Will marchava pelos corredores sombrios do castelo, guiando Ben e Arkin com mãos presas em cordas apertadas. Ben, com os punhos cerrados, lutava em vão para se soltar, a indignação fervendo nos olhos.
— Onde está Mal?! — Sua voz ecoou, carregada de fúria.
Will não respondeu. Silêncio foi sua única resposta.
Dois guardas esqueléticos, com armaduras antigas que tilintavam como ossos ao vento, se juntaram à escolta. Ben reconhecia vagamente aquele caminho — conduzia ao porão, uma ala que seu pai sempre descrevera como proibida, um lugar de nada além de poeira e velhas lembranças. Mas ao passarem pelo umbral de uma imensa porta de ferro, a verdade caiu sobre ele como uma lâmina.
O que viu, não eram apenas escadas antigas. Eram as profundezas de Auradon. As masmorras.
Tochas trêmulas lançavam sombras pelas paredes de pedra, revelando celas vazias... ou quase vazias. Em algumas, havia ossos humanos, esquecidos pelo tempo. O ar cheirava a umidade, ferro e segredos enterrados.
— Meu pai disse que Auradon não tinha masmorras... — Ben murmurou, a voz trêmula.
— Estas celas parecem mentira para você? — Will respondeu com frieza, fazendo as chaves girarem lentamente entre os dedos.
O coração de Ben batia em descompasso. Era impossível aquilo ter sido construído em um dia. Era parte do castelo desde o início. Um segredo... uma mentira.
Arkin percebeu o abalo em seu companheiro e o cutucou com o ombro.
— Sabe o que isso significa, não? — Sussurrou, o sorriso leve contrastando com o clima tenso. — Vamos encontrar sua amiga. E seus pais também.
A notícia não foi capaz de animar Ben. Mal havia lhe mostrado o quanto os filhos dos vilões haviam sido injustiçados. E agora, descobria que o castelo em que cresceu carregava prisões ocultas.
A luz fraca iluminou Evie, acorrentada numa das celas. Ela ergueu os olhos ao ver Ben.
— Ben! — Ela exclamou, angustiada.
— Vai ficar tudo bem. Mal vai nos tirar daqui. — Garantiu ele.
Will soltou uma risada seca. Sem cerimônias, empurrou os dois jovens para dentro da cela e os prendeu com correntes pesadas. O ferro parecia ter peso de culpa, impossível de erguer.
Quando Will trancou a cela, Ben correu para as barras de ferro.
— Espera! Onde estão meus pais?! O que você quer? Ouro?
Will parou. Voltou devagar, o olhar escuro cravado em Ben. A cicatriz no lado direito do rosto cintilava sob o brilho da tocha, uma lembrança viva de dor. O corte começava na sobrancelha e descia até o maxilar do rapaz moreno.
— Acha que tudo se resolve com ouro?
— Vocês não precisam agir assim...
— Assim como? Como monstros? — Will sussurrou, a voz agora gélida como a masmorra. — Escute com atenção, príncipe: os verdadeiros monstros são os que nos criaram. Você quer saber de quem é essa guerra? Do seu pai. Os vilões e seus filhos foram tratados como algo pior que lixo. Nunca tivemos comidas frescas na Ilha. A mãe de Evie e Jay morreram durante uma praga que se alastrou e destruiu lares nos primeiros anos da ilha, vinda da comida contaminada. Raros eram os remédios que nos enviavam, sempre insuficiente para todos. Nunca faltou remédio para você, certo? O pai do seu amigo Harry morreu por uma doença que poderia ser curada. — Will fez uma pausa, o olho dele lacrimejava. Will deu uns passos para o lado, para ter uma melhor visão de Evie. — E você... Você viveu a mesma vida miserável que a gente, ainda assim se aliou a eles na primeira oportunidade. Virou as costas para o nosso povo. É por isso que vai apodrecer aqui, traidora.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Descendentes 4
AdventureApós a destruição da barreira e a reconstrução da ponte, alguns vilões e seus descendentes encontraram um lugar no mundo e tentaram viver em paz. No entanto, nem todos ficaram satisfeitos com essa nova realidade - e com razão. A maioria dos vilões n...