Tudo que desejar a uma estrela

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Era uma noite sombria no reino de Auradon. As estrelas eram testemunhas silenciosas da tensão que pairava no ar. No escritório da rainha tinha apenas a dona. Mal permanecia sentada em sua cadeira, com o olhar perdido na tela da televisão. O noticiário narrava os horrores de uma guerra que parecia interminável. Ao norte, o Governador Ratcliffe dificultava o transporte de alimentos pela floresta. O rei Phillip tinha êxito em conter forças das trevas que tentavam invadir seu território. A imagem de Audrey direcionando feitiços através do cetro de Malévola apareceu. Pai e filha lutando lado a lado para proteger a todos. Arendelle era vítima de ataques dos gigantes de pedra, porém Elsa era um oponente à altura. A Ilha dos Perdidos, uma vez lar de tantas histórias, agora estava deserta. Vilas do reino de Prydain destruídas pelo Rei de Chifres. Mal desligou a TV.

Respirou fundo, sentindo o peso de quatro anos de guerra sobre seus ombros. Cada decisão tomada por ela e Ben parecia corroer o sonho que haviam construído juntos. Que custo alto por um sonho. Ela tinha conquistado o próprio sonho de ter um reino para cuidar. Um reino que ficava menor com o passar do tempo, fosse pela invasão dos vilões, fosse pela revolta do seu próprio povo. Ela e Ben tentaram governar como melhor podiam. Teria sido a juventude ou a ingenuidade deles a verdadeira inimiga?

Ela se levantou e se aproximou do quadro que retratava ela e Ben no dia em que removeram a barreira da Ilha dos Perdidos. Era um momento de esperança, um símbolo de união. Mas agora, ao olhar para a pintura, a dúvida a assaltava. Se tivessem escolhido manter a barreira, Auradon ainda estaria inteiro? Afastou os pensamentos sombrios com um movimento da cabeça. Não importava. Ela lutaria pelo que restava. Por Auradon.

Com cuidado, removeu o quadro da parede, revelando um cofre dourado escondido. De dentro, retirou um velho livro de magias. O tom familiar da capa trouxe memórias de um tempo mais simples. Ao folhear as páginas, encontrou uma folha colada, um segredo de sua infância. Ali, rabiscados por mãos jovens, estavam duas figuras. Uma garota de cabelos roxos e um rapaz de cabelos azuis. Para Mal era uma foto perfeita. Ela deslizou os dedos pela imagem.

— Eu ainda lembro da nossa última brincadeira. — Mal sorriu saudosa. — Você saberia exatamente o que fazer hoje. — Murmurou, um sorriso triste curvando seus lábios.

Uma lágrima pingou no rosto desenhado do rapaz. Mal enxugou com cuidado e devolveu o livro ao cofre. Caminhou até a enorme janela da sala. Através do vidro, na entrada do castelo, Mal observou um rapaz, em seus vinte e um anos.

Jay.

Ele tinha o olhar fixo na grande estátua construída na frente do castelo. Uma majestosa estátua de ouro, em uma pose heroica, construída há poucos anos.

Mal mandara construir a estátua em homenagem ao falecido amigo, que se sacrificara como um herói para salvar o máximo de crianças possíveis das garras da própria mãe, Cruella de Vil, e os ferozes cachorros raivosos que ela controlava. A perda de Carlos marcou o início do sentimento de desesperança em todos que lutavam na guerra em busca de um final feliz.

Jay estava ao pé da estátua, o punho fechado contra o metal frio, em um cumprimento silencioso que ecoava as memórias de tempos melhores.

— Você faz muita falta, amigão. — murmurou Jay, a dor evidente em seu olhar.

Mal observava a estátua de Carlos de Vil com massacrante aperto no coração. Auradon perdeu um grande herói no fatídico dia da morte de Carlos, mas Mal, Evie e Jay perderam muito mais. Perderam um membro da família.

Desviou o olhar para a lua iluminando o mar e a Ilha dos Perdidos. No céu, duas estrelas brilhavam mais forte. Mal lembrou de uma conversa que teve com Bela. Em algumas histórias de contos de fadas, pedidos feitos para a estrela mais brilhante, quando feitos pelo coração, eram realizados. Foi assim com Gepeto e Cinderela. Mal olhou para a estrela e juntou as mãos. A Fada Madrinha havia sumido após a morte da sua única filha, Jane, então Mal não sabia quem ouviria seu pedido. O direcionou para quem ela queria que ouvisse.

Descendentes 4Onde histórias criam vida. Descubra agora