Minha Chance

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Mal correu pelo castelo em busca da saída. Correu e correu, cruzando a grande ponte de Corona e entrou na floresta. A chuva incessável molhou todo seu corpo, espalhando o sangue que escorria de seu rosto. A adrenalina não permitia que ela sentisse o frio que com certeza a derrubaria naquela tempestade. A respiração tão pesada demonstrava o quanto a rainha estava cansada e exausta. O único motivo que a mantinha de pé era o ódio que sentia por Heitor. Não deixaria que ele lhe tirasse a única coisa que trazia paz para ela nesse momento de guerra.

– Maligno! – Mal gritou tão alto que sua garganta ardeu. – Maligno! – Ela chamava o tio competindo com as trovoadas da tempestade.

O relampejar que veio em seguida iluminou toda a floresta por um milésimo de segundo. Pela primeira vez desde o início da corrida, Mal sentiu frio que fez todo seu corpo se arrepiar.

Maligno surgiu por entre as árvores com o cajado na mão. Ele nada falou. Apenas parou na frente de Mal a observando, como se analisasse o desespero e ódio estampado no seu rosto.

– Ele sabe. – Mal falou primeiro, recuperando o fôlego. – Ele levou Ben. Amanhã... Amanhã vai matá-lo ao lado de Bela.

Ao contrário da rainha, Maligno permanecia calmo, a observando enquanto se aproximava.

– O que você quer fazer? – O homem perguntou.

– Vamos salvá-los. Ben e Bela! – Mal tremia todo o corpo, não sabia se por medo ou por frio.

– Você sabe o único jeito para salvar seu amado. Não sabe? – A rainha observava o tio, procurando pela resposta de sua pergunta. Mal parou. Nunca tinha cogitado a morte do irmão, apesar de tudo. Percebendo a hesitação da sobrinha, Maligno riu tão alto que ecoou pela floresta molhada. – Heitor já lhe tirou tanto e continua a amá-lo. O único jeito de você derrotar é abrir mão desse amor. Abrace o ódio, Mal. Assim como eu fiz, assim como seu irmão fez. Ele te odeia. – Maligno dizia calmo. Um raio acertou uma árvore próxima a eles. – Retribua esse sentimento. Maligno direcionou o cajado para o corpo de Mal e uma rajada verde começou a atingir a mulher. – Ele te humilhou na frente de todos. – A voz de Maligno era alta para sobrepor o som da tempestade. Mal gritava em extrema dor, recebendo o feitiço do tio. – Retribua o ódio que Heitor despejou em você. Pense em quanta dor ele já te causou! Se ele estava vivo esse tempo todo e realmente se importasse com você, ele teria voltado antes para te ajudar na guerra! Se ele tivesse voltado, você não teria perdido o castelo! Todos ainda estariam vivos! Carlos estaria vivo!

O grito de Mal foi maior do que os trovões. A energia verde que acumulou dentro da mulher explodiu para todos os lados, destruindo vários metros da floresta.

A energia explosiva se esvaiu e agora era apenas uma aura ao redor de todo o corpo de Mal. Os olhos verdes da mulher agora eram brancos.

Mal se sentia invencível. Maligno bateu o cajado no chão. Uma fumaça amarela envolveu a envolveu e a transportou para o salão principal do castelo de Auradon.

No local, estavam apenas Ben e Bela amarrados, sentados no chão. Ben arregalou os olhos ao ver o estado atual de Mal. Maligno já não estava mais com ela.

– Heitor! – Mal gritou tão alto que ecoou por todo o castelo.

A porta do salão principal explodiu pelos ares. Heitor apareceu os braços cobertos por chamas azuis. O cabelo do rapaz também estava envolto das mesmas chamas que cobriam seus braços. Kalila vinha logo atrás.

– Aí está você, leãozinho. – Mal disse satisfeita.

– Então você ficou mais forte... Mas a que custo?

– Um custo pequeno ao que quero. Você me disse para ficar mais forte e aqui estou.

– Ele realmente te fez de idiota.

– Ninguém mais vai me fazer de idiota! – Mal gritou, disparando uma rajada verde contra Heitor.

O rapaz retribuiu com igual poder, vindo de suas chamas que mudavam de azul para laranja à medida que precisava de mais energia para conter o ataque de Mal. Kalila correu na direção de Ben e Bela.

– Afaste-se deles! – Mal esbravejou para Kalila, erguendo o braço para atacar a mulher, mas recebeu um soco direto de Heitor.

– Sua luta é comigo, pirralha!

– Eu vou matar você! – Mal retrucou, atingindo Heitor em cheio com um raio verde.

Heitor foi jogado contra a parede. Tamanha foi a força do ataque que destruiu parte da parede do castelo.

O rapaz retribuiu o ataque com chamas laranjas que incineraram metade do salão principal e jogaram Mal para longe. A mulher estava no chão, se recuperando do impacto.

A rainha se pôs de pé e os dois continuaram a luta, em pé de igualdade. O teto do castelo foi completamente destruído pelo poder dos dois, e a chuva continuava ali, agora molhando todo o interior do salão.

Heitor tinha o rosto coberto de sangue e seu corpo começara a ceder ao cansaço. Mal também estava bastante ferida, mas a aura verde as seu redor continuava forte. Alguns dos destroços do teto caíram sobre Kalila e a mulher foi ao chão ferida.

– A forma como você conseguiu este poder... Não vai ser suficiente para me derrotar. Sabe por quê? Porque você ainda me ama, Mal. Enquanto você me amar, não vai conseguir me matar.

– Eu ainda te amo, é verdade. – Mal admitiu. – Mas sabe o que percebi? Não importa o quanto eu te ame, meu ódio por você é mais forte. Você não tem ideia.

Dito isso, Mal disparou uma enorme rajada verde. Heitor retribuiu o ataque com as chamas laranjas. Por um momento, pareceu que os dois poderes eram iguais, porém logo a rajada de Mal foi ficando mais forte e ganhando espaço na disputa. As chamas de Heitor, antes laranjas, agora eram azuis. Mal, aos poucos, ganhava mais e mais espaço, até que as chamas de Heitor foram completamente engolidas pelo poder de Mal e o rapaz voou para longe, parando onde antes tinha a grande porta do salão principal.

O corpo de Heitor doía tanto que ele não conseguia se por de pé, apenas olhava para a irmã se aproximar.

– Você disse que não podia te derrotar. – Mal disse. – Que eu era muito fraca. O que me diz agora?

– Você ainda não me derrotou, nem nunca vai se sentir vitoriosa, porque esse poder que você obteve custou muito mais caro do que imagina. Você nunca vai ter poder suficiente para se sentir forte, nem reverter tudo o que já foi feito. Por isso, por mais que eu esteja no chão e você de pé, eu ainda assim ganhei.

– Você continua presunçoso. Que tal então eu arrancar suas asas, irmãozão?

Dito isso, Mal ergueu o braço na direção do corpo caído no chão de Kalila.

Pela primeira vez em toda sua vida, Mal viu a feição de medo no rosto de Heitor. 

Descendentes 4Onde histórias criam vida. Descubra agora