Com a partida do exército do rei Eric e o final de toda a confusão, tudo parecia calmo. O Jolly Roger estava ancorado próximo ao castelo de Auradon. Helena era a única pessoa no navio. Deitada no corrimão, com o enorme chapéu de plumas vermelho cobrindo o rosto e as mãos apoiando a cabeça, ouvindo o único som no ambiente: as ondas do mar.
Uma fumaça rosa surgiu no meio do navio e ao se dissipar, revelou Audrey com o cetro de Malévola na mão.
– Tudo ocorreu bem, pelo visto. – Audrey comentou, caminhando até Helena.
– Claro. Esta é a razão da visita? Se gabar? – Helena questionou e sentou no corrimão.
– Também. – Audrey respondeu. – Vim ouvir um agradecimento pela informação que passei.
Helena abriu um sorriso debochado, mas não chegou a responder. Uma fumaça, agora vermelha, se formou próximo a Helena e ao se esvair, mostrou Kalila segurando o cajado de Jafar.
De imediato, Audrey apontou o cetro em Kalila e teria atacado, se Helena não tivesse erguido a mão em um pedido silencioso para que não atacasse. Kalila, por sua vez, focava em Helena, ignorando por completo a existência de Audrey.
– O que ela está fazendo aqui? – Audrey perguntou, ainda apontando o cetro para Kalila.
Sem paciência, Kalila bateu com o cajado no chão e um forte impulso derrubou Audrey para o outro lado do navio.
– Não sei como você aguenta essas birras. – Kalila comentou. Helena respondeu exalando de maneira exagerada. – Tem algo para mim?
– Você duvidou? – Helena respondeu em tom de brincadeira, entregando o colar de concha pertencente a Uma para Kalila. – Os meninos estão no castelo.
Kalila pegou o colar e caminhou normalmente até o castelo. Helena voltou a focar em Audrey.
– O que está acontecendo? – Audrey perguntou com raiva, se levantando com a ajuda do cetro.
– Essas perguntas óbvias fazem você ficar igual às mocinhas dos contos de fadas, querida. O que lhe parece estar acontecendo?
– Parece que vocês não confiam em mim e não me contaram o plano todo. – Audrey falou entre os dentes, se aproximando de Helena com raiva por ter sido excluída de parte do plano.
– Você deve aprender, querida, que não se deve confiar em vilões. – Helena disse com um sorriso debochado, sem se preocupar com a fúria da mais nova.
– Significa que eu não deveria confiar em você?
– Isso na verdade seria bastante inteligente, mas eu não sou a vilã da sua história, certo?
Como qualquer criança da realeza, Audrey nasceu com o destino planejado pelos pais. Nascida poucos meses depois do filho do rei Fera, ficou acordado entre os monarcas o casamento dos dois, para manter a união harmônica entre todos. Durante toda sua infância, a princesa Audrey foi ensinada a ter o mais alto padrão de etiqueta.
Certa vez, aos sete anos, quando Audrey era arrumada pela avó, conversavam sobre seu destino com o príncipe Ben.
– E então? Como foi hoje no castelo do príncipe Ben? – Perguntou a avó, enquanto escovava o cabelo de Audrey na frente no espelho.
– Foi bom. Brincamos de resgate a princesa novamente. – Audrey respondeu. Seu tom era tímido, muito diferente do usual.
– O que houve? – Questionou a avó ao notar a diferença.
– Não é nada.
– Audrey... Sabe que pode contar tudo à sua avó. Não há segredos entre aqueles que amamos.
Audrey observou pelo reflexo do espelho a avó. Não havia como não contar para ela. Era sua avó e a amava. Sem segredos.
– Hoje... – Começou a contar com certo receio. – O príncipe Chad me convidou para o castelo dele.
– O filho de Cinderela... Entendo. O príncipe Ben também?
– Não.
– Audrey, você sabe que foi prometida ao príncipe Ben. Como princesa, deve ficar com ele e mais ninguém.
– Por que não posso ser prometida ao príncipe Chad? Meus pais se casaram com quem amavam.
– Seus pais iriam se casar mesmo se não se amassem. Você vai aprender a amar o príncipe Ben, do mesmo jeito que eu aprendi a amar o seu avô.
– Eu gosto do príncipe Chad, vovó. – Audrey disse, os olhos já marejados de lágrimas.
– O príncipe Chad não faz parte da linhagem real.
– Em todas as histórias das princesas elas se casam com quem amam.
– Os tempos mudaram, Audrey. – A avó assumia uma posição mais severa agora. – Você é a única esperança da família para recuperarmos o status real. Você ama sua mãe e seu pai? Então proteja eles. Os contos de fadas também falam sobre os sacrifícios que temos que fazer por aqueles que amamos. – A avó disse. Nesse ponto da conversa, as lágrimas de Audrey escorriam pelo seu rosto. – Você deve ficar com Ben, porque é o melhor para sua família. Nenhum outro garoto oferecerá o que a família de Ben pode oferecer. Não irei deixar que nenhum garoto se aproxime de você, porque eu te amo e quero seu bem. E você não pode deixar que nenhuma garota se aproxime de Ben, porque você é a melhor parar ele.
Apenas muitos anos depois Audrey percebeu o tratamento abusivo vindo da avó. Seus pais, como adultos na época, nada fizeram para proteger a própria filha de toda aquela pressão psicológica. Foi por causa daquela pressão que havia se deixado levar pelo cetro de Malévola na primeira vez.
Quando Hades a recuperou após o incidente, ela se sentiu aliviada. Com Mal, havia encontrado perdão por suas ações. Jamais esqueceria de como se sentiu acolhida por pessoas que a faziam tão bem. Por essa razão, escolheu lutar ao lado de Mal assim que a guerra começou. Porém, dada a gravidade da guerra cada vez maior, se viu na obrigação de novamente usar o cetro, dessa vez para proteger seus amigos.
Era uma das armas mais poderosas da guerra, Audrey era imbatível no campo de batalha. Porém, mais uma vez, sua família viu nela a chance de recuperarem o status real que lhes fora usurpado pelo rei Fera. Philip foi um dos primeiros a declarar independência de Auradon e reaver o antigo território do reino, voltando a ser rei, após convencer Audrey a ajuda-lo. Com a independência, Philip trouxe vários aliados para o seu lado, tornando o reino um dos mais poderosos, após vários antigos monarcas seguirem seus passos.
Com o passar do tempo, as angústias de Audrey em relação à família aumentavam. Eles eram inferiores. Eles que deveriam servi-la. O reino deveria ser dela. Cada vez mais crescia em Audrey o desejo de vingança. Queria que a família pagasse.
Mas Mal não a ajudaria. Em outra época, talvez sim. Infelizmente, Mal não era mais uma vilã. Era rainha, mas sem confiança em si mesma e qualquer respeito da população. Para as intenções de Audrey, Mal era absolutamente inútil.
Audrey estava sem planos para alcançar seu objetivo. Foi quando Helena a encontrou. Com a promessa de que teria o reino e sua vingança, Audrey traiu seus amigos sem remorso. Sabia das intenções de Heitor, mas não lhe importava. Estava interessada apenas em tomar o reino e matar seus familiares.
– Querida, você entrou no modo de vilã pensativa de novo. – Disse Helena, se aproximando de Audrey.
– Farei todos pagarem. – Audrey apertou com cabo do cetro frustrada.
– Ah, Audrey. Você está tão presa no passado que nem consegue aproveitar o presente. – Helena comentou, passando a mão pela cintura de Audrey. Helena tirou o cetro da garota e pegou sua mão. – Nunca ouviu que a melhor parte de uma aventura é a jornada? – Ela perguntou, conduzindo Audrey para uma valsa, mesmo sem qualquer música.
– O que você está fazendo? – Perguntou Audrey, em uma mistura de raiva e confusão, mas se deixando ser guiada pelos passos de Helena.
– Aproveitando a jornada.
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Descendentes 4
PrzygodoweApós a destruição da barreira e reconstrução da ponte, alguns vilões e descendentes encontraram seu lugar no mundo e tentaram viver em paz. Porém nem todos ficaram felizes com os vilões a solta e com razão. A maioria dos vilões não quis um "felizes...