que seria um sonho, se tornou algo sem valor e sufocante pra mim. Não me lembro de nenhum momento bom que me faça sorrir lembrando daqui. Foram poucos.

Chegamos em frente a mansão e entramos. mesmo que eu me sinta sem jeito hoje aqui, eu ainda posso entrar sem bater.

— Lindsay? — Alexandra me olha surpresa com Kenny ao seu lado com os olhos vermelhos.

Ele parecia estar chorando.

— Vou pra garagem, conversem. — Tay sussurra em meu ouvido e assinto.

Ele sai, ando até os dois sentados no sofá da sala.

— Eu preciso conversar com você. — Digo brincando com minhas mãos e me sento no sofá com eles.

Kenny suspira.

— Sim, pode dizer. — Ele diz.

Eu respiro fundo algumas vezes e então eu tomo a iniciativa. Chega de guardar dores Lindsay Philips.

— Depois que você saiu da minha casa, eu fiquei turbilhada de pensamentos e com uma dor no peito sem fim. Você disse tudo que queria e agora é a minha vez. — Um bolo se forma em minha garganta. — Eu realmente odeio você, não só você, a Reyler também, porém o sentimento que mais prevalece no meu coração não é o ódio, mas sim a mágoa. Quando criança que comecei a perceber a ausência de você e da Reyler, eu chorei tanto sozinha no banheiro da escola, só não transparecia pra ninguém porque eu queria ser forte. Meu primeiro dia na escola, fui sozinha, levada apenas por um motorista estranho que eu nem conhecia. Sorte minha que não era nenhum maníaco ou abusador de criancinhas. Ao longo que fui crescendo, veio várias situações de que eu precisava pelo menos ter noção de como eu devia agir, só que olha só, eu não tinha aprendido nada e não tinha ninguém pra ensinar isso. Eu passei vergonhas que me fez cada dia uma pessoa mais triste. Eu me sentia sozinha, até que fiz por um milagre Reyler me dá os meus bens preciosos, minha luz no fim do túnel, o Sebastian e a Amber. Eu não consigo não está ainda magoada com você, ou não sentir um pouco de ódio, mas eu estou disposta a aprender a conviver com isso da melhor forma, porque estou cansada disso tudo. Eu perdoo você Kenny, porém isso não que dizer que irei voltar a te amar, somente a te respeitar e ter um relacionamento estável sem problemas. — Limpo o meu rosto ao terminar.

Alexandra está emocionada e Kenny assente chorando muito.

— Obrigado! Muito obrigado! Isso me dá um alívio, prometo fazer o certo dessa vez. — Soluça e assinto.

Me levanto do sofá pronta pra chamar Taylor, mas sou interrompida.

— Lindsay? — Alexandra me chama e a olho. — Me perdoa também por tudo, não quero que meu filho nasça em meio esse clima e eu... — A interrompo.

Eu quero fazer tudo direito e isso que dizer perdoar ela também, apesar de seu único problema ter sido amante do Kenny.

— Eu te perdoo também Alexandra, a mesma coisa digo à você, não prometo uma amizade, porém respeitarei você. E quanto ao seu filho, eu não tenho nada contra ele, ele não tem culpa dos erros de ninguém. Só desejo saúde pra ele. — Digo sincera e Taylor volta da garagem.

O abraço forte. Isso tudo ainda mexe comigo, até porque como eu disse, esses sentimentos não vão passar em um minuto, mas com o tempo certo tudo se ajeita.

— Você é forte, te admiro por isso. — Ele sussurra em meu ouvido e assinto sorrindo fraco.

...

O Motorista Dos Meus Pais | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora