O clima entre os dois era tenso. Mal sentia como se a temperatura do ambiente tivesse baixado, apesar do sol estar em seu ponto máximo. O coração da mulher batia tão forte que doía o peito. Enquanto isso, Maligno a observava com ar arrogante, completamente imóvel. Até mesmo o vento no local havia parado. Pelo canto do olho, Mal viu Ben, ainda parado como uma estátua. Após alguns segundos que mais pareceram horas, Maligno deu seus primeiros passos em direção a Mal, que assumiu uma postura defensiva.
– Veio nos matar? – A mulher perguntou tentando aparentar coragem, mas sua voz tremeu.
– Se esse fosse o caso, minha querida sobrinha, vocês já estariam mortos. – Maligno respondeu calmo. Continuou indo na direção do casal, ignorando Mal quando avisou para não se aproximar mais. Maligno parou muito próximo de Ben, o encarando nos olhos, analisando cada centímetro do rosto do rapaz. – Ele é igual à irmã. – Sua voz era melancólica, cheia de saudade.
– Que você matou.
– Essa foi a versão que te contaram? – Perguntou o mais velho, virando para Mal. – Faz sentido. Eu sou o grande vilão da história. Você é muito inocente por acreditar na palavra de qualquer um. Eu não a matei. Eu amava Beth como uma filha.
– Sequestrou um bebê. A irmã do meu marido. Por que?
Maligno sorriu levemente. Era possível sentir a maldade emanando dele. Virou o rosto de volta para Ben, o observando calmo. Mal tentava pensar em como escapar, mas desde o aparecimento do tio sentia os ombros pesados e dificuldade de respirar. Sabia que era incapaz de enfrentar Maligno ou fugir.
– Ela hoje seria uma princesa deslumbrante como o irmão. Infelizmente, Beth foi tirada de mim anos atrás, pela espada de Heitor. Mas não precisa acreditar na minha palavra. Eu te mostro.
Sem aviso, Maligno passou a mão pela nuca de Mal e a puxou para perto, a encarando nos olhos. Mal tentou afastar o rosto, mas a força de Maligno era muito maior. Quando a íris do homem brilhou num tom de verde claro, o mesmo aconteceu com os olhos de Mal. Então, uma visão começou.
Era uma imagem cheia de névoa, alguns pedaços na cena faltavam. Mal era apenas uma espectadora do que acontecia. No meio de uma floresta, viu Helena, Will e Kalila alguns passos atrás de Heitor, que segurava uma espada com lâmina preta. Porém, a lâmina atravessava o corpo de uma mulher loira, já caída no colo de Heitor. Enquanto o sangue da princesa Beth pingava no chão, Maligno gritava o seu nome em desespero. A visão terminou tão rápido quanto começou.
Maligno soltou o pescoço de Mal. A mulher estava assustada com o que tinha acabado de ver. Ofegante, ela processava a cena. Heitor foi o responsável pela morte de Beth. Tinha sido seu irmão quem tirou a vida da irmã de Ben.
– Mais uma vez, o sangue de minha família me tirando tudo o que eu tinha de mais precioso. Mas você sabe o que é isto, certo? A dor da traição da família. – Maligno perguntou calmo.
– Não tente me enganar. Você não é inocente. A barreira é culpa sua.
– Eu não penso que o que fiz não foi errado, Mal. Eu era bom, até que minha irmã, com inveja do que eu tinha, me tornou o vilão da história. E eu serei. Malévola ainda está à solta, escondida e fraca, mas eu vou encontrá-la. Eu a matarei com as minhas próprias mãos. E Heitor também, por ter me tirado a única pessoa que eu amava.
– Quer que eu sinta pena de você? – Mal perguntou com desprezo.
– Quero que entenda minha dor, assim como eu entendo a sua. Quero Heitor e Malévola mortos. Não sou seu amigo, mas posso ser seu aliado.
Ao ouvir a proposta, imediatamente pode imaginar o que Ben diria. Falaria para negar e não se juntar ao tio. Fazia sentido, pois não podia confiar em Maligno. Também não entendia como poderia ajudar, afinal era muito mais fraca do que qualquer um dos membros da família que teria que enfrentar.
