Capítulo 17

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- O que pretende fazer? - Perguntou Jonathan um tempo depois que Alexia e Ravi haviam ido embora.

- É um pouco tarde para fugir agora, não acha?

- Não acho que seja...

- Eu preciso ganhar a confiança dela, isso talvez seja um começo. - Digo. Ainda estávamos no beco digerindo a conversa que acabara de acontecer minutos atrás. O que ela queria não era impossível de conseguir, apesar de não saber, exatamente, por onde sequer começar, mas se eu queria a confiança deles ao ponto de compartilharem seus planos, até conseguir o que de fato é meu real objetivo nisso tudo, eu precisava me mostrar útil, ser um peão confiável ao ponto de participar das jogadas. Então eu seria útil e disposta a fazer qualquer coisa que fosse necessário.

- Ela quer os registros, ela terá os registros. - Digo. Minha voz firme e determinada.

- E depois de conseguí-los como pretende entregá-los, Emery? Não sabemos onde eles se escondem. - Quis saber Jonathan.

- Eu não precisarei procurá-los, eles sabem onde me encontrar. E com certeza darão um jeito de saber quando eu estiver com os relatórios  em mãos.

- Como pode ter tanta certeza disso?

- Como sabiam onde, exatamente, deveriam deixar o bilhete de modo que quem encontraria iria entrega-lo direto em nossas mãos? Isso não foi um tiro no escuro, Jonathan. Você ouviu, ela sabe que minha irmã trabalha no Conselho de Cirta e com certeza deve vigiar todos os nossos passos.

- Faz sentindo... - Sussurrou Jonathan para si mesmo.

- Claro que faz sentido. - Digo encerrando o assunto. Kayla surgi no minuto seguinte no beco à passos ligeiros e quando já estava próxima o suficiente de nós dois ela diz baixinho, sua respiração um pouco ofegante:

- A desgraçada é esperta. - Ela apoia as mãos nos quadris enquanto fala - Eles entraram no Mercado e sumiram entre as barracas. Os pedir de vista. - Diz ela com um pouco de frustação e raiva em sua voz.

- Não valeria de muita coisa essa informação se o que precisamos achar pode está escondido em qualquer outro lugar de Cirta. - Diz Jonathan um pouco contrariado.

- Como se soubéssemos o que é, exatamente. - Resmungou Kayla ao seu lado.

- E ficarmos parados aqui também não vai ajudar a descobrir o que é. - Eu já havia começado a sair do beco deixando-os sozinhos com seus questionamentos quando ouvi Jonathan clamar meu nome. - Informem ao Noah que ficarei ausente na Alcova nos próximos dias. - Disse para ninguém em especial enquanto seguia para fora.

- O que pretende fazer, Emery? - Perguntou Jonathan.

- Nada além do que precisa ser feito. - Kayla resmungou alguma coisa para ele que eu não me dei ao trabalho de sequer tentar entender, já estava exausta eu só precisava sair dali e submergir na banheira pela próxima hora para tentar alinhar os acontecimentos e pensar no próximo passo, como eu conseguiria esses relatórios? Essa era a questão principal.

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Embora por vez ou outra eu encontrase Sofia debruçada em papéis e anotações do Conselho no sofá da sala até tarde da noite, eu nunca soube onde de fato ela mantinha guardados todos eles e muito menos até onde o Conselho participava do funcionamento dos distritos. Mas me pareceu menos arriscado tentar achar os papéis que minha irmã mantinha em casa primeiro, na tentativa de achar algo que pudesse ser útil do que me arriscar mais uma vez na torre de vigilância sozinha, embora cedo ou tarde eu fosse precisar fazê-lo. E talvez não contasse com a mesma sorte da primeira vez. Então eu precisaria ter a casa vazia para não arriscar ser pega vasculhando as coisas à procura dos papéis e foi o que eu fiz nos últimos três dias. Assim que as gêmeas iam para as aulas e Sofia partia para resolver as pendências do Conselho, eu vasculhava a casa à procura das anotações e registros dela e nada, a mesma coisa acontecia quando terminava meu expediente no galpão de costura e encontrava a casa ainda silenciosa. Sofia não os mantinha em casa, ao que parecia ou os escondia muito bem. O fato é que eu teria que ir até o Covil: o lugar ao qual o Conselho de Cirta também se reunia e provavelmente seria lá onde encontraria os registros que Alexia tanto queria. Então esperei que a madrugada chegasse para ter certeza que minhas irmãs não me notariam longe da cama e sai na noite fria e solitária, as adagas gêmeas presas no sinto da calça, eu havia escondido elas dias atrás no piso do banheiro para que ninguém as achasse, principalmente Sofia, não podia perder mais uma arma de defesa, então coloquei o capuz para ajudar a obscurecer o meu rosto e liguei a lanterna, eu não tinha tempo para desperdiçar e precisava agir rápido, já havia perdido três dias e nada. Então tranquei a porta e sai sozinha, o silêncio e o escuro da noite como a única companhia.

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