Aqui no mar

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Nas profundezas do Tártaro, Mal enfrentava mais um desafio. A filha de Hades estava cercada por oito espelhos. Todos refletiam a mulher, porém apenas em um tinha seu reflexo exato, nos outros apareciam versões diferentes de si mesma. Em um dos espelhos, Mal era uma criança novamente em seus sete anos. No outro, Mal tinha a exata aparência de quando deixou a Ilha dos Perdidos pela primeira vez. No próximo, Mal tinha o cabelo loiro que usou durante as primeiras entrevistas que foi obrigada a dar quando começou a namorar Ben. Em outro, Mal segurava a varinha mágica da Fada Madrinha e a mesma roupa que usou no dia que derrubou a barreira da Ilha dos Perdidos. No seguinte, poderia ser seu reflexo perfeito, com exceção da roupa que vestia, uma jaqueta igual a de Hades e na camisa havia uma estampa de caveira branca, como na bandeira do Jolly Roger. Eram exatamente as mesmas vestes de Heitor. Mas os reflexos que mais chamava sua atenção eram os dois últimos. Nesses, ela já estava bem mais velha, no meio de seus quarenta anos. Em um, ela usava a coroa de rainha de Auradon e o vestido amarelo igual ao de Bela. No outro, Mal tinha uma roupa negra, asas e chifres, exatamente como sua mãe e seu tio. A imagem lhe deu arrepios.

– O que eu tenho que fazer com vocês? – Mal perguntou examinando seus reflexos.

– A pergunta certa é: O que você fez com a gente? – Perguntou o seu reflexo exato.

– Eu ia escapar da ilha e governar um reino. – Disse a versão criança de Mal. – Consegui?

– Sim. – Mal respondeu com pesar na voz.

– Por que você está triste?

– Não foi como a gente imaginou.

– Por quê? Não treinamos caça-bandeira o suficiente? Uma atrapalhou? – A criança questionava de forma incisiva, sem aceitar que seu sonho não tinha virado a realidade que ela queria. – E Heitor? O que ele fez?

A criança tinha uma inocência natural na atitude. Mal sentia falta daquela época. Apesar das dificuldades, era um tempo mais simples. Um sorriso discreto abriu em seu rosto. A criança achava que Uma tinha atrapalhado em algo. Não poderia ser mais oposto.

– Você acha engraçado? – A versão de Mal que saiu pela primeira vez da ilha perguntou debochando.

– De você eu não sinto falta alguma. – Mal retrucou.

– Deveria. Eu fui sua melhor versão. Determinada a conquistar tudo.

– Determinada? Tudo o que você fazia era por medo.

– Quer falar de medo? É a única coisa que vejo nos seus olhos. O meu me fez roubar a varinha mágica. E o seu?

Mal não respondeu. Anos atrás, o medo da sua mãe, de não conseguir ser tão má quanto ela, a movia para seu objetivo. E de fato conseguiu. Porém também tinha enfrentado sua mãe, enfrentou seu maior medo para proteger o reino que nem era dele, por causa das pessoas que ela gostava. Mal virou para a versão seguinte de si mesma, distante apenas por poucos meses da versão anterior. Tinha mudado seu cabelo do roxo para o loiro, para se encaixar no padrão de Auradon. Para se encaixar no mundo de Ben.

– E você? – Mal chamou.

– Eu? – O reflexo mexeu no cabelo, observando o tom claro. – Eu estava com tanto medo do julgamento dos outros que nem me reconheço.

– Ficou com tanto medo que fugiu de volta para a Ilha dos Perdidos. – Mal concluiu. – Mas foi tão ruim? Voltou para onde você sentia que pertencia.

– É? Eu queria ter sido mais corajosa. Enfrentei minha própria mãe, mas fiquei com medo do que achavam de mim. Preferi correr de volta para o meu conforto ao invés de ter uma conversa com o homem que amo e construir algo com ele.

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