Capítulo 54

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Três dias haviam se passado desde a visita às minas de cobre. E três dias sendo vigiada 24 horas.
Não precisava de guarda costas mas sabia que possuía dois, embora nenhum dos dois precisassem dizer uma palavra durante as missões que nos eram designados pelo Noah e pelo Isaque, eu sabia que os olhares de esguelha e as conversas sussurradas do Carter e do Jasper, nada tinham relação as nossas missões de interceptações de carga alimentícia ou munições de pistola. Era apenas uma desculpa para me manter sob seus olhos, sob os olhos do Noah para  ser mais precisa. Era arriscado demais tentar sair, eles podiam muito bem está acampando em minha porta, à espreita nos corredores, se assim fossem instruídos a fazer. Queria contar ao Jonathan o que havia acontecido mas poderia colocá-lo de alguma forma em risco e expô-lo ao Noah era a última coisa de que eu gostaria que fosse feita, agora. Jonathan certamente deve está pensando inúmeras coisas sobre o motivo pelo qual eu ainda não havia voltado para a estalagem, dando algum sinal de vida. Podia muito bem pensar que eu havia voltado atrás em alguma coisa em relação a nós dois. Eu queria dizer que estava tudo bem, que as barreiras ainda estariam todas no chão, que ele havia quebrado todas elas e que tudo o que ele havia dito era exatamente o que eu precisava que fosse dito e que também estava disposta a tentar, mas não havia como fazer nada disso, agora.

- Rothawen? - Carter chama a minha atenção. - Você ouviu o que eu disse? - Ele indagou. Eu olho a prancheta em minhas mãos, a lista com os materiais interceptados me trazendo para a realidade novamente quando digo rasa e inexpressiva: - Estão todos aqui. - O caixote aberto estava a alguns metros a frente e dentro dele havia catalogado todas as munições que seriam redistribuídas em alguns pontos de vigilância que o Noah mantinha para o continente. Era algum tipo de acordo entre eles, o continente mantinha os olhos fechados para o Covil, e em troca o Noah mantinha a coleira dos moradores de Cirta e do distrito de Civiron bem presa ao pescoço dos moradores, administrando as fontes secundárias de renda das cidades à exemplo do Mercado do Peso, ao qual o Covil detinha uma participação nos tributos junto aos comerciantes.
É Jasper quem fala depois de um tempo, sem tirar seus olhos castanhos e atentos das linhas que eram rabiscadas em seu pequeno caderno em couro preto antigo:

- Acho que já podemos voltar, já que o trabalho por aqui já foi feito. - Diz dando de ombros. Seus habilidosos dedos traçando o que parecia uma versão do caixote aberto no chão. Ele era de fato bom nisso. Estávamos no limite da ponte que ligava a cidade de ferro aos territórios de Cirta. O caixote já estava nos aguardando quando Carter estacionou a caminhonete a cinco metros da ponte, eles aparentemente pouco se importaram para quem havia deixado a carga, quando me ofereceram a prancheta e foram em direção ao caixote lacrado no chão empoeirado, metade do dia havia se passado e aparentemente era a última interceptação que faríamos hoje. As marcas de pneus apontavam que a carga vinha de Cirta, mas ninguém além de mim parecia inclinado a se aprofundar muito nisso.

- Vamos Jasper. - Carter chama a sua atenção. - Largue esse caderno e me ajude a levar esse caixote para a traseira da caminhonete. - Jasper considerou o que ele havia dito, antes de emitir um estalo com a língua e enfiar o pequeno caderno em seu bolso e se juntar ao Carter na tentativa de erguer o caixote de madeira. - Você e seu modo adulto chato e responsável o tempo todo. - Resmunga Jasper, passando a mão em seus curtos fios e se inclinando ligeiramente para pegar uma das pontas.

- Vai ficar só olhando, Rothawen? - Indaga Carter para mim com a voz estrangulada, sua testa se franzino ao se inclinar para erguer o caixote com o Jasper.
- Vamos, pegue uma das pontas, também. - Jasper me lança um olhar que dizia "modo adulto chato e responsável em ação" antes de arrastarmos o caixote à traseira da caminhonete.

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- E desde quando isso se tornou uma boa ideia? - Carter resmunga mas Jasper está ocupado demais olhando para os dois Duplicados que mantinham guarda na entrada de uma das torres de monitoramento da cidade de ferro, para se importar com o que ele havia acabado de resmungar. Seu lápis trabalhando habilmente enquanto traçava linhas e contornos.

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