Capítulo 39

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- Eu achei que você tinha uma certa urgência em achar a tal caixa. Mas parece que não. - Minhas palavras saem abafadas, o som está alto e as vozes ao nosso redor mais ainda. Noah se inclina bem próximo aos meus ouvidos, antes de dizer:

- Diplomacias são necessárias para se manter no controle dos negócios, principalmente por aqui.

- E onde será a reunião de negócios? encima daquela mesa onde... - meus olhos correm pelo prédio lotado onde estávamos agora, havia uma espécie de bancada de ferro em um canto, uns cinco metros de onde estávamos na entrada, ao qual alguns bancos de aço chumbados ao piso de concreto eram distribuídos. Algumas pessoas estavam sentadas em alguns dos bancos com garrafas pela metade de bebida em sua frente, outras comiam em latas recém abertas, enquanto outras estavam em pé irritados e com pequenas sacolas de pano balançando freneticamente em suas mãos, próximos a bancada aguardando serem atendidos. Um homem robusto de uns quarenta e poucos anos de idade, de cabelos cacheados negros e de aparência zangada estava do outro lado da bancada, bem a frente de uma enorme prateleira de ferro com garrafas de bebidas e latas de comida empilhadas. Ele era o único atendente e corria de um lado a outro no pequeno espaço disposto para ele em busca dos pedidos daqueles agrupados no bar. - aquela garota está dançando...? - Indago. De fato uma mulher estava encima de uma das mesas de ferro sorrindo como se estivesse flutuando, seu sorriso era aberto e nada contido, parecia verdadeiramente alegre ali, embora suas roupas esfarrapadas e curtas fizesse pouco para cobrir suas curvas bem acentuadas, seus cabelos incrivelmente curtos eram do mais profundo preto, alguns fios lisos e brilhantes dançavam em sua testa enquanto ela se movimentava sobre a mesa. Seu rosto em formato redondo tinha traços marcantes e seus lábios carnudos. Sua pele tinha um lindo tom de marrom claro, ela aparentava ser um pouco mais velha que eu, talvez não mais que vinte anos. As pessoas sentadas ao redor da mesa apenas riam enquanto outras simplesmente continuavam a comer e beber como se nada estivesse acontecendo. Diversas mesas como a que mulher estava dançando estava por todos os lados do prédio dividindo espaço com pessoas em pequenas rodas de conversa. Todas as mesas eram quadradas e de ferro e todas estavam presas ao piso com quatro bancos cada, igualmente presos ao chão. Eu estava agora no que um dia fora um refeitório ao que me parecia. A música: uma mistura de instrumentos de cordas ecoava de pequenos alto falantes acoplados nas ferragens do teto e uma escada de aço em espiral levava para o segundo andar, ao qual pessoas já passavam entre os escuros e estreitos corredores.

- Emery - Noah me chama, sua mão precionando de leve meu cotovelo -, bem vinda ao Coliseu. - Diz para mim. Um aceno de mão o chama atenção em meio as pessoas ao nosso redor. - Eu já volto, fique aqui. - Ele diz, sua voz sólida e um pouco irritada. Noah segue em direção a um pequeno grupo de pessoas em um canto pouco iluminado e escuro do prédio, me deixando para trás. Do lado oposto, o bar continuava cheio, e o atendente ainda tentava dar conta das pessoas ao seu redor, um homem deixa cair as moedas que segurava em suas mãos, ele cambaleia para a frente tentando se equilibrar e recolher as moedas espalhadas aos seus pés. Outro homem passa por ele, uma mulher envolvida em seus braços esbarra no homem bêbado no chão ao passar. Após algumas tentativas ele consegue recolher as moedas e colocá-las em seus bolsos na frente da calça. Noah não está mais a vista e já que fui trazida até aqui não ficarei plantada na porta esperando por ele.

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Minhas mãos deslizavam sobre os bolsos daqueles que mal conseguiam se manter de pé. O prédio estava cheio o suficiente para me misturar entre as pessoas, cada vez que uma nova quantidade de moedas sutilmente era retirado da bancada antes mesmo do atendente se dá conta, eu já não estava mais a vista. Era fácil consegui-las quando as pessoas a minha volta mal tinham condições de andarem com as próprias pernas. O Coliseu, eu percebi depois de quase uma hora, era ao mesmo tempo uma fuga dos intensos dias de trabalho e um lugar ao qual muitos podiam camuflar seus negócios sem levantarem grandes atenções. A maioria das rodas de conversas eram compostos por homens de rostos severos e impacientes, nem o barulho em volta parecia incomodar as intensas conversas entre eles. Não havia bebida nas mesas daqueles que se reuniam para debater ou gritar seja lá qual fosse o assunto. Outras mesas haviam garotas sorridentes enlaçadas em homens igualmente envolvidos em seus assuntos e bebidas de origem duvidosa. Eu não sabia onde o Noah estava, embora eu não houvesse me aventurado no segundo andar do prédio. O espaço não era enorme, mas a quantidade de pessoas era o suficiente para perder alguém de vista. Uma hora havia se passado e eu tinha conseguido uma quantia até razoável de moedas do continente, eram 19 no total, agora sendo um peso mais que bem vindo no bolso camuflado da minha jaqueta, as pessoas pareciam se esquecer de onde estavam pela forma com que gastavam seu dinheiro como se não houvesse nada além dessas paredes preenchidas em aço e concreto, de modo que eu não me arrependia em tirar deles o que facilmente seria descartado em uma noite de farra. Eu já havia estudado cada pedaço do primeiro andar do Coliseu, caminhado entre as pessoas, saqueando algumas mesas, mas nada do Noah. A garota sorridente de cabelos curtos havia sumido entre as escadas que levavam ao segundo andar a meia hora atrás.
Eu me pego seguindo o mesmo caminho até as escadas em espiral, e agora estou entre um dos corredores que há no segundo andar. As vozes são mais contidas aqui encima, embora façam pouco para abafa-las. Algumas portas de ferro estão abertas e percebo o quanto o espaço entre os cômodos era grande. Prateleiras vazias de ferro estão fixadas no chão até o teto por todas as paredes, no que a muito tempo podia ser o local ao qual eram armazenados os suprimentos, e agora servia de adorno vazio e enferrujado, compartilhando espaço entre poltronas velhas e mesas de ferro, alguns cômodos possuíam beliches ou colchonetes velhos empilhados em um canto no chão, o prédio também servia de hospedagem ao que parecia, além do barulho embreagado envolto de bebidas e música alta. Eu adentro a escuridão de um dos corredores, pessoas esbarram em mim ao passar, seus olhares me avaliam de cima a baixo, notando a diferença em minhas roupas, porém nada é dito, além de groceiros alertas para ter cuidado por onde anda. As vozes se intensificam a medida que me aventuro mais a diante. O segundo andar é composto por estreitos e escuros corredores, eu devia simplesmente retornar ao térreo, não há nada de interessante aqui encima...

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