Encontro no mar

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Quando o sol nasceu, o Jolly Roger já estava cheio de movimento em seu interior. Os guardas esqueléticos invocados por Heitor corriam para todos os lados no convés, obedecendo as ordens da capitã do navio pirata.

Segurando no leme para conduzir o navio, Helena gritava ordens à tripulação. Havia desatracado o navio para facilitar a condução quando o inimigo chegasse, dando voltas pela Ilha dos Perdidos enquanto aguardava o ataque que graças a Audrey não seria mais surpresa.

Helena ainda não tinha estado na Ilha desde que voltara para Auradon, não desejava pisar lá. Só a simples visão do local fazia sua mente viajar por várias lembranças dolorosas de sua infância, como o dia que recebeu o grande chapéu de plumas vermelho que usava no momento.


A filha do Capitão Gancho tinha acabado de completar onze anos, mas desfrutar da infância é um privilégio apenas para quem não mora no interior da Ilha dos Perdidos. Helena estava em casa, trocando a toalha úmida da testa do pai por uma nova.

O Capitão Gancho estava deitado em uma velha cama, ardendo em febre e tossindo muito. Com o avanço da doença, ele tinha dificuldades até para levantar. Helena passava cada vez mais tempo em casa, cuidando do pai debilitado.

Harry estava no quarto do pai, sentado no chão, contando a mais recente aventura que teve com Uma e Gil, quando Helena entrou com uma toalha quente e um copo.

– Eu terminei de ajeitar o jantar. Arruma a mesa para a gente, Harry. Uma e Gil já devem estar chegando. – Helena pediu, colocando o copo com chá para o pai no criado-mudo ao lado da cama.

– Você vai jantar com a gente, pai? – Harry perguntou esperançoso, se pondo de pé. A pergunta fez o Capitão Gancho sorrir fracamente.

– Talvez amanhã. – O pai respondeu com a voz rouca. – Já estou melhorando.

– Anda, Harry. – Helena apressou o irmão, o empurrando para fora do quarto. Ao fechar a porta, Helena pegou o copo que havia encostado no criado-mudo. – A enfermeira sugeriu esse chá para você.

Com dificuldades, o Capitão Gancho ergueu o tronco do corpo para sentar na cama mesmo com a ajuda de Helena e pegou o copo oferecido. Quando terminou de tomar o chá, o homem levantou o olhar para a filha e percebeu a expressão de tristeza que ela tentava esconder.

– Queria que você fosse fácil de enganar como Harry. – Ele falou, devolvendo o copo vazio para a filha. – Você sabe que eu não tenho muito mais tempo.

Helena não respondeu. Nem se quer olhava para o pai, pois era doloroso demais vê-lo naquele estado tão doentio em que se encontrava.

– Você tem passado muito tempo aqui. – O Capitão Gancho continuou. – Já lhe disse para não fazer isso. Não vale a pena.

– A gente vai conseguir seu medicamento, pai. – Helena falou, finalmente olhando o pai nos olhos. O nó na garganta doeu ao falar, e ela sentia os olhos ardendo por tentar conter as lágrimas que queriam escorrer por seu rosto. – Vamos sequestrar os guardas quando eles entrarem amanhã e usa-los na troca pelo seu tratamento. Heitor já armou o plano.

– Ele é bom garoto, fique perto dele. – O Capitão Gancho sorriu fraco.

– Ele está sempre batendo no Harry. – Helena disse, sentando na cama ao lado do pai.

– Harry precisa ser forte. – O pai falou. Fez uma pequena pausa para tossir, e logo continuou. – Mas não, vocês não irão sequestrar os guardas. – Quando ouviu a fala do pai, Helena tentou se levantar para protestar, mas o homem encostou o gancho na perna dela para impedi-la. – Se fizerem isso, minha querida, eles vão reforçar a segurança. Vocês devem usar essa brecha para sair daqui, não para salvar um velho condenado. Já lhe disse que não quero que desperdice sua vida cuidando de mim.

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