Capítulo 44

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- Qual é o seu problema? - Minha voz sai tão irritada quanto eu estava naquele momento.

- Acho que não entendi, querida. - Noah se limita a voltar sua atenção para a frente, enquanto quebravámos a distância até a torre, sozinhos. Os outros já haviam se dispersados meia hora atrás nos túneis em suas próprias caminhonetes. O perímetro estava sendo monitorado por Ethan, Carter e Arthur, enquanto seguiam as coordenadas traçadas no mapa pelo Jasper e