Capítulo 42

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- Vocês poderiam me dar um minuto? - Minha voz se arrasta vacilante em minha garganta, estávamos a quase duas horas caminhando sem pausa, eu estava com sede e não havia tomado café da manhã, era um milagre ainda conseguir me manter de pé. Meus joelhos latejavam, era impossível me manter ereta quando se tem quase sete quilos em suas costas. Se eles ouviram o que eu havia acabado de dizer, não se importaram, pois ainda seguiam caminhando a metros de distância de mim, alheios a minha presença. Estávamos em um dos túneis subterrâneos abandonados da cidade de ferro, as lanternas como o único ponto de luz em meio a vasta extenção de terra batida e paredes frias de pedra. - Vocês poderiam me dar um minuto?! - Digo mais alto e firme dessa vez, minha voz ecooa no túnel, Ethan para primeiro.

- Hora da pausa rapazes - ele brinca -, acho que a princesa precisa que alguém a carregue nos ombros, quem sabe assim ela pare de resmungar.

- Eu não estou resmungando - Digo baixinho -, eu só preciso...

- De um minuto - ele me corta, e é nesse momento que me pergunto o que aconteceria se eu resolvesse arrancar sua língua da boca, só para tirar esse ar de superioridade que está estampado em seu rosto. - Algum problema? - Ethan indaga. Ele parece saber exatamente o que está gritando em minha cabeça, pois alarga o sorriso, como se me convidando a desafia-lo.

- Não. - Digo simplesmente, indo em direção a uma rocha próxima, retirando a mochila das costas e sentando-se no chão de terra. O ar frio do túnel parecia cortar minhas narinas. Eu abro o primeiro bolso da mochila à procura de água ou alguma coisa que pudesse comer, eu encontro um cantil e três maçãs e duas latas de comida. Eu bebo um pouco da água e começo a comer uma das maçãs, quando Ethan entra em meu campo visual puxando a mochila do meu colo.
- O que está fazendo?!

- Esse é o meu café da manhã. - Ele diz.

- E você não pode dividir? - Eu me coloco de pé, sacudindo a poeira da calça.

- Também estou com fome, graças a você. - Ethan bebe quase que de uma vez a água bem na minha frente. Ele senta onde instantes atrás eu estava e abre uma das latas. - Não me olhe assim, acho que deixei um pouquinho de água para você.

- Não, você não deixou. - Digo irritada. - Qual é o seu problema?

- Se está irritadinha, princesa, por que veio? - Ele indaga, levando uma colher de ensopado até a boca.

- Não ache que estou aqui por amar a companhia de vocês.

- Disso ninguém aqui tem a menor dúvida. - Ele diz de boca cheia, sua atenção voltada para a lata de ensopado. - Você não passa de um peso de porta, garota - ele começa a dizer, sua voz arrogante e irritantemente controlada - e não me importo nem um pouco com o que o  Scountt ou você pense. Você ainda será um maldito peso de porta. - Eu não penso em nada quando o vejo terminar a lata de ensopado e jogá-la longe, os outros  três a poucos passos sentados no chão comendo do seu próprio café da manhã, maçãs ou latas do que parecia ser o mesmo ensopado, quando me lanço encima do Ethan no minuto seguinte, uma de minhas adagas próxima demais da sua garganta a ponto de agora ter uma fina linha escarlate maculando sua pálida pele. Seus olhos azuis se arregalam de surpresa e noto mesmo que em uma fração de segundos o medo em seus olhos. Os três as minhas costas se levantam praticamente ao mesmo tempo e ouço mais que vejo quando as latas ao qual eles estavam comendo ecoa no túnel ao serem largadas no chão e as pistolas sendo ativadas ao mesmo tempo pelos três às minhas costas.

- Da próxima vez que me chamar de peso de porta de novo, arrancarei sua língua fora. - Digo o encarando, aproximando a lâmina ainda mais do seu pescoço, Ethan engole em seco apenas uma vez e levanta as mãos em sinal de rendição.

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