Dois mundos

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Will conduzia Ben e Arkin pelo castelo. Os dois estavam amarrados, só Ben tentava se soltar das mãos de Will.

– Para onde estão levando Mal? – Ben exigiu saber, mas Will o ignorou.

Dois guardas esqueléticos se juntaram a Will para levarem os novos prisioneiros. O caminho conduzido pelo filho de Clayton era estranho para Ben. Pelo o que lembrava, aquele caminho daria no porão, um local que nunca frequentava, pois era proibido pelo pai.

Will abriu a porta do corredor, revelando as escadas do porão. Eles desceram e a imagem foi chocante para Ben.

Não era um porão como os pais haviam lhe dito. Eram as masmorras do castelo. Várias celas vazias, com a péssima iluminação de tochas nas paredes do corredor.

Seu pai lhe garantiu que o castelo foi construído como símbolo de paz, e por isso não possuía masmorras. Eles passaram por várias celas e Ben notou que em algumas haviam ossos humanos.

– Meu pai disse que não haviam masmorras no castelo de Auradon. – Ben disse atordoado.

– Estas celas parecem mentiras? – Will falou bastante calmo à sua frente, mexendo nas chaves das celas.

Ben não soube responder. Os invasores só estavam ali há um dia, não teriam tempo de construir uma estrutura tão grande. Ele olhava para o chão, pensativo. Não fazia sentido o pai mentir. Nunca havia mentido para o filho, afinal era um dos heróis.

Arkin notou Ben perturbado e o cutucou com o ombro. Ben o olhou confuso. Arkin estava sorrindo.

– Sabe o que isso significa, não? – Arkin sussurrou com cuidado para não ser ouvido. – Vamos achar sua amiga e seus pais.

A notícia não foi capaz de animar Ben, mas ele tentou forçar um sorriso. Não estava sendo fácil para Ben receber aquelas informações. Mal lhe contou sobre a injustiça que o Capitão Gancho sofreu, e agora descobriu que existiam masmorras no subsolo do castelo que viveu toda a sua vida.

Não demorou para Will finalmente parar na frente de uma das celas. Quando Ben parou, ele viu Evie, sentada no chão com as mãos amarradas em correntes.

– Ben! – Evie exclamou com preocupação.

– Fique tranquila. – Ben falou. – Mal vai nos tirar daqui.

Will emitiu uma risada baixa e debochada. O rapaz conduziu os dois menores para o interior da cela e amarrou as mãos deles nas correntes de metal. Eram tão pesadas que Ben tinha dificuldade para levantar os braços. Quando Will trancou a cela, Ben correu para as barras de ferro.

– Espera! – Ben gritou, ofegante. – Cadê meu pai e minha mãe? O que você quer? Ouro?

Will cerrou o olho, observando Ben. Ele caminhou em silêncio para ficar de frente para o loiro e aguardou que continuasse. Will aproximou o rosto para examinar Ben mais de perto. A péssima iluminação do local permitiu que Ben passasse a enxergar apenas a longa cicatriz do lado direito do rosto de Will. O corte começava na sobrancelha e descia até o maxilar do rapaz moreno.

– Acha que dinheiro vai fazer tudo ser resolvido?

– Vocês não precisar agir assim.

– Assim como? Monstros? Com o tempo vai perceber que o verdadeiro monstro não sou eu, nem Heitor, Helena ou Kalila. Sabe por quê? O verdadeiro monstro é quem nos criou. Todos os vilões a solta, todos nós, somos fruto da crueldade do seu pai. Essa guerra é culpa do seu pai. Os vilões e seus filhos foram tratados como algo pior que lixo. Nunca tivemos comidas frescas na Ilha. Raros eram os remédios que nos enviavam, sempre insuficiente para todos. Nunca faltou remédio para você, certo? Eu vi gente morrer por doenças que poderiam ter sido curadas se seu bondoso pai tivesse mandado os remédios, se tivesse mandado médicos ou levado os doentes para o luxuoso hospital de Auradon. Sabia que o pai de Harry poderia ter sido salvo se tivesse remédio apropriado? – Will fez uma pausa, o olho dele lacrimejava. Will deu uns passos para o lado, para ter uma melhor visão de Evie. – E você... Você viveu a mesma vida miserável que a gente, ainda assim se aliou a eles na primeira oportunidade. Virou as costas para o nosso povo. É por isso que vai apodrecer aqui, traidora.

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