Capítulo 8

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- Ainda não entendi o porquê você nos trouxe até aqui. - Disse em meio ao barulho que ecoava à alguns metros a nossa frente.

- Fiquem aqui - disse ele, a voz abafada pelo barulho de vozes e do som insuportávelmente alto que ecoava da trincheira a poucos metros -, só preciso de dez minutos, espero - corrigiu-se ele - "só precisar de dez minutos". - Jonathan agora seguia em direção ao emaranhado de luzes de led e corpos dançantes, me deixando a poucos metros da entrada do Lagartos, com uma Kayla com rosto irritadiço, ele tinha deixado o lenço do rosto de lado. Não eram muito necessárias fora dos ambientes sem muita exposição, embora acreditávamos que o ar de Cirta já havia sido maculado a décadas. O Lagartos era uma escapatória à vida que levávamos, ninguém sabe ao certo o porquê do continente ter aberto as trincheiras tão próximos das instalações da Caixa e muito menos quando decidiram não dar mais nenhuma utilidade à elas. Mas um ano após o continente ter abandonado definitivamente as trincheiras elas já  estavam sendo utilizadas como válvulas de escape aos dias extenuantes de Cirta, entorpecidos com música alta e bebida ruim. Um lugar sem regras. Livre. Pelo menos dava a ilusão de liberdade.

- Você tem alguma ideia do que ele vai fazer lá? - Disse, apontando para a silhueta do Jonathan já sumindo entre as pessoas que se espremiam dentro da enorme trincheira.

- Sei exatamente o que você sabe, Rothawen. - Disse ela, enquanto retirava de dentro da mochila uma lata entreaberta de proteína e um garfo para em seguida começar a comer.

- A quanto tempo trabalha para o Noah? - uma pausa -, quer dizer... nunca te vi antes por aqui. - Kayla continuava devorando a proteína de onde estava sentada nas sombras e longe de possíveis olhares curiosos ou bêbados, sem nem ao menos se incomodar em responder a minha pergunta.

- Entendi. - Conclui que conversa não era o que iríamos ter para passar o tempo.
         
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Jonathan havia passado mais que dez minutos lá dentro, para dizer o mínimo e Kayla que já havia largado de lado a lata de proteína agora vazia ao seus pés, limpava as unhas com a ponta do garfo em uma calma irritante, enquanto eu, inquieta andava de um lado para o outro.

- Não vou simplesmente ficar aqui plantada esperando. - Disse já irritada. - O que diabos ele foi fazer lá? - Kayla levantou de onde estava sentada e me virei para acompanhar seu olhar. Jonathan a poucos metros a frente, vindo em nossa direção.

- Ah, finalmente Jotha. - Diz ela - achei que ficar parada aqui - uma olhada de esguelha em minha direção -, era algum tipo de tortura psicológica.

- O Noah me deve 30 moedas do continente. - Diz ele, simplesmente.

- O que descobriu? - Perguntou Kayla, erguendo uma sobrancelha.

- Estava certo em minhas suspeitas, os rebeldes vão mesmo tentar alguma coisa na aplicação das vitaminas do sol.

- Como pode ter tanta certeza sobre isso? - Perguntei cautelosa.

- Há rumores sendo transmitidos em vários distritos e saberemos em breve se eles de fato tem fundamento. - Uma piscadela. Em seguida Jonathan já caminhava para longe do Lagartos, se esgueirando nas sombras. Segui seu ritmo. Ele não iria simplesmente sair andando assim.

- Relate, agora. - Exigi.

- Relatar, o que, exatamente? - Disse ele, sem ao menos se dar ao trabalho de olhar em minha direção.

- O que você foi fazer lá dentro?

- Consegui a informação que você precisava, querida, quatro dias é o que você tem para tentar uma primeira aproximação com os Retalhadores - ele parou subitamente, em seguida olhou por cima do ombro em minha direção -, é melhor fazer valer a pena.

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