Dentro do castelo, Evie percorria os corredores, o som de seus passos ecoando pelas paredes. A luz do sol, que até então iluminava a imensa construção, começou a desvanecer. Algo estava errado. Ela olhou pela janela mais próxima e viu o céu, antes claro, se transformar em um mar de nuvens escuras e pesadas, prenunciando tempestade.
A primeira gota deslizou pelo vidro, seguida por uma torrente. Logo, a chuva tornou impossível enxergar além da janela. Mesmo assim, Evie conseguiu distinguir algo que fez o coração apertar. O chão do pátio começou a rachar como se algo profano estivesse emergindo. Dentre as fissuras, ergueram-se figuras esqueléticas, cobertas de ferrugem e poeira, brandindo espadas e usando capacetes corroídos pelo tempo.
— Heitor. — Evie murmurou para si.
Sem hesitar, correu pelos corredores. Avisou aos guardas, armando-se com uma espada da sala de armas. Era uma luta desesperada. Os guerreiros mais habilidosos do castelo haviam partido em uma missão e o que restava era insuficiente para conter o avanço do exército de mortos. Mas Evie não era uma princesa indefesa. Ao lado da guarda real, ela enfrentou os invasores.
Os esqueletos eram numerosos, e a defesa do castelo vacilava. O ataque surpresa tinha sido mortalmente eficaz, e as forças de Auradon estavam em desvantagem. Evie percebeu que não poderiam resistir para sempre. Determinada, tomou uma decisão. Precisava encontrar Bela e o Rei Fera, garantir que estivessem a salvo.
Os corredores pareciam infinitos, cada porta aberta revelando apenas escuridão ou salas vazias. Então, um som cortou a cacofonia da batalha: um rugido. Ela o reconheceu imediatamente. Fera. Seguiu o eco desesperadamente, mas o que ouviu a seguir gelou sua alma — rugidos de dor.
Evie alcançou o topo do castelo, onde a tempestade rugia mais feroz. Lá, na chuva torrencial, ela os viu. O Rei Fera estava ajoelhado, ensanguentado, diante de Heitor, cujos olhos brilhavam com ódio incontido. Ao lado dele, Helena e Will guardavam a cena como sentinelas sombrias. Trovões iluminavam o céu, revelando o estado deplorável do rei. Ele estava coberto de feridas, as roupas rasgadas e o sangue misturando-se à chuva que escorria por seu corpo.
Heitor chutou a face do rei e Evie denunciou a sua chegada.
Pisou mais na frente para o telhado. Ficou encharcada em poucos segundos por causa da forte chuva. Quando viram a garota se aproximando, Helena e Will ficaram entre ela e Heitor, que conversava com o rei. Mais de perto, Evie pôde ver o estado deplorável em que o rei se encontrava. Cheio de feridas pelo corpo, rasgos de espada, o lábio sangrando.
— Você não faz ideia do quanto sonhei com esse momento. — Heitor falava calmo, mas o ódio era evidente. Ele tossiu forte. — O seu erro, Fera, foi trancar a gente naquela ilha e nos condenar a sermos vilões. Por sua causa, crescemos odiados, temidos, sem razão alguma. Essa destruição do reino não é culpa da Mal. Você que nos transformou em monstros. A culpa é sua, Fera.
O rei levantou os olhos, sua expressão transbordando arrependimento.
— Eu errei com vocês. — Ele disse, a voz enfraquecida. — Não devia ter tratado vocês assim... Me perdoe.
Heitor riu, um som seco e sem alegria.
— Agora você me respeita? Enquanto nós apodrecíamos na ilha, você se banqueteava em luxo, sem se importar.
Com um movimento rápido, Heitor agarrou o pescoço de Fera e o ergueu do chão como se fosse um boneco de trapo. O rei lutou, agarrando o braço de Heitor, mas estava fraco demais para resistir. Ciente disso, Heitor carregou o homem para a ponta do telhado. Evie deu um passo à frente, mas foi imediatamente bloqueada por Helena, que apontou uma espada ensanguentada para ela, e por Will, que armou sua espingarda.
— É tarde demais para desculpas. — Heitor rosnou, arrastando Fera até a borda do telhado. A tempestade parecia responder à sua fúria, os trovões rugindo com mais força. Ele ergueu o rei, segurando-o sobre o abismo, onde uma queda de cinquenta metros o aguardava.
— Heitor, eu... — O rei tentou falar, mas o aperto em seu pescoço silenciou suas palavras.
— Auradon será governado por alguém digno. — Heitor disse com um sorriso cruel.
— Você? — Fera conseguiu perguntar, seu tom desafiador mesmo diante da morte iminente.
— Vida longa ao rei. — Heitor respondeu, seus lábios se curvando em desprezo. Então, abriu os dedos.
Evie gritou em protesto enquanto o corpo do rei despencava em queda livre. O som do impacto foi abafado pela chuva, mas a visão do corpo inerte no chão a fez cambalear. O sangue de Fera tingia a água da tempestade, misturando-se ao caos da noite.
O Rei Fera estava morto, e o silêncio que se seguiu foi mais ensurdecedor do que qualquer trovão.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Descendentes 4
AdventureApós a destruição da barreira e a reconstrução da ponte, alguns vilões e seus descendentes encontraram um lugar no mundo e tentaram viver em paz. No entanto, nem todos ficaram satisfeitos com essa nova realidade - e com razão. A maioria dos vilões n...