Amigos do outro lado

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Sentia um grande frio do lado esquerdo do rosto. O vento congelante lhe tocava a pele. Jay estaria tremendo se não tivesse uma pesada colcha azul claro enrolando seu corpo. Ele levantou o corpo e olhou ao redor. Estava em uma caverna que tinha dois grandes buracos acima de um enorme e largo buraco que o permitia ver o mar iluminado pelo luar. Não foi levado de Auradon, dali podia ver o Jolly Roger ancorado ao longe, perto do castelo do rei Ben. Forçava a memória para saber onde estava. Se estivesse correto, estava na caverna da caveira.

A cabeça explodiu em dor. Tentava recordar o que aconteceu. Sua última memória foi Kalila colocando um pano em seu rosto. Depois disso, havia desmaiado. Mas não foi capturado, não estava amarrado. Será que os amigos o haviam encontrado?

Jay levantou e apalpou as vestes a procura da sua faca. Ainda estava com ela. Sacou a arma e começou a andar pela caverna. Andado com cuidado para não fazer barulho, ele viu uma fraca luz azul próxima ao mar. A luz vinha do colar de uma garota, sentada na beira do mar, que tinha os pés escondidos na água salgada. Ela mexia no pequeno colar, o olhar era fixo na água escura. Mesmo vendo apenas as costas da garota, sabia quem era. Não conhecia ninguém que tivesse o cabelo branco a não ser sua irmã.

– Que bom que acordou. – Kalila falou calma com sua doce voz, ainda de costas para o rapaz. – Pode vir aqui?

Jay não respondeu. Não sabia o que fazer. Não podia confiar na garota. Kalila soltou um longo suspiro triste antes de levantar.

– Não se aproxime. – Jay disse com a voz trêmula. – O que você fez com meus amigos?

Ignorando o pedido do irmão, Kalila caminhou até ele enquanto respondia a pergunta.

– Mandei os guardas atrás deles. – Kalila respondeu. Jay mirou a faca para ela, tentou manter o pulso firme. – Mal apareceu no navio logo depois. Tentaram te achar, mas eu os expulsei. Eles fugiram de volta para a fortaleza.

– Mal? Ela foi para o castelo.

– Heitor a jogou para fora. Ben e o outro garoto foram presos. Agora são prisioneiros, na mesma cela de Evie. – Kalila respondeu. Jay, ainda suspeitando de tudo, olhou ao redor procurando por alguma armadilha ou um dos companheiros da irmã.

– E quanto a mim? – Ele perguntou. – Sou seu prisioneiro?

– Você é livre para ir, se quiser. A maré está baixa, facilita sua ida. – Kalila apontou para o mar. Jay franziu o semblante confuso. Tranquilamente, Kalila ajeitou a curta saia clássica dos moradores de Atlântida que grudava nas suas pernas molhadas. Ela parou o olhar em Jay e aguardou em silêncio alguma resposta que nunca veio. – Vai me ouvir? Se for, por favor abaixe a faca.

– Você está com Heitor. Não posso confiar em você. – Jay ergueu a faca para o rosto de Kalila.

– Realmente acredita que eu te farei algum mal? – Ela perguntou e aguardou. Jay, confuso, não sabia responder. Kalila era sua irmã e mesmo que estivesse com Heitor, queria acreditar que ela era a jovem gentil e bondosa que conhecia. Com receio, Jay decidiu abaixar a faca. – Sinto muito pela falta de delicadeza para te trazer aqui, Jay. Mas se eu tivesse pedido, você não teria vindo, certo? – Os lábios de Kalila se alargaram em um sorriso e Jay, involuntariamente, a imitou em concordância. – Eu precisava de um lugar seguro para falar com você. Tenho algo importante para te falar, mas preciso que me escute bem, meu irmão. – Kalila caminhou devagar até Jay e ergueu a mão na altura do peito. – Confia em mim?


O pequeno Jay, em seus sete anos de idade, corria pelos corredores da ilha com muita pressa. Como era tarde da noite, não havia ninguém pelas ruas, facilitando a corrida. Tinha que chegar ao outro lado da ilha logo. Hoje era dia da visita dela! Cada segundo era valioso, não podia perder tempo.

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