𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝕿𝖗𝖊𝖘

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moi

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moi.ra {p.} do grego antigo: o fado ou destino de alguém; algo que está predestinado.




— Rayna —

Rayna sempre fora o tipo de criança que mergulhava fundo nas próprias fantasias. A imaginação dela não conhecia limites — o que, de certo modo, parecia ridículo, já que todas as crianças têm imaginação. Mas a dela? A dela ia além. Ela criava mundos completos, detalhes que ninguém mais conseguia ver, e vivia dentro deles como se fossem reais. Agora, essas memórias estavam fragmentadas, borradas nas sombras do tempo, como a fumaça de um incêndio há muito extinto. No entanto, uma lembrança permanecia. Lembrava-se de sua mãe, com a voz gentil, mas com os olhos severos, dizendo que ela estava velha demais para aquilo. Tinha apenas cinco anos.

  Agora, diante de Azriel, Rayna sentia o peso daquele mesmo olhar julgador. Até em um sonho, até em um mundo que não deveria ser real, estou sendo julgada. Sua frustração fervilhava, subindo pela garganta como lava prestes a explodir.

  Ela cruzou os braços com força, cerrando os punhos. Por que ele não acredita? A tensão em sua voz era inegável quando murmurou:

  — Você não acredita em mim, não é? — O som de suas próprias palavras ecoou, carregado de amargura. — Por que estou surpresa? Claro que você não acredita.

  Azriel continuou parado, imóvel como uma estátua, a expressão dele uma muralha intransponível. Nenhuma reação. Nenhuma emoção visível. Ele estava apenas ali, olhando-a com aquele semblante indecifrável, como se nada no mundo pudesse tocá-lo. Era uma imperturbabilidade que beirava o insuportável. A irritação dela crescia a cada segundo. Era como bater contra uma parede e sentir apenas o eco do próprio esforço.

  — Maldito seja... — murmurou entre dentes, mas ele, claro, não reagiu.

  Rayna tinha contado apenas parte da verdade. Se revelasse tudo, Azriel a taxaria de louca e provavelmente a jogaria em alguma cela escura. Conhecer alguém porque ele é personagem de um livro? Quem, em sã consciência, acreditaria nisso? Ao invés disso, ela escolhera o caminho mais "aceitável": contara que conhecia o mundo deles por causa de um livro sobre a guerra. Não era uma mentira... mas também não era a verdade completa. E esse fardo estava pesando sobre ela como nunca.

  Ele, claro, não fazia perguntas. Só ficava ali, encarando, deixando o silêncio se esticar até onde ela não aguentava mais. Cada segundo parecia ser uma armadilha emocional, e Azriel estava jogando habilmente.

  Ela explodiu de repente, sem se conter mais:

  — Amren também não é deste mundo! — A voz dela saiu afiada, alta demais, ressoando pelas paredes. Era um conhecimento comum, não era? Lucien sabia disso quando chegou à Corte Noturna. Ou será que sabia porque tinha acesso a informações privilegiadas? Droga.Era isso que ela odiava em mentir. Na hora, ela era boa. Inventava histórias de maneira convincente. Mas depois? Depois vinha a ansiedade, o medo de que algo escapasse e estragasse tudo.— Você acha que só porque não sou igual a vocês, não pertenço aqui? — As palavras saíram como uma faca de dois gumes, cortantes e reveladoras, tentando distrai-lo do que poderia ser um fato que a entregaria. Droga, se controle.

  Azriel não se moveu. Nem uma palavra, nem um piscar. O peso de sua presença era sufocante. Ele estava ali, sólido, impenetrável. O silêncio dele era uma arma, e Rayna podia sentir a pressão aumentando a cada instante, quase como se ele estivesse se divertindo com a sua frustração crescente.

  — Você está me testando, não está? — Ela sibilou, os olhos faiscando. — Quer me ver perder o controle. Quer me ver explodir.

  Ele continuava imóvel, braços cruzados, encostado na coluna, como um predador observando sua presa. O calor em Rayna aumentava, como se seu sangue fervesse em suas veias. Ela sabia que ele estava esperando uma fraqueza, um deslize.

  — Se você não acredita em mim, — ela deu um passo à frente, a voz cheia de um desafio que não conseguia reprimir — me leve até seu Grão-Senhor. Ou pretende me manter aqui só para você?

  O impacto de suas palavras pairou no ar. Rayna sabia o que estava fazendo. Ela queria que ele se mexesse, que sua fachada inabalável finalmente desmoronasse. Mas o que aconteceu a seguir a surpreendeu. Azriel, com a mesma calma desconcertante, se desencostou da coluna e avançou.

  Com um movimento ágil, ele estava ali, próximo demais, suas coxas agora prendendo as dela no sofá. A proximidade era sufocante, intensa, e ela sentiu o calor dele irradiar para sua pele, causando arrepios involuntários. Quando ele abaixou a cabeça para ficar no nível dos olhos dela, seus olhos âmbar a perfuraram como lâminas, desnudando sua alma.

  — Preciso que você fique aqui, apenas por alguns segundos. Pode fazer isso? — A voz dele era um sussurro grave, quase uma ordem, reverberando no peito dela.

  Rayna prendeu a respiração, seu corpo completamente consciente da presença esmagadora dele. Ele não pode fazer isso comigo. Mas as palavras escaparam de seus lábios antes que pudesse impedi-las:

  — Você quer a verdade ou quer que eu facilite sua vida? — Sarcasmo era sua defesa, e ali estava ele, escapando. Mas ela logo limpou a garganta, tentando recuperar algum controle sobre a situação. — Não tenho para onde ir, Azriel.

  Ele se afastou de repente, o frio tomando o lugar do calor que ele emanava. O corpo dela sentiu a ausência dele de forma quase dolorosa. Cada centímetro de pele que antes estava aquecido agora parecia gelado, e ela mal pôde impedir o arrepio que correu por sua espinha.

  Azriel a observou com olhos que pareciam ver tudo, sua voz baixa, mas carregada de intenção:

  — Espero te encontrar exatamente aqui quando eu voltar.

  Era mais do que uma simples instrução. Era uma promessa. Um aviso. Se você tentar fugir, eu vou te caçar.

  — Onde você vai...? — Ela tentou perguntar, mas ele desapareceu antes que pudesse terminar a frase, dissolvendo-se em suas sombras.

  O tempo passou devagar, arrastado e pesado. Ela sabia que ele estava a testando, esperando que ela tentasse escapar. Mas Rayna não era tão idiota. Não poderia.

  Encolheu-se no sofá, abraçando os joelhos, o coração martelando contra o peito. Isso não pode ser real. Isso é um sonho, certo? Quando eu acordar... Fechando os olhos com força, contou até cem. Contou até mil. Talvez, se ela desejasse com bastante força...

  O som de algo caindo ao seu lado a fez abrir os olhos de novo e a realidade a esmagou. Roupas.  

  Azriel estava de volta, observando-a com a mesma expressão de sempre — calculadora, fria. Ele esteve ali o tempo todo?

  — Feliz por eu ter obedecido? — Ela disse, um sorriso falso estampado no rosto, o queixo apoiado nos joelhos.

  — Vista-se, — ele ordenou, sem humor algum. — Temos uma audiência com os Grão-Senhores.

  O coração de Rayna disparou, uma mistura de adrenalina e medo a invadindo. Isso... isso realmente está acontecendo.

𝕬 𝕮𝖔𝖚𝖗𝖙 𝖔𝖋 𝕭𝖑𝖔𝖔𝖉 𝖆𝖓𝖉 𝕾𝖍𝖆𝖉𝖔𝖜𝖘 | acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora