Em edição.
𝘢𝘤𝘰𝘵𝘢𝘳 / 𝘢𝘻𝘳𝘪𝘦𝘭 𝘧𝘢𝘯𝘧𝘪𝘤
"A mais grande forma de amor se esconde entre sombras e é preciso luz para penetra-las"
Em Prythian, a mágica se entrelaça com lendas, mas uma Corte permanece envolta em mistério: a Corte do Alv...
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kai.rós {s.m}; em grego antigo: o momento oportuno, perfeito ou crucial; o acerto fugaz entre espaço e tempo que cria uma atmosfera propícia para a ação.
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O brilho das estrelas estava ainda mais intenso naquela noite.
O céu, um roxo azulado profundo, emoldurava as orbes luminosas como uma pintura viva, pulsante. Apesar de Azriel gostar da escuridão e de se envolver em suas sombras, havia algo no céu estrelado da Corte Noturna que sempre falava diretamente à sua alma. Era seu lar, um lugar onde ele podia ser ele mesmo. Nunca deixaria de valorizar a sensação de liberdade ao estar ao ar livre, esticando suas asas, sentindo o vento roçar em sua pele como um toque íntimo e silencioso.
Era o terceiro solstício de inverno consecutivo desde a devastadora guerra com Hybern. As coisas não haviam mudado drasticamente desde a primeira vez que o Círculo Interno se reuniu para comemorar a noite mais longa do ano. Cassian e Nesta viviam em uma dança caótica, de amor e confrontos, sempre atracados em corpo e alma. Rhys e Feyre estavam radiantes, felizes, completos, pois tinham um ao outro. Elain ainda era cautelosa com relação a seu parceiro, Lucian, mas Azriel podia ver, em detalhes minuciosos, como ela lentamente cedia, abrindo uma fresta em seu coração que talvez, um dia, permitisse Lucian entrar. Amren e Varian eram inseparáveis, como se suas almas fossem fios entrelaçados, indissociáveis.
Mas havia algo naquela noite que atingia Azriel com mais força. Algo que perfurava fundo, muito além das sombras que ele tanto prezava.
Morrigan, sua querida Mor, finalmente decidiu apresentar sua namorada à família. E, apesar de Azriel estar genuinamente feliz por vê-la aceitando sua verdadeira sexualidade e começando a superar os fantasmas do passado, a pequena centelha de esperança que ele mantinha acesa, escondida embaixo de incontáveis camadas de segredos e dor, apagou-se para sempre. O sonho impossível que ele nutrira em segredo, por séculos, esmoreceu em cinzas.
No meio da noite, incapaz de suportar a dor sufocante, Azriel subiu ao telhado da Casa de Vento, sua alma sobrecarregada pelos sentimentos que ele mantinha cuidadosamente enterrados, escondidos de sua família.
Ele estava genuinamente satisfeito por vê-los juntos. Mas, ao olhar para a mesa de jantar, uma cena perfeita e familiar, algo se partiu dentro dele. Todos ali tinham alguém – mesmo que fosse de uma forma tortuosa e complicada – exceto ele. Por quinhentos anos, ele se agarrara a uma possibilidade tênue, frágil como vidro, de que um dia Mor perceberia o amor que ele guardava, que o laço que os unia finalmente se revelaria em toda sua intensidade.
Mas se não havia acontecido em cinco séculos, por que aconteceria agora?
Um dos astros piscou sobre o cabelo escuro de Azriel. Ele imaginou que estava alucinando, como se até as estrelas zombassem de sua dor.
Ele olhou para o céu, para as estrelas distantes, e uma resolução amarga nasceu em seu peito: nunca mais queria se sentir assim. Com o coração despedaçado em fragmentos minúsculos, tão pequenos que pareciam impossíveis de serem colados de novo. Ele estava cansado. Cansado de carregar o peso da solidão. Mas talvez, apenas talvez, era isso que um bastardo como ele merecia.
Então, uma bola prateada e flamejante cortou o céu, movendo-se em direção às árvores que circundavam Velaris, rasgando o breu. Um sorriso torto e amargo cresceu nos lábios do Encantador de Sombras.
"Alguém", ele desejou silenciosamente para a estrela cadente, seus olhos apertados em um pedido desesperado. "Eu preciso de alguém."
Mas, conforme a estrela se aproximava do horizonte, algo incomum aconteceu: em vez de desaparecer, sua forma tornou-se mais clara, mais real. Azriel, confuso, viu primeiro pernas se debatendo no céu escuro, depois ouviu um grito estridente, desesperado, que cortou o ar.