Capítulo 30

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- Eles só podem está de brincadeira. - Disse Jonathan impaciente andando de um lado a outro no escuro, nossas lanternas haviam sido desligadas assim que saímos do Lagartos, o galpão estudantil ficava à alguns quarteirões de distância do distrito de trabalho, de modo que não poderíamos arriscar ser vistos por guardas rondando o distrito ou por trabalhadores terminando seus turnos. Já estávamos a quase meia hora próximos da entrada do galpão camuflados nas sombras e longe da vista de qualquer um que resolvesse está de passagem, as enormes portas rolissas de ferro fechadas a apenas alguns metros de distância e ninguém havia aparecido desde que chegamos.

- Não temos muita escolha, Jonathan. - Disse simplesmente, sentada em uma pequena rocha no chão empoeirado, traçando linhas no chão com a ponta de uma das minhas adagas, apenas para matar o tempo. Ele deu de ombros, continuando a andar de um lado a outro. - Dá para parar?!

- Dizem que a paciência é uma virtude, bonitão. - Ronronou Alexia, saindo sozinha das sombras de um beco próximo, como uma fantasma, nos pegando de surpresa, o capuz e o lenço vermelho ocultando ainda mais o seu rosto e deixando sua voz quase mortal. Jonathan parou de andar na mesma hora e voltou sua atenção para ela que fez um breve gesto de mãos para que nós a seguisemos e adentrou novamente no beco escuro, agora com uma lanterna em uma de suas mãos. Jonathan apenas me olhou como se dissesse "tudo bem, podemos fazer isso" e começou a caminhar na minha frente, sua pistola em uma mão e a lanterna ligada na outra, iluminando o caminho atrás de Alexia. Eu fiz o mesmo e rapidamente destravei a minha, pronta para qualquer que fosse a armadilha que nos esperava no fim desse vasto e escuro beco e cheios de aberturas traiçoeiras, embora ciente de que, com certeza, estaríamos em desvantagem se de fato acontecesse alguma coisa. Alexia continuava à frente em passos calmos como se fosse um guia mostrando uma paisagem exótica, já estávamos a algum tempo seguindo-a no beco e parecia que estávamos apenas andando sem direção certa e isso só servia para aumentar ainda mais a minha angústia, cada poro do meu corpo gritando em alerta. Havia bifurcações ao longo da passagem estreita e mal iluminada do beco e todas as vezes que passávamos por uma, eu tinha a estranha sensação de ser observada, era como se a qualquer momento alguém pudesse simplesmente surgir do escuro, eu podia jurar que Jonathan também compartilhava dessa mesma sensação, pela forma como seu corpo estava em alerta e a distância que havia entre nós quando começamos a adentrar o beco atrás de Alexia, agora estava ligeiramente mais curta, ele estava praticamente como uma muralha inquebrável à minha frente.

- Qual é o objetivo de tudo isso? - Indaguei baixinho, por cima dos ombros do Jonathan, com uma leve aspereza na voz. Alexia não se deu ao trabalho de responder, ao invés disso, continuou sua caminhada até finalmente contornarmos em uma das entradas e após algum tempo que eu facilmente julgaria ter sido quase uma hora seguindo-a, estávamos em uma área mais isolada dos distritos de trabalho e podíamos ver à alguns quilômetros de distância em uma linha quase tênue, o rio Cidra. Não havia nenhum sinal de civilização, apenas uma vasta extensão de terra batida, sem luzes ou vida. Uma caminhonete estava estacionada à poucos metros de onde estávamos e três homens igualmente encapuzados e com o mesmo lenço vermelho cobrindo parcialmente seus rostos estavam dentro do veículo.

- O que estamos fazendo aqui? - Perguntou Jonathan com cautela. Alexia não respondeu, apenas retirou de um dos bolsos da frente da sua jaqueta de capuz dois lenços vermelhos igual ao que ela e os outros usavam, estendendo-os logo em seguida para que Jonathan o pegasse.

- Cubra os olhos dela e depois os seus. - Disse ela. - E nada de gracinhas, vocês estão sendo observados desde o momento que saíram do Lagartos. - Disse por fim em tom claro de ameaça e aviso. Os três homens saíram do carro e aparentemente Ravi era um deles. Era inconfundível sua altura e altivez em relação aos outros dois ao seu lado, mesmo não fazendo a mínima ideia de como era verdadeiramente o seu rosto por baixo de todo aquele disfarce.

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