Amigo Insuperável

449 29 24
                                    

Jay tinha os olhos vidrados em Will, que ao terminar de analisar as chaves soltou um longo suspiro de cansaço.

– Esses esqueletos são uma porcaria. Vivem deixando as coisas caírem. – Will resmungou e colocou as chaves no bolso. – Já avisei para Heitor, mas ele não escuta.

Jay respirou aliviado. Uma briga que ele não podia vencer foi evitada. Seus batimentos cardíacos começaram a desacelerar.

– Eu vou falar com ele. – Kalila disse para Will. Jay ficou impressionado na capacidade da mais velha em manter a calma.

– Como se ele te escutasse. – Will brincou. – Vou dormir. Não demore muito, está bem? Amanhã o dia vai ser longo.

Will bagunçou uma última vez os fios brancos no topo da cabeça da garota de pele morena e seguiu para fora das masmorras. Kalila assistiu o filho de Clayton ir embora e apenas quando ele fechou a porta voltou a se mover.

– Vamos. – Kalila os apressou.

– Como vamos tirar as algemas? – Jay perguntou com a voz baixa.

Will havia levado as chaves, impossibilitando que eles abrissem as algemas para libertar os amigos. Kalila entrou na cela e sacou o que parecia um cabo de uma faca. Inseriu o cristal que carregava no pescoço no cabo e ele se iluminou. Uma forte luz começou a sair do cabo e tomou a forma de uma adaga. Ela passou a adaga de luz primeiro pelas algemas de Arkin e as cortou com tanta facilidade que fez parecer que o forte e pesado metal fosse de manteiga. Kalila depois cortou as algemas de Evie, porém quando se abaixou para fazer o mesmo com Ben, ele recusou e se agarrou nas grades da cela.

– Eu não vou. Não posso ir. – Ele disse com a voz rouca, fitando o chão. Tinha olheiras nos olhos, um ar de completa derrota.

– Ele está assim desde que Will contou sobre a morte do rei. – Evie revelou baixo.

Kalila, abaixada ao lado de Ben, o mirava com atenção.

– Por que você não pode ir? – Ela perguntou calma, como se tivessem todo o tempo do mundo.

– Não tenho o direito. – Ben respondeu, fechando os olhos com força para conter as lágrimas que escorriam.

– Você pode choramingar depois, Ben. – Jay disse apressado. O filho de Jafar chegou mais perto para puxar o amigo. Antes que pudesse fazer isso, Kalila estendeu a mão para que ele parasse.

Sem tirar os olhos de Ben em qualquer momento, Kalila depositou a mão gentilmente na bochecha do rei e com o polegar enxugou as lágrimas que molhavam o seu rosto. Pela primeira vez, Ben ergueu os olhos para mirar a garota.

– Ben, para o passado não há mudança, apenas para o futuro. Se quer fazer algo para se redimir, deve tentar salvar o que ainda pode ser salvo. Heitor, Will e Helena não podem. Os seus amigos e as crianças da Ilha que vivem em medo podem. Você é a chave para a paz no reino. – Ben negou veemente com a cabeça, chorando ainda mais. Kalila moveu a mão para o topo da cabeça do rapaz. – É sim. É o seu destino.

– Como você tem tanta certeza?

– Eu sou mais velha que você. Sou mais esperta. – Kalila sorriu e deu um longo beijo na testa dele – Preciso que você se acalme. Consegue fazer isso por mim? – Ben concordou com a cabeça e permitiu que Kalila cortasse as algemas. Ele ainda tinha a respiração rápida, como se faltasse fôlego. Percebendo o terrível estado emocional em que o mais novo se encontrava, ao remover o cristal e guardar o cabo, Kalila segurou a mão de Ben. – A gente vai sair daqui juntos, está bem? Só irei soltar sua mão quando você estiver seguro, do lado de fora dos muros.

Descendentes 4Onde histórias criam vida. Descubra agora