Capítulo 48

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- Esse é seu modo de me punir por ontem a noite? - Esbravejo. - Matando pessoas? - As palmas estão estendida sobre a mesa. Noah retira sua atenção de um livro que estava lendo e devagar direciona seus olhos até mim.

- Não sei do que está falando. - Ele dá de ombros e volta ao grosso livro de capa marrom.

- Você é doente. - Digo entredentes.

- Continuo sem saber do que está falando, meu docinho. - Ele se acomoda na poltrona de modo a cruzar os tornozelos sobre a mesa, sujando alguns papéis que estavam espalhados. Noah havia se trancado no escritório do Isaque com Carter, Jasper, Arthur e o Ethan por quase uma hora. O Isaque não estava no prédio quando havíamos chegado. Ninguém me permitiu entrar e as paredes de concreto eram grossas demais para ouvir qualquer coisa que fosse, então por quase uma hora andei de um lado a outro no corredor esperando eles saírem do maldito escritório. A imagem da jovem mulher passava milhões de vezes na minha cabeça, seus pequenos olhos furiosos e no minuto seguinte nada além do vazio da morte o reivindicando enquanto seu corpo vazio de vida caía até o chão. Eu nunca mais esqueceria esses olhos.

- Então essa é a sua carga. - Afirmo. É quase provável que ele esteja ouvindo meu coração gritar acelerado.

- Uma pena ter perdido uma mão de obra com tamanho potencial para o trabalho. - Ele diz baixinho.

- Achei que a ideia fosse parecer aliados, não inimigos. - Dou voz aos pensamentos em minha cabeça. Minhas mãos começam a tremer. Fecho os punhos sobre a mesa com tanta força que sinto quando as unhas perfuram minha palma. Engulo a leve dor que começo a sentir. Noah olha de mim até meus punhos fechados devagar.

- Estive por um tempinho aqui pensando... - ele começa - e percebi que o que estou procurando não pode está em um lugar tão óbvio, se o Isaque mal fica aqui dentro e a única coisa que vejo é o quanto fica irritadinho quando tomo seu espaço. Então Emery - ele faz uma pausa, levando uma mão até seus fios negros e alinhando na lateral da testa. Noah retira seus pés da mesa e entrelaça os dedos sobre ela. -, acho que a caixa ou está em um lugar tão óbvio a ponto de ninguém sequer perceber ou esse prédio possui alguma passagem secreta. - Ele cogita a ideia. - Acho que devia começar a procurar e não perder o meu tempo com remorso. - Diz por fim.

- São pessoas, Noah. Não carga. - Minhas palavras saem estranguladas e hesitantes. Ele revira os olhos.

- São maltrapilhos que acham que podem mudar o mundo com meia dúzia de pessoas e uma falsa idéia de rebelião libertária ou sei lá o que isso tudo signifique para eles. - Ele diz indiferente. - Só acabarão todos mortos expostos na muralha como uma bandeira ao continente para que todos em Cirta vejam o quanto tudo isso nunca dará em nada além de mortes desnecessárias.

- Não é errado tentar mudar as coisas. - Digo.

- Só é burrice tentar arrumar briga com alguém três vezes o seu tamanho e capacidade. - Ele argumenta. Eu o encaro por um tempo antes de finalmente deixar que as palavras que estavam em minha cabeça durante todo o caminho de volta a cidade fossem finalmente ditas em voz alta:

- Estou saindo fora. - Ele parece não entender o que eu havia dito, pois arqueia levemente uma das sobrancelhas. Eu digo mais claro dessa vez: - Não quero mais fazer parte disso. Você não tem poder de tirá-lo de lá e mesmo que tivesse, desconfio de que não está em seus planos fazer isso, não é? - Noah me encara quando diz:

- Covardia não a veste bem, Emery. - Diz ele. - Mas sinto em dizer que não vou perder minha preciosa ladra. Gosto da sua companhia, sabia? - Ele ironiza.

- Eu vou embora desse lugar. - Eu começo a caminhar em direção ao corredor, a porta ainda estava aberta.

-... Conheci duas lindas garotinhas umas semanas atrás, enquanto fui visitar o galpão estudantil - ele começa a dizer -, as vezes dou alguns suprimentos para o galpão, ajuda a manter as aparências. - Eu paro, mas não faço menção de me virar para ele. Noah retoma: - Uma delas... acho que o nome dela era... como era mesmo? Era alguma coisa com z ... ahh lembrei! Era Zoe. - Ele diz. Eu quase posso ver o sorrisinho após as palavras. Eu ainda estava de costas para ele. As palavras sendo absorvidas como bombas em minha direção. - Ela me mostrou um desenho de seis pessoas ou que deveria parecer com  seis pessoas, desenho não deve ser um ponto forte para ela...

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