CATORZE

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ALERTA DE CONTEÚDO: SINTOMAS DE DOENÇAS MENTAIS NARRADOS.

Josh.

Consegui destrancar a porta da frente usando as duas mãos, liberando o acesso de Any para dentro da minha casa que não demonstrou se assustar com a minha fisionomia ao me ver afinal nós havíamos acabado de desligar de uma chamada de vídeo. Não deveria ter nenhuma diferença muito absurda.

— Se sente melhor? — ela tocou na minha testa como minha mãe faria e eu assenti com a cabeça tentando esconder minhas mãos ainda trêmulas atrás do corpo. — Você está muito gelado, seus lábios estão tremendo e sem cor então não adianta esconder as mãos.

Engoli seco pelo fato dela ser extremamente observadora mesmo que não aparentasse e a assisti se afastar um pouco de mim tirando sua mão da minha pele.

— Eu já consigo respirar um pouco. — falei com a voz um tanto ofegante e falha por conta da oxigenação insuficiente, na verdade o meu tom estava assim desde que ela havia chegado, mas agora ele parecia mais evidente.

— Você tem uma bombinha de asma? — ela perguntou e eu não pude conter a minha surpresa interior, arregalando levemente os olhos. — Onde está? — ela provavelmente deduziu a minha reação como um sim.

— Segunda gaveta na cabeceira da esquerda. O meu quarto fica naquela porta. — apontei sentindo-me frustrado por ter que assistir o meu braço completamente bambo enquanto mostrava onde ficava, mas Any novamente não demonstrou relevância naquilo, ela apenas seguiu até onde eu havia indicado.

Assim que ela saiu do meu campo de visão escorei-me na parede e escorreguei, abraçando minhas pernas.

Não me sentia mais aliviado e nem menos preocupado.

Por um momento me senti estagnado e pensando nisso, por algum motivo, o meu cérebro decidiu lembrar-me do quanto a culpa disso tudo é minha, tornando a deixar o ar mais frio do quê realmente estava.

Por que eu tenho que fazer isso comigo mesmo?

Por que eu tenho que me sabotar tanto e ainda ter consciência disso?

É tão mais fácil quando nos isentamos de entender as coisas.

Por isso é tão fácil ser criança e tão difícil passar pela adolescência.

Provavelmente por isso é tão entediante ser adulto.

As pessoas simplesmente decidem que já temos que saber a parte ruim do mundo.

E honestamente essa nova geração anda pulando etapas demais.

Que custo benefício tem em crescer tão rapidamente?

Em encarar os problemas do mundo como se, aos treze, já soubéssemos de tudo?

Soltei um grunhido em ódio abrindo os lábios novamente para conseguir respirar.

Pensamentos como esses me deixam ainda mais sufocado.

— Eu sabia que isso iria acontecer quando eu chegasse. — Any retornou como uma alma penada desde que eu nem tinha notado a sua aproximação.

Ela se agachou ao meu lado e eu rapidamente comecei a fazer o quê deveria.

Soltei toda a quantidade de ar contida em meus pulmões abrindo razoavelmente a boca para que Any pudesse encaixar a bombinha entre os meus dentes, fechando os lábios em seguida.

A bombinha foi pressionada enquanto eu respirava profundamente pela boca enchendo os meus pulmões de ar.

A garota tirou o inalador dos meus lábios e eu segurei a respiração por quinze segundos reiniciando todo o processo após mais trinta por uma segunda e última vez desde que aquela crise não era fraca como as rotineiras.

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