𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖀𝖒

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hi.ra.eth {p}; da linguagem céltica: o sentimento de nostalgia por um lugar a qual você não pode voltar; um lugar que talvez nunca existiu. Um profundo e irracional laço com algum tempo, espaço ou pessoa. 




— Rayna —

 Sarah J. Maas havia arruinado a vida de Rayna.

  Desde pequena, ela alimentava sonhos grandiosos sobre o amor — afinal, crescera imersa em romances que prometiam encontros gloriosos e paixões arrebatadoras. Mas, após devorar as páginas dos livros daquela autora, percebeu, com um pesar quase insuportável, que por mais intensos que fossem seus desejos, nenhum homem de carne e osso jamais chegaria perto das criações esculpidas pelas mãos de uma mulher.

  Por isso, ela não podia culpar as pessoas com quem saía. Apesar de nunca sentir aquele frio na barriga — e, mesmo sabendo que era absurdo esperar algo tão especial nos dias de hoje —, Rayna sabia que a culpa era dela. "Você espera demais", diziam seus amigos, com aquele tom de condescendência que a fazia revirar os olhos de irritação.

  Ela nunca viveria um amor como o de Feyre e Rhysand. Jamais teria um Azriel esperando por ela por quinhentos anos, ou um Cassian disposto a sacrificar tudo por seu bem-estar.

  Sim, toda a sua visão sobre o amor e a vida romântica desmoronou no instante em que abriu aquele maldito livro. E, mesmo odiando a maneira como aquilo elevava suas expectativas a alturas inalcançáveis, ela não conseguia se afastar. Havia algo naquele universo que a atraía como um ímã, uma sensação profunda de pertencimento, um lar que ela jamais encontraria no mundo real.

  Rayna adentrou sua biblioteca, o único cômodo de seu diminuto apartamento do qual se orgulhava. Lutara com unhas e dentes por aquele espaço contra Eve, sua colega de apartamento, e sabia ser bastante persuasiva quando queria.

  Era um exagero chamar o lugar de biblioteca, mas era o seu refúgio. As quatro paredes eram preenchidas por estantes que iam do chão ao teto, deixando espaço apenas para um sofá de dois lugares e uma mesa de centro. E isso bastava para que ela se sentisse confortável, perdida em páginas repletas de sonhos.

  Nada a impedia de se perder na leitura. Estava de férias da faculdade — estudava música — e não tinha obrigações de fim de semana. Embora fosse sociável, Eve não compartilhava desse espírito, e Rayna simplesmente não se animava a sair sem a amiga ao lado.

  Ela caminhou até a prateleira e avistou a lombada preta, com letras verde-azuladas saltando aos seus olhos. Corte de Asas e Ruína. Aquela seria a leitura perfeita para uma noite de lágrimas.

  Acomodou-se nas almofadas, recostando a cabeça no sofá enquanto acendia a luminária ao lado.

  Suspirou antes de abrir o livro, afundando-se no mundo que tanto ansiava habitar.

Acordou com um sobressalto, fazendo o livro cair do seu colo no chão. Desorientada por alguns segundos, lembrou-se do que fazia antes de adormecer.

  Um estalo ressoou, parecido com uma bolha estourando. Olhou ao redor, confusa, mas a porta estava fechada, e não havia sinais de alguém pregando peças. Eve não era de fazer brincadeiras.

  Piscar os olhos e esfregar a testa não ajudaram a clarear a mente. Devo estar imaginando coisas, pensou.

  Abaixou-se para pegar o livro do chão quando uma brisa gélida invadiu o cômodo por baixo da porta. Será que dormi tanto que as estações mudaram?

  Um brilho prateado emergiu de uma das estantes. Uma névoa começou a subir entre os livros, envolvendo-os como gavinhas que se entrelaçavam lentamente. A neblina expandiu-se, preenchendo o espaço.

  Sua respiração parou. O ar se recusava a entrar em seus pulmões, e ela esqueceu como respirar. A fumaça branca e fria circulava o ambiente, ocultando tudo ao redor como uma neblina densa em um dia chuvoso.

  Sua visão turvou, e ela tentou agarrar-se a algo, mas suas mãos encontraram o vazio. Tudo parecia ter desaparecido, exceto aquela fumaça, que agora a envolvia como se ela fosse parte dela.

  Os olhos começaram a pesar. Ela lutava para se manter acordada, sabendo, em algum lugar profundo dentro de si, que adormecer seria um erro fatal. Uma voz instintiva, talvez fruto de sua própria sanidade, sussurrava que ela estava à beira de algo terrível. Seu coração apertava, como se um gancho o puxasse dolorosamente, e ela sabia que, se fechasse os olhos, aquela dor desapareceria.

  Então, ela cedeu. Fechou os olhos, e seu corpo afundou em direção ao chão. Nunca fora boa em seguir sua intuição.

  Mas a queda parecia não ter fim. Apertou os olhos com força, esperando o impacto que nunca chegou. Quando finalmente os abriu, só viu escuridão, um borrão de montanhas brancas sob um céu estrelado. Que diabos...?

  Levaram alguns segundos até que seu corpo começasse a responder novamente. O frio castigava sua pele, e o pânico crescia. Ela tentou, em vão, balançar os braços como se pudesse voar. O desespero a consumia como um balde de gelo atirado contra seu rosto.

  Um grito rasgou sua garganta, ecoando em seus ouvidos como algo não humano, selvagem, fora de controle.

  Nunca pensou que morreria assim, aos gritos. Sempre imaginou que as heroínas que admirava a preparariam para o fim. Mas quem poderia imaginar que o fim chegaria?

  De repente, seu corpo colidiu com algo — ou alguém. O impacto a silenciou, o ar foi arrancado de seus pulmões enquanto um braço firme a segurava pela cintura e outro envolvia suas costas.

  O desconhecido também parecia pego de surpresa. Ambos caíam em espiral em direção às árvores abaixo. Mas, de alguma forma, ele recuperou o controle. E então, ela viu.

  Asas enormes e escuras rasgaram o vento atrás dele, balançando enquanto deslizavam pela corrente de ar.

  Seu queixo repousava no ombro dele, mas algo duro a fez abaixar mais a cabeça, revelando uma pedra azul profundo que brilhava em seu peito.

  Não pode ser, pensou, com o coração disparado. Nem fodendo.

  Os pés dele tocaram o solo antes dos dela. Estavam cercados por árvores e uma escuridão quase absoluta.

  Ele a afastou com cuidado. Seu rosto estava imerso nas sombras, mas os olhos... aqueles olhos âmbar brilhavam na escuridão, preocupados, mas com um toque de desconfiança.

  — Azriel... — ela murmurou, mesmo sabendo que era impossível.

  Então, seus joelhos fraquejaram, e ela finalmente encontrou o chão.

𝕬 𝕮𝖔𝖚𝖗𝖙 𝖔𝖋 𝕭𝖑𝖔𝖔𝖉 𝖆𝖓𝖉 𝕾𝖍𝖆𝖉𝖔𝖜𝖘 | acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora