Capítulo 51

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- O que é isso? - Indago para ele, franzino a testa. Jonathan vai até o objeto em metal apoiado com um tripé  acoplado ao próprio objeto. Era como um tubo envolto em metal de uns 70 a 80 cm de comprimento com uma abertura redonda na parte frontal em forma cilíndrica. Era totalmente novo e estranho para mim. Eu me aproximo dele e do estranho objeto apontado para a cidade a quilômetros de distância de nós dois. Eu percebo que a abertura frontal possuía lentes de vidro compactas. As pontas possuíam uma miniatura do objeto, como uma espécie de versão de bolso e um pequeno cilíndro com lentes também em vidro, no que supus serem para a observação. Jonathan afirma minha teoria quando se inclina ligeiramente até a ponta do equipamento e fecha um dos olhos movimentando o objeto alguns centímetros para cima afim de ver alguma coisa em direção a cidade de ferro.

- Vem cá. - Ele me chama baixinho. Eu me aproximo dele mas me mantenho parada ao seu lado. Jonathan inclina o objeto para cima, o tripé possuía quase um metro e meio de altura de modo que ele não precisava se inclinar muito para observar o que quer que ele estivesse observando agora. Jonathan estende uma mão para mim mas não desgruda sua atenção do objeto.

- O que é isso? - Pergunto novamente.

- Vem cá. - Ele se afasta e me direciona até a ponta cilíndrica com uma lente ao qual estava instantes atrás. - Você precisa apenas concentrar sua atenção à lente e ela farar a mágia toda acontecer. - Diz para mim. Eu repito seus movimentos e me inclino até a ponta cilíndrica, ajustando meu olho direito na pequena lente, enquanto fechada o esquerdo. A magia de fato acontece e consigo ver nitidamente a cidade e até as pessoas que a ocupam andando entre as ruas, como se eu estivesse de frente para elas. Suas roupas, as expressões em seus rostos...

- Jonathan... isso é...

- Bem legal, né? - Diz ele. - Eu costumava ficar horas aqui. - Comenta.

- Como o encontrou? - Pergunto sem desgrudar meu olho da lente, uma mulher de silhueta magra passa agarrada a um homem alto e de cabelos longos pretos desgrenhados, ela usava um curto e esfarrapado vestido vermelho justo e nada prático pelo modo como suas pernas se mexiam. - Como encontrou esse lugar?

- Algumas semanas depois que eu saí da Alcova eu estava... - Ele se detém, como que se dando conta do que acabou de dizer. Quando ele sumiu da Alcova, largando tudo sem nenhuma explicação uma semana depois da minha mãe morrer, era isso o que você iria dizer, Jonathan? Quase perguntei.
Jonathan se dá conta das palavras que não foram ditas mas pairam agora entre nós dois.

- Emery...

- Não precisa, Jonathan. - Minha tentativa de encerar o assunto aparentemente surte efeito, embora minha voz tenha saído baixa demais e o ar estranhamente ficado mais pesado, agora. Volto a encarar a cidade através da pequena lente de vidro. A mulher não está mais a vista.

- Acho que precisa sim. - Ele insiste depois de um tempinho, pegando em meu antebraço para ter minha atenção para si. - Eu disse que queria conversar. - Ele começa suave. - Isso também pode entrar na palta, se você quiser.

- Você não me deve satisfação da sua vida, Jonathan. - Minhas palavras o atingem em cheio e nem era essa a minha intenção. Ele abre a boca algumas vezes mas as palavras não saem.

- Não devíamos está aqui a essa hora. - Eu odeio o quanto minha voz soa trêmula e incerta. Eu me afasto indo em direção ao elevador.

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