𝐂𝐡. 𝟒𝟕

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nat

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nat.su.ka.shii {adj.}: algo pequeno que te trás memórias e/ou sensações alegres, não como saudade pelo oque já passou, mas como apreciação pelos bons tempos 




— Rayna —

Meu primeiro pensamento é que devo ter rolado e esmagado os ovos, por isso me sento desesperada, procurando a luz feérica mais próxima para acender. O céu ainda não está totalmente claro.

  Mas vários barulhos seguem o primeiro. A primeira esfera a se abrir totalmente é esverdeada. Um bichinho coberto de gosma sai ao tropeços das cascas e quando se estabelece com as duas patas no cobertor, tenta abrir as asas, mas abre só uma o que faz com que ele tropece novamente com o peso.

  Os olhos dele ainda estão fechados, mas ele se esforça para abri-los entre o líquido gosmento que cobre todo seu corpo. Ele é tão pequeno que deve caber na palma da minha mão. Os outros filhotes saem logo em seguida. O terceiro é, surpreendentemente, quem consegue abrir os olhos primeiro, limpando a gosma no pano embaixo de suas patas. Quando ele me olha, com os olhos azul-escuros redondos, inclina a cabeça curioso.

  Meu olhos estão lacrimejando e tenho que me esforçar para não esmaga-los de tão fofos que são. Ele é corajoso e se aproxima de mim, descansando a cabeça na minha coxa, o calor parecendo agrada-lo. Não demora muito para os outros seguirem o seu exemplo e logo meu colo é um emaranhado de pequeninas caldas e asas.

  O filhote de olhos azuis levanta a cabeça com dificuldade e tomo coragem para fazer carinho no espaço entre seus olhos. Seu focinho treme quando se inclina para cheirar o meu dedo e logo em seguida o coloca na boca. Meu coração para por um segundo achando que ele vai arrancar o meu dedo, mas está o usando como uma espécie de chupeta.

  — Você está com fome. — sussurro mesmo sabendo que ele não me entende. — O que será que bebês dragões comem?

  Sentia tanta falta do Google nessa horas, apesar de duvidar que poderia encontrar essa resposta nele.

  — Ok, eu preciso ir na cozinha e... — o filhote com escamas arroxeadas protestou quando fiz menção de me mover, um barulho fino saindo de sua boca. — Não quero interromper o seu sono, mas vocês precisam comer. — falo gentilmente.

  Tiro um por um do meu colo, colocando por último o que estava chupando o meu dedo. Eles se aninham um perto do outro.

  — Como eu vou levar vocês três? — pondero, olhando em volta. Pego um pedaço de tecido. — Primeiro vou limpar vocês, certo? — não faço ideia porque estou falando com eles como se fossem crianças.

  Limpo a gosma deles do melhor jeito possível. Então pego um dos lençóis da cama, enrolo em volto deles de forma que não estejam esmagados e suas cabeça para fora e saio do quarto em direção a cozinha.

  Nunca estive de fato na cozinha da Casa do Vento, passei por ela no meu primeiro dia aqui, então não é surpresa que demorei para encontrá-la. Quando chegamos eles já faziam barulhos e o esverdeado mordia a orelha do arroxeado com fome, enquanto o de olhos azuis mantinha toda a sua atenção em mim, ignorando os seus irmãos.

  Eu precisava dar um nome para eles logo.

  — O que será que vocês comem? — abro o lençol em cima de uma mesa de madeira, dando liberdade para eles. Eles mal sabem rastejar ainda.

  O de olhos azuis se prende ao meu braço. Os outros dois tentam ficar de pé e abrirem as pequenas asas.

  — Você será meu cobaia, então. — digo, pegando uma maçã e cortando um fatia. O filhote acompanha os meus movimento com a cabeça. É adorável vê-lo mexer a cabeça minúscula de acordo com os meus movimentos.

  Aproximo a fatia de maçã de seu nariz. Ele cheira e então vira a cabeça.

  — Acho que isso é um não. — deixo a maçã de lado. — Você está mais próximo de um réptil certo? — ele pisca. — Eu não deveria ter faltado as aulas de biologia. — porque a única coisa que eu sabia que répteis não tomavam era leite.

  Vi uma cesta com alguns peixes, eles comiam peixe certo? Pelo menos o banguela, em Como Treinar o Seu Dração, adorava. Coloquei o filhote de lado na bancada e peguei um dos peixes da cesta de gelo, que eu não fazia ideia de como se mantinha congelado. Fiz o meu melhor para tirar a espinha e as escamas. Nem dente eles tinham ainda.

  Cortei o peixe em tiras e ignorei o cheiro que ficou em minhas mãos, focada em alimenta-los. Com a tábua na mão me inclinei no balcão para que ele subisse no meu braço novamente. Ele tentou avançar na tábua.

  — Espera para dividir com os seus irmãos. — digo, indo mais rápido até a mesa e colocando a tábua em cima dela. — Aí está, sushi de primeira. — olho orgulhosa.

  O tempo em que fiquei preparando o peixe foi o suficiente para que eles aprendessem a se manter de pé, com o auxílio das asas — então tecnicamente, estavam de quatro como um bebe que está aprendendo a engatinhar — e eu fiquei impressionada com a rapidez e sua esperteza. Em passos cambaleantes, eles se aproximam da tábua. E então começam a comer. Assisto orgulhosa do me trabalho e maravilhada com cada movimento.

  Tem apenas um sobrando, e eles brigam para ver quem vai pegar o último. É uma briga desajeitada, já que nem ficar em pé direito eles conseguem. Isso arranca uma risada dos meus lábios.

  O de olhos azuis consegue pegar a fatia e se aproxima de mim, colocando o peixe na minha frente. Quando não me mexo, ele empurra a fatia mais para perto com a cabeça.

  — Você quer que eu coma? — pergunto.

  Ele só fica lá me encarando com os gigantes os olhos azuis.

  — Pode comer. — empurro para perto dele e ele empurra de volta para mim.

  Eu costumava gostar de comida japonesa, quando não era preparada por mim. Eu nem sabia que tipo de peixe era aquele e o fato de eu ter tirado as tripas e sua cabeça só o tornava menos apetitoso.

  Porém ao olhar para os seus olhos brilhantes cheios de expectativas, tudo que pude fazer foi pegar o pedaço de peixe e colocar na boca. Mastiguei o mais rápido possível e engoli. Não era tão ruim.

  — Obrigada. — fiz carinho nele e vendo isso os outros também chegaram perto querendo um pouco.

  Já era possível ver a luz do dia pela janela. E tê-los aninhados em meu braço enquanto lutava para dar atenção igualmente para todos e sorria involuntariamente para eles fez com que meu peito ficasse morno.

  Era quase impossível que estivessem vivos. Mas ali estavam eles.

  Esperança. Era exatamente isso que eles significam para mim. E eu não poderia estar mais feliz.


Uma fotinha aqui só porque filhotes de dragão são as coisas mais fofas desse mundo e ninguém pode mudar a minha opinião:

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