Prólogo

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Meu nome é Ana Clara Caetano e acabo de completar vinte e três anos. Sou formada em Medicina e estou voltando para a cidade onde nasci, Northfolk. É uma cidade pequena com pouco mais de mil habitantes. Minha família e eu deixamos a cidade quando eu ainda tinha onze anos por não haver nenhum hospital ou médico lá. Os barbeiros (isso mesmo, barbeiros) atendiam como doutores quando alguém passava mal ou precisava de algum atendimento clínico e meu pai achou melhor nos mudarmos para uma cidade um pouco maior e melhor desenvolvida para eu me tratar. Desde que nasci, sofria de problemas respiratórios graves, o que me impedia de ter uma infância como qualquer outra criança. Nunca pude ir à escola ou brincar na rua com outras crianças (fora meus irmãos) por causa da minha baixa imunidade. Meu pai me ensinou a ler e os livros sempre foram meus únicos amigos. Sou apaixonada por eles. Sempre me fizeram companhia quando estava triste, alegre, doente ou não. Os livros me deram algo que jamais tirarão de mim: o conhecimento. E como forma de gratidão à eles, resolvi que seria doutora. Meus pais se assustaram com minha decisão pois, nos tempos em que vivemos, 1867, as mulheres devem cuidar de seus filhos e maridos em casa e não saírem por aí brincando de médico, não é mesmo? Disseram que em um ambiente fechado e dominado por homens, ninguém me daria crédito, afinal quem confiaria em uma mulher médica e solteira? Segundo eles, o melhor seria arranjar um marido e constituir uma família. Não fiquei triste por suas palavras pois eu entendo que eles sempre priorizaram meu bem estar e queriam me proteger de possíveis frustrações e, talvez até, agressões. Mesmo assim, eu sentia que devia estudar Medicina. Queria ajudar as pessoas fracas como eu. Queria curar as crianças para que elas pudessem brincar e ter uma infância saudável. Parecia algo óbvio e a única coisa que eu deveria fazer na vida.
Eu sabia que não poderia apenas me graduar. Tinha que ser a melhor e, com muito estudo e poucas horas de sono, consegui me formar em uma turma de doze alunos, sendo eles onze homens e apenas uma mulher, no caso eu mesma. Fui destaque e oradora da turma o que, para meus colegas, foi uma afronta e um desrespeito para com eles. Mas eu sabia que passar pela faculdade era apenas uma pequena parte do desafio. Eu precisava provar que, mesmo jovem, era uma doutora tão boa ou melhor que um doutor
O que eu não sabia era a confusão de sentimentos que iriam me invadir. O que eu não sabia era que minha razão por diversas vezes seria ignorada pelas minhas emoções. Livro nenhum me preparou para sentir o que senti quando meus olhos encontraram os dela pela primeira vez.

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora