OS RETALHADORES

Capítulo 22

- Não. - Disse firme, quando percebi que ele estava indo embora da caverna. - Nós acabamos de chegar aqui.

- Não pretendo contribuir com a amputação do seu braço, se é o que você deseja. - Disse Jonathan irritado por cima do ombro, e indo em direção a caixa elétrica, no que eu supus ser para desligar a energia e irmos embora.

- Eu já disse que não é nada - Respondi irritada -, o ponto deve ter rompido quando disparei a pistola, por favor não seja dramático. - Digo com incredulidade estampando cada linha do meu rosto. - Você ouviu o que o Noah disse, os Retalhadores atacaram novamente - minha voz saiu insistente -, nós não podemos perder tempo, Jonathan, eu ainda tenho que achar os relatórios. - Conclui baixinho. Ele parou de andar por uns instantes que eu julguei serem uma vida inteira e não disse nada.

- Foi você que insistiu em treirnamos... eu podia muito bem...

- Tudo bem. - Diz ele, cortando minha fala. Jonathan respirou profundamente e então caminhou até onde eu estava.

- Tente naquele ali. - Instruiu ele, apontando para um alvo a uns cinco metros de distância. - Lembre-se do que eu falei. - Ressaltou, se afastando alguns passos. Eu me posicionei de frente à linha vermelha no chão e mirei o alvo, mantive meus ombros firmes, minhas pernas levemente separadas e inclinadas e com o braço esticado e a respiração controlada atirei. Talvez eu devesse tentar outra coisa, pois naquele momento tive a certeza que pontaria era algo que eu não tinha. Não havia chegado nem perto do alvo de madeira, embora estivesse a cinco metros de distância dele.

- Você não está se concentrando, Emery. - Constatou Jonathan. O que era a mais pura verdade, minha mente estava muito distante naquele momento.

- Eu me distrai por um momento, tentarei novamente. - Digo, respirando profundamente e mirando novamente no alvo, mas antes que eu pudesse apertar o gatilho da pistola Jonathan me interrompe, abaixando a minha mão devagar. - O que você está fazendo? - Perguntei franzino as sobrancelhas em sua direção.

- Sua postura estava errada. - Disse ele simplesmente, ainda segurando minha mão abaixada. - Você não iria acertar o disparo. - Constatou Jonathan.

- Não estava, não. - Indaguei fitando seus olhos verdes e afastando minha mão da sua, emitindo um estalo com a língua, contrariada. Embora fosse provável que eu estivesse de fato. O Noah tinha razão, meu tempo estava se esgotando e parecia que nada do que eu tentasse fazer fosse capaz de me aproximar do propósito que era trazer o meu pai de volta. Eu não estava nem perto de ganhar a confiança da Alexia e já havia se passado dias desde o nosso último encontro, eu era uma idiota em pensar que conseguiria trazê-lo de volta... eu estava sozinha, não tinha como isso dar certo, tinha? E estava aqui em uma caverna brincando de pontaria quando tudo lá fora desaba? Talvez eu devesse...

- Emery? - Chamou Jonathan baixinho, me trazendo de volta para o presente.

- Você tem razão. - Digo simplesmente encarando o nada e com frustação na voz. - Minha postura estava errada. - Jonathan piscou surpreso, não por eu ter admitido o óbvio mas pela forma como tinha soado a última frase. Arrastada e sem forças.

- Não é o fim do mundo se você errou alguns tiros, Emery. - Disse ele com franqueza, embora estivesse ligeiramente confuso pela minha mudança repentina de humor. De fato não era o fim do mundo errar alguns tiros mas eu não estava nem um pouco disposta a argumentar sobre isso agora.

- Não, não é o fim do mundo. - Digo estendendo a pistola para que ele o pagasse e caminhando em direção a saída da caverna.

- Aonde você vai? - Perguntou ele.

- Meu braço - Digo por cima do ombro -, é bom checar isso antes que fique feio. - Respondi, embora não fosse esse o real motivo para a minha súbita mudança. Mas ele não disse nada percebendo que de fato a mancha que antes era apenas um pequeno borrão vermelho na minha camisa bege já estava um pouco maior e mais evidente. Jonathan apenas assentiu, desligou a energia e saímos, seguindo todo o caminho de volta ao rall principal da Alcova em um silêncio insuportável.