Bem diferente das histórias que eu ouvia sobre a cidade de ferro, Civiron se mostrava ainda pior, agora vista com meus próprios olhos. Tudo exalava abandono e esquecimento, as ruas eram cobertas pelo barulho de risadas e músicas altas demais para se ouvir o próprio pensamento em meio a tantas pessoas que falavam ao mesmo tempo. As pessoas vestiam em sua maioria, roupas esfarrapadas e sem vida, o que me fazia questionar como suportavam as noites por aqui. Embora o clima de Cirta fosse em sua maioria suportável e até dispensava o uso de mais camadas de roupas durantes as noites, não se podia dormir ao menos sem o auxílio de um cobertor, mesmo que por mais fino que fosse e eu não podia imaginar se era assim também em Civiron ou se as finas e esfarrapadas roupas eram a única barreira dessas pessoas contra o frio noturno. A cidade era ainda mais cinza do que a própria Cirta em meio a tantos galpões de trabalho, exalando fumaça 24 horas por dia das fábricas. Construções de aço antigos e em ruínas estavam por todos os lados, com códigos em números e letras gravados nas fachadas enferrujadas e corroídas pelo tempo, todos os prédios e galpões tinham gravados legivelmente em ferro o código CPD seguido por números aleatórios. Luzes tremeluzentes espalhados em postes enferrujados não era o suficiente para iluminar a cidade, visto que fogueiras eram dispostas em diversos pontos, aquecendo aqueles sob finas camadas de roupas cinzas e sujas. O chão de concreto batido e esburacado era molhado e impregnado de sujeira e de um líquido escuro e de cheiro capaz de entornar qualquer alimento armazenado no estômago, no que só podia ser o esgoto à céu aberto, ratos e baratas se faziam notar entre os becos e canais de escoamento. Mas as pessoas pareciam não se importar ou estavam acostumadas demais para não fazê-lo. Noah caminhava à alguns passos na minha frente agora, aparentemente éramos só mais um entre todos ali, mesmo que por frações de segundos alguns pares de olhos se desviavam para a figura alta e elegante à minha frente, as crianças eram as que nos encararam por mais tempo, enquanto volta ou outra esbarravam em nós dois pelo caminho, enquanto corriam e apesar de serem diferentes em altura ou cor de cabelo, todas tinham a mesma essência subnutrida, aliás todos por aqui possuíam a mesma aparecia e não era só pelas roupas que usavam o que os tornavam de certa forma um padrão entre todos eles e mesmo tentando ignorar nós dois não éramos parte disso e eles sabiam e fingiam ou não, não se incomodar com a nossa presença. Desde que havíamos deixado o túnel escuro e sombrio a alguns minutos atrás, Noah se mantinha em silêncio, segurando sua bolsa de couro em um dos ombros nos guiando até as instalações da base administrada pelo Isaque nessa cidade, ele não havia dito uma só palavra desde a última vez que ainda estávamos na caminhonete, seu queixo estava levemente erguido e ele não desviava seu rosto para nenhum lugar que não fosse o caminho à frente. Depois de alguns minutos estávamos de frente a um dos prédios em ruínas, Noah se vira ligeiramente para mim antes de inspirar e expirar uma vez e empurrando a enferrujada porta moldada em aço, adentra o prédio de dois andares ainda sem dizer uma só palavra sequer.
.......... ◢☼◣ .........- Majestade! - Um homem alto e forte não mais que quarenta e poucos anos estava sozinho acomodado em uma das duas poltronas gastas dispostas na pequena sala de estar, com um copo de bebida pela metade em uma mão e uma garrafa na outra, seus cabelos eram de um castanho claro levemente encaracolados e fartos, alguns fios já começando a ficaram brancos, assim como linhas de expressão delineando seu marcante rosto, apesar de usar roupas simples eram limpas e conservadas, um contraste quase gritante em relação as outras pessoas lá fora. Havia um lustre moldado em aço no teto e um tapete em um exagerado tom de roxo adornando o piso de concreto liso, bem no centro da pequena sala de modelo indústrial. Tudo parecia uma versão mais crua dos galpões de trabalho, eram como se esse prédio tivesse sido em tempos passados alguma espécie de alojamento provisório ou centro comunitário. As paredes eram em um tom de cinza queimado e havia um corredor estreito e escuro à alguns passos atrás do Isaque. - A que devo a ilustre visita? - Disse ele levantando-se devagar da poltrona, seus olhos divagando para nossas bolsas sobre os ombros, havia um ponto de interrogação em seu rosto. Ele posiciona a garrafa em uma mesinha próxima, se aproximando de nós dois sem tirar seus brilhantes olhos verdes de mim. Havia algo de familiar nele, no modo como caminhava ou mantinha seus ombros largos alinhados e altivos, seus olhos atentos, era como se eu já tivesse visto essas mesmas características em outra pessoa antes, o que não fazia o menor sentido. Eu nunca tinha visto esse homem em toda a minha vida.
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OS RETALHADORES
Science Fiction🥇Primeiro Lugar - Categoria Ficção - Concurso Crossing Worlds. 🥈Segundo Lugar - Categoria Ficção Adolescente - Concurso Estrelares. 🥈 Segundo Lugar - Categoria Ficção científica - Concurso Retro Future. PLÁGIO É CRIME! ___________¤____________¤_...