– Veja bem. – Maligno mostrou para Mal o próprio cajado. Não era tão majestoso quanto o de Malévola. Tinha um cristal amarelo e rachado no topo, envolvido pela madeira do cajado. – O trapaceiro do seu irmão que fez isso. E com as armas que ele tem em posse, não consigo derrota-lo, mas o tempo está contra ele. Mal, com a minha ajuda, você pode ser mais forte que seu irmão.
– Não serei sua aliada. – Mal falou firme.
– Você deveria escolher melhor suas alianças, Mal. Por causa das suas escolhas erradas, você perdeu tudo. Quer uma prova? Por que acha que Heitor está sempre um passo à frente? Ele é inteligente, claro, mas não prevê o futuro. Alguma vez seu plano deveria funcionar, por mais simplista que seja. Não acha estranho que ele sempre sabe o que vai acontecer? Pois bem. A pequena princesa Audrey não está do seu lado como ela diz. Eu sei que deve estar pensando que é mentira minha, então vá descobrir por conta própria. Mas ofereço um conselho: não a confronte. Use-a para entregar falsas informações para Heitor. Se mudar de ideia, pode me chamar. Eu a ouvirei.
Uma fumaça amarela envolveu Maligno e ele desapareceu. Assim que a fumaça sumiu, o clima tenso do ambiente também foi embora. O vento parecia ter voltado a circular e balançava as folhas das árvores. Ben havia voltado a se mexer. Agora, era Mal quem estava parada. Seria verdade o que Maligno havia dito? Audrey estava mesmo do lado de Heitor? Não podia ser. Mas tinha que descobrir a verdade.
– Mal, o que houve? – Ben perguntou preocupado. – Você está pálida.
O loiro não havia visto nada do que tinha acontecido. Desconhecia por completo todo o diálogo que tinha tido com Maligno. Seria melhor que ele continuasse sem saber.
– Nada. Eu só estou cansada da transformação.
– Já estamos chegando no castelo do rei Phillip. Lá Audrey pode nos levar até Corona.
Mal apenas concordou com a cabeça. Iriam ver Audrey. Lá, ela tentaria descobrir se a amiga realmente era uma traidora.
Quando chegaram ao castelo, estavam exaustos. Como era de se esperar, o rei Phillip não ficou feliz com a volta do casal.
– Audrey não está. Vão embora. – Se limitou a responder, deixando claro que eles não eram bem-vindos.
Mesmo ouvindo o rei, Mal tinha que descobrir a verdade. Podia ser apenas Maligno querendo causar conflito interno, mas algo em seu interior dizia que não, que realmente havia um traidor. Que outra explicação teria para tudo errado?
– Espera aqui, para caso Audrey apareça. – Mal pediu para o marido, de pé na entrada do castelo. – Eu já volto.
Sem dar muitas explicações, Mal andou pelo castelo de Phillip com cautela para não ser vista. Graças aos anos da Ilha dos Perdidos, havia desenvolvido a habilidade de entrar e sair de fininho. Desviando de todos, conseguiu achar o quarto de Audrey. Estava trancado, mas após proferir um feitiço, a porta se abriu.
O local tinha o mesmo ar sombrio de Audrey após ter pego o cetro de Malévola de volta. Com o coração disparado, Mal vasculhou pelo quarto qualquer indício de que estivesse do lado de Heitor. Procurou na cama, nas gavetas, mas nada. Até que encontrou, em cima da cadeira, o caderno de desenhos de Audrey. Ao abrir e folhear as páginas, encontrou um desenho de Helena, dormindo na cama de Audrey, feita pela própria filha de Aurora. Maligno estava dizendo a verdade então. A fúria tomou conta da mulher. Como Audrey poderia tê-la traído daquela forma? Depois de tudo o que havia passado? Sua vontade era de gritar para todos que Audrey era uma traidora, mas lembrou do conselho de Maligno. Usaria Audrey contra Heitor. Essa seria a melhor forma de devolver tamanha traição. Devolveu o caderno para a poltrona. Assim que virou para a porta, viu Audrey a observando com o cetro em mãos.
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Descendentes 4
AdventureApós a destruição da barreira e reconstrução da ponte, alguns vilões e descendentes encontraram seu lugar no mundo e tentaram viver em paz. Porém nem todos ficaram felizes com os vilões a solta e com razão. A maioria dos vilões não quis um "felizes...