A voar, a voar, a voar

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Era tarde da noite. Harry havia acabado de ser expulso da enfermaria pela Doutora Dottie McStuffins, que insistia que Uma ficaria bem, apesar da gravidade dos ferimentos da última batalha. Voltando para o quarto, observou o punho enfaixado. Helena o ferira com facilidade.

Novamente, havia perdido para ela. E, pior, quase perdera Uma. A única razão para estarem vivos é porque Heitor e Helena queriam se divertir mais um pouco. Os dentes de Harry rangeram ao perceber isso.

– A culpa é minha. – Harry disse para si mesmo, esmurrando a parede e ferindo sua outra mão no processo.

Os olhos estavam fechados, a fim de segurar as lágrimas que queria escorrer. Tinha que ser forte. Pelo menos para isso tinha que ser forte.

"Se tivesse cumprido sua promessa, já teria arrancando esse gancho da minha mão. Você esqueceu dos seus objetivos, bucaneiro."

As palavras de Helena ressoaram em sua mente. Era verdade, por isto doía tanto. Havia parado de buscar força quando saiu da barreira e se juntou a Mal e os demais, afinal não existiam mais motivos para ser o mais forte. Eram um time, uma família. Mas tinha prometido que seria mais forte. Pelo pai e por si mesmo.

Harry, com seus oito anos, tinha orgulho do grupo que participava. Ele, Uma e Gil tiveram diversas aventuras e já tinham o próprio território, sempre em disputa com Mal e os VK's. O pequeno Harry sentia-se confiante. Tinha até mesmo desafiado Heitor para uma briga na noite anterior. Obviamente perdera, mas dessa vez havia durado muito mais tempo do que em outras brigas. Sabia que estava ficando mais forte, como o pai desejava.

Teria ido encontra-lo na noite anterior e contado para ele na mesma hora, mas Will descobriu que Mal tentaria destruir o navio deles e Uma achou melhor dormirem no navio.

O dia já estava amanhecendo e nenhum sinal de Mal ou qualquer outro inimigo. Uma então pediu a Harry para continuar de olho enquanto ela ia ajudar a mãe no restaurante e Gil tinha que ir com os irmãos para uma caçada com o pai.

Harry estava no mastro do navio, observando o castelo do outro lado do mar quando ouviu passos no assoalho de madeira. Helena usava o chapéu de plumas vermelho do pai. O mais novo acenou animado, mas a irmã ignorou. Ela subiu até o mastro e se sentou ao lado do irmão sem dizer nada.

– O que houve? – Harry perguntou preocupado, percebendo que o semblante de Helena demonstrava tristeza.

Calada, Helena olhava o castelo de Auradon do outro lado do mar. Harry notou o pequeno acúmulo de água nos olhos da irmã, a fitava esperando uma resposta. Cada segundo calada pareciam horas na percepção de Harry. Helena deu um longo suspiro, fechando os olhos. As lágrimas escorreram pelo rosto, mas ela o enxugou antes que pingassem no colo.

– Harry... – A voz da irmã saiu rouca. De imediato ela se calou e engoliu seco. Com um longo suspiro, Helena tentou conter o choro. Sacou das vestes o gancho do pai, e após admira-lo por um tempo, estendeu para Harry. – É seu agora.

– Cadê o papai? – Harry questionou ao pegar o gancho. Seu coração batia forte, com medo da resposta.

– O papai estava doente, Harry. Você sabe que ele foi forte, não sabe? Ele aguentou o máximo que pôde para ficar com a gente. – Dito isso, Helena passou o braço ao redor de Harry, confortando o irmão que ainda processava a notícia. – Ele deixou o chapéu para mim. E o gancho para você. Sabe o que isso quer dizer? – Harry escondeu o rosto que derramava lágrimas no peito da irmã, que o abraçou forte. – Nós somos o legado dele, Harry. Você vai ser o próximo Capitão Gancho. Harry, você vai precisar ser forte, está bem? – O menino se agarrou às vestes da irmã, soluçando desesperadamente. – Quando sairmos daqui, teremos muito o que fazer. Peter Pan ainda está à solta, Auradon inteira estará atrás da gente. Mas nós vamos continuar o que nosso pai começou. Eu prometi ao nosso pai que cuidaria de você. Agora você tem que prometer que será mais forte. Promete? Promete que amanhã você será mais forte que hoje? Todos os dias você tem que se fazer essa promessa.

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