Descendentes 4

Como um grande homem deve ser

Era tarde da noite quando Will acordou Evie de seu sono profundo na floresta.

– Está na hora. Cruella está chegando.

Como treinado, Evie pegou sua adaga e suprimentos. Tenzo e Will tinham montado as armadilhas e ela via os dois correndo na mesma direção. Tenzo iria seguir na linha de frente na defesa principal, enquanto Will deveria encontrar Shere Khan.

Evie montou em Bagheera e os dois foram para o posto. Explosões começaram a serem ouvidas. Eram os homens de Cruella caindo nas armadilhas preparadas.

Gritos humanos e rugidos dos mais diferentes animais ecoavam por entre as árvores. A batalha era intensa. Evie corria com Bagheera em várias direções, resgatando os animais feridos na luta e prestando os primeiros socorros. A chuva forte naquela noite atrapalhava o deslocamento deles. Apesar de conseguirem a vantagem ao sabotarem as armas de fogo do inimigo, as armaduras que trajavam e armas brancas tornavam a briga difícil.

Evie percorreu até a linha de frente para ver se haviam feridos. Para sua surpresa, Tenzo não estava lá. Procurou pelo rapaz, mas sem sinal dele. Seu instinto lhe dizer para se preocupar.

– Bagheera, vamos achar Will.

A pantera rugiu em concordância. Com o olfato apurado, localizou Will um pouco mais afastado. Evie reparou que a espingarda que Will sempre carregava no corpo não estava com ele e se preocupou. Lutava contra Shere Khan apenas com a lança mágica em punhos. Mesmo com a desvantagem de ter um braço a menos, Will era um forte oponente. Tenzo tinha se juntado ao rapaz, porém o tigre gigantesco não parava de atacar.

Evie notou próximo ao chão uma cobra se aproximar sorrateira pelas costas de Will. Era Kaa e ela se preparou para dar um bote no calcanhar de Will.

A filha da rainha má foi mais rápida e precisa. Disparou a adaga contra a cobra e acertou sua cabeça. A cobra caiu imóvel, morta.

– Nada mal, princesa.

– Era uma donzela indefesa.

Shere Khan acertou as garras no peito de Will, rasgando sua pele. Tenzo pulou nas costas do tigre e apertou o seu pescoço. O ataque fez Shere Khan ignorar Will e focar em se livrar de Tenzo.

O filho de Clayton cravou a lança na perna traseira do tigre. Tenzo saltou do inimigo que perdia o equilíbrio. Com um último movimento fatal, Will atravessou o crânio de Shere Khan com a lança e o animal foi ao chão sem vida.

– Cadê sua espingarda?

– Uns orangotangos levaram. – Will respondeu, jogando a lança nas mãos de Evie para examinar seu ferimento.

– Rei Louie. Aquele macaco medroso deve ter se juntado a Shere Khan e Cruella. – Resmungou Tenzo.

– Você tem que voltar para a linha de frente. – Will instruiu. – Ainda não achamos Cruella.

O som de espingarda disparando ecoou.

Para Evie, tudo se moveu em câmera lenta.

Gotas de sangue caíram no rosto dela, se misturando com a água da chuva. Um buraco foi aberto no tórax de Will. Seu corpo ia ao chão. Tenzo gritou. Evie olhou para trás.

Cruella tinha o cano da arma apontada para o grupo. Ela puxou o gatilho de novo, mas nada aconteceu. A mulher largou a espingarda e correu para longe.

As pernas de Evie se moveram involuntariamente na direção de Cruella, em uma velocidade que ela nunca tinha alcançado antes.

Com toda sua força, Evie atirou a lança e acertou as costas de Cruella. A mãe de Carlos rolou pelo chão. Ela gritava por socorro e piedade, mas para Evie parecia mais um som abafado do que palavras reais.

Um raio acertou uma árvore. O galho pegando fogo caiu bem ao lado de Cruella.

A assassina de Carlos. A assassina de Will.

Evie andava devagar até ela, enquanto Cruella rastejava pelo chão para tentar escapar. A lança permanecia cravada em suas costas, Cruella não tinha força para tirar.

No caminho de Evie, tinha uma grande pedra. A mulher se abaixou para pega-la como se tivesse todo o tempo do mundo. Cruella pegou o galho em chamas para se defender. Evie se aproximou com a pedra para finalizar a mulher.

– Se afaste! – Gritou Cruella. Ela acertou o galho em chamas no rosto de Evie, queimando seu rosto. Evie parecia anestesiada de tudo, não sentiu a dor da queimadura que consumiu a lateral do seu rosto.

– Cruella, sabe qual é o ponto fraco muito comum de várias espécies? – Evie perguntou calma. – A cabeça.

Evie soltou a pedra no meio da cabeça de Cruella. A pedra afundou no rosto da mulher. Seu corpo parou de se mexer instantaneamente.

Evie puxou a lança das costas de Cruella e voltou para encontrar Will.

A chuva tinha ficado mais forte. Tenzo estava ajoelhado no chão, ao lado do corpo de Will.

– Vá terminar a batalha. – Evie disse ao entregar a lança para Tenzo.

Quando o rapaz foi embora, a dose de adrenalina que tinha tomado conta de Evie se esvaiu. Ela sentiu todas as dores possíveis em cada milímetro do seu corpo. Se ajoelhou e abraçou o corpo inerte de Will, enquanto as lágrimas caíam sem parar.