Alexandre Morris.
— Bom dia. — cumprimentei Noah da maneira mais cordial que podia, tentando acenar para o outro civil ao fundo da sala, porém estávamos em uma distância considerável um do outro além de que ele tinha a cabeça baixa e enfiada em seu computador.
— Bom dia Sr. Alexandre Morris. Eu irei conduzir o seu interrogatório. — Noah se apresentou de acordo com o seu protocolo mesmo que já nos conhecêssemos, fazendo um aceno de cabeça na minha direção enquanto eu me organizava na cadeira a sua frente, imitando o seu gesto.
Acomodei-me bem ali tornando o meu olhar para Noah que parecia esperar com uma falsa calma que eu tornasse a olha-lo para podermos iniciar com isso.
— Onde você estava e com quem você estava no dia da morte de Lamar Morris? — ele fez a primeira pergunta.
Seria menos maldoso usar a palavra filho em vez do nome quase completo dele. Muito menos maldoso, mas sei que a ideia da polícia não é aliviar para ninguém além deles. Esse assunto está se expandindo pelo mundo inteiro sem controle midiático algum, manchando a imagem do presidente por ter uma polícia possivelmente ineficiente e o único interesse deles não é fazer justiça pelo meu filho e sua colega, mas por eles mesmos.
Eles estão passando por cima de qualquer tipo de protocolo para que isso seja resolvido o mais rápido o possível e esse seria o cenário perfeito para outras pessoas cometerem mais crimes sem impunidade, mas incrivelmente não está sendo.
Muitos reforços foram enviados e outros chefes de policias de outros estados saíram da missão de Washington para cuidar de Los Angeles enquanto Noah cuida desse caso em específico.
Nunca que essa comoção toda seria apenas pelo meu filho. Não importava o nome que eu carregasse, não seria o mesmo tratamento.
— Com a minha esposa. — respondi brevemente, após uma boa reflexão o encarando em silêncio. Provavelmente ele imaginava que eu estava pensando no que responder, mas era muito além disso. — Em uma viagem de negócios até Paris. — falei em meio a um suspiro incômodo, não pelo lugar e não pela situação, mas por saber que tudo aquilo era por eles e não por Lamar. Isso torna tudo ainda mais nojento.
— Apenas? — ele tentou arrancar mais alguma informação de mim por ter sido muito específico.
— Sim. — respondi.
— Em que lugar de Paris? — ele questionou.
— No nosso hotel. Storm Palace. — contei-lhe.
— Nosso? — Noah piscou mais de uma vez, inclinando minimamente o rosto para o lado e dando um pouco de ênfase a palavra.
Confesso que foi uma observação muito boa a minha, pois a sua inclinação foi mínima e não existe ninguém vivo que conte quantas vezes outra pessoa pisca, mas foi exatamente o que aconteceu.
Como se fosse automático e realmente era.
— Meu pai é dono de uma franquia de hotéis. — falei e ele se acomodou melhor na cadeira, outro ato muito singelo, mas que eu pude identificar.
Quando você começa a trabalhar com pessoas com tanto dinheiro quanto você, é inevitável se tornar um observador nato.
— Existe outra maneira de provar que vocês estavam em Paris? — ele pediu e eu estranhei um pouco, mas entendia o seu ponto em me pedir isso.
— Nossos amigos... Investidores da bolsa. — dei a opção mesmo que as achasse um tanto incerta.
A maioria daquelas pessoas se recusaria a se envolver em um caso policial de pequeno ou grande porte que não falasse sobre os seus próprios interesses.
A vida é sobre isso: Interesses.
Nós podemos viver todo o nosso tempo crendo que existe um mundo cor de paz onde apenas a bondade reina, mas é uma grande mentira.
Existem pequenas sementes de amor no mundo, mas elas não são regadas. A maioria das pessoas prefere regar a ganância, o ódio, a soberba e está tudo bem contanto que isso seja a sua escolha consciente.
— Onde você estava e com quem você estava no dia da morte de Hina Yoshihara? — ele prosseguiu com o interrogatório.
— Eu não me lembro bem. — franzi o cenho, tentando trazer a tona alguma lembrança. — Talvez em casa?
— Talvez?
— Acho que sim, mas a minha memória não é uma fonte muito confiável. — o contei.
— Mas em um interrogatório, a sua boca deveria ser. — ele rebateu sem me encarar.
Noah é bem impressionante em seu trabalho.
Bem diferente das esporádicas vezes que o encontrei. Eu diria até que essa é uma versão exoticamente profissional dele.
— Você tinha alguma desavença com Lamar ou Hina?
— Nenhuma. — sorri largo pelo orgulho - em um bom sentido - de dizer isso. — Nunca conversei ou tive um contato proximo com Hina além de frequentarmos o mesmo ambiente. — dei de ombros, mas não me sentia mais ou menos satisfeito com isso. — Mas Lamar era o cara. — soltei uma risada alegre sentindo-me a vontade. — Eu me orgulho muito de ter criado aquele homem. Para mim importa muito o que aconteceu, mas importa mais ainda tudo o que ele foi capaz de construir antes e o que ele ainda pretendia construir. Ele foi uma pessoa grande e eu não falo do Morris em seu sobrenome, eu falo sobre qualidades humanas afloradas que ele possuía. Eu creio muito que nós só vamos embora quando a nossa hora chega e aquela foi a hora dele. Sei que parece que ele foi arrancado de nós pela maldade humana e realmente foi, mas tudo existe um mínimo propósito. Eu busco justiça porque eu preferia uma morte boa para o meu filho, apenas por isso. Não porque eu creio que ele ainda estaria vivo se não fosse por isso.
— A relação entre vocês era bem estável então? — ele ignorou tudo.
— Sempre confiei nele então nós nunca entramos em nenhum tipo de conflito e até no que não concordávamos, nós transformávamos em um debate saudável onde um tinha confiança no outro e estava tudo bem acerca disso. Foi um costume que eu implantei na nossa relação de pai e filho desde que ele passou a ter um bom entendimento sobre as coisas.
Assim que eu terminei a minha fala, o Noah ficou me analisando por alguns longos minutos ou talvez nem fossem muitos, mas pareceram ser.
— Você está liberado Morris. Tenha um bom dia. — ele desejou.
— Você também. — o desejei de volta, acenando para Bailey que acabei apenas reconhecendo agora, quando ele levantou a cabeça, saindo da sala com um sentimento de dever cumprido.
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TrUtH oR dArE? mErCy!
Fiksi PenggemarUm dia após uma reunião entre amigos, Hina é encontrada morta em seu apartamento. 'All for Hina' se torna o assunto mais comentado do mundo junto a campanhas de prevenção ao suicídio, só que o que ninguém imaginava era que sete dias depois de sua mo...