𝕬 𝕮𝖔𝖚𝖗𝖙 𝖔𝖋 𝕭𝖑𝖔𝖔𝖉 𝖆𝖓𝖉 𝕾𝖍𝖆𝖉𝖔𝖜𝖘 | acotar

𝐂𝐡. 𝟓𝟔

ya'aburnee {s.} literalmente "você me enterra"; esperança de que você vai morrer antes do seu amor porque você não pode viver sem ele.

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— Azriel —

  Azriel já sentira frio antes. O vento gelado arranhando suas bochechas enquanto voava na velocidade máxima. O frio cavernoso do porão em que fora forçado a passar sua infância. O poder de Nestha.

  Mas nada, nada, nunca se compararia á sensação gelada — vazia — de quando ele entrou na Corte Nortuna sem sua parceira do lado.

  Ele deveria estar surpreso. Mas o encantador de sombras sempre soube, lá no fundo, que Rayna era a fêmea com quem ele compartilhava o laço de parceria. E agora ela estava, provavelmente, em Dosnia e preparando para se casar com o macho que havia a colocado em perigo.

  O macho que Azriel planejava arrancar cada centímetro de pele com sua adaga, assim que Rayna estivesse em segurança.

  Ele não se importava que ela tivesse olhado em seus olhos e rejeitado a parceria. Rayna ainda era sua família, e ele nunca deixava sua família para trás. Já havia sido forçado a fazer isso uma vez quando foi arrastado do palácio e jogado na floresta da Corte do Alvorecer para retornar á Corte Noturna. O Sombrio havia cumprido sua palavra e os deixado ir e Azriel não sabia como se sentir sobre isso. Ele esperava, com todos as células em seu ser, que ele o matasse. 

  Rayna voltaria. Ela voltaria. Mesmo repetindo para si, aquilo parecia algo distante, inatingível, como se nunca fosse acontecer. Como se ele a tivesse perdido para sempre. Mas não podia ser, podia? Como você simplesmente perde a pessoa que ama? 

   Rhysand estava o esperando na cabana da mãe de Loren, olhando para a floresta fixamente, como se mais um segundo se passasse ele adentraria a Corte do Alvorecer ele mesmo. Azriel teve vontade de dar um soco no irmão, ele deveria estar com a sua parceira que recentemente descobriu uma gravidez e não arriscando a vida dessa forma.

  Mor também estava ali, claro que estava. Ela deve ter ficado morta de preocupação. Pelo canto do olho Azriel viu Loren correndo para os braços da namorada e aquilo apertou o seu coração. Inveja, Azriel não queria nada mais do que estar com os braços em volta de Rayna. Ele se sentiu mal por não poder ficar feliz por elas. Mas Azriel não queria, nunca estaria realmente feliz sem tê-la com ele. 

  Ele pôde ver Rhys abraçando a irmã, mas seus olhos estavam vasculhando as pessoas que entraram em sua Corte, contando mentalmente. Procurando por uma em especial. Até ele sentiu a falta da presença de Rayna. Era impossível não sentir.

  Os olhos azul-violetas pararam em Azriel e ele não precisava nem fazer sua pergunta vocal ou mental, porque Azriel sabia exatamente o que significava. Mas ele o fez mesmo assim.

  O que aconteceu? Nem mesmo o Grão-Senhor da Corte Noturna tinha coragem de fazer aquela pergunta em voz alta. A destruição no rosto de Azriel era um fator suficiente para faze-lo recuar um pouco.

  Vergonha se aninhou nas estranhas do encantador de sombras. Ele devia ter a protegido. Rayna devia ter voltado no lugar dele. Ao invés disso ele ficou se contorcendo no chão. Incapaz de ser forte para a única pessoa que importava.

  Ele merecia aquilo.

  — Ela é minha parceira. — Azriel respondeu em voz alta e a afirmação tornava tudo mais real. Mais dolorido. Ele não sabia em que momento suas pernas haviam cedido, mas ele estava de joelhos agora. — Ela é minha parceira e agora... se foi.

  Rhys se abaixou até ficar na mesma altura de Azriel e segurando o rosto do irmão com as duas mãos de forma carinhosa o forçou a olhar para ele.

  — Ela voltará para nós, nem que seja a última coisa que faremos. — Rhys disse.

  Mas havia tanto mais em jogo do que apenas traze-la de volta. Rhysand não sabia ainda o que suas palavras implicavam. Ele não sabia da história completa.

  — Ela tem um plano. — Loren disse, ainda nos braços de Mor, não fazendo nenhum esforço para se soltar. — Eu sei que tem. Você não sentiu a raiva dela Azriel, mas eu senti. — Loren tremeu como se a simples lembrança do sentimento compartilhado com sua mizpá a arrepiasse. — Como se fosse mata-lo bem ali pelo o que fez com você.

  Esse sentimento, com toda certeza, era mútuo.

  — Mas não há muito que ela possa fazer contra um rei e Grão-Senhor. E no território dele. — Aeryn disse. — Nós temos que tira-la de lá.

  Rhys olhou curioso para a irmã. Mas antes que ele pudesse questiona-la, eles ouviram os passos de Elounor se aproximando. Aquela era a primeira vez que Azriel via uma expressão em seu rosto delicado.

  Os olhos de Elounor estavam arregalados, seus braços tremendo e em suas mãos tremeluzia um pedaço de papel.

  Azriel e Rhysand se levantaram.

  — Mãe? O que aconteceu? — aquele foi o único momento que fez Loren sair do abraço da namorada.

  — É um convite... — ela disse, a voz em um fio. — Nós todos fomos convidados para o casamento real. Onde está Rayna?

  Azriel deu apenas mais uma olhada no convite na mão da antiga Duskit e soube que tinha que sair dali. Voando o mais rápido possível, Azriel mal conseguiu chegar em uma parte remota da floresta antes de liberar suas sombras.

  Elas enveloparam as árvores por quilômetros e as transformaram em pó. E Azriel permaneceu ali, no meio de toda destruição, sentindo que era exatamente aonde ele deveria estar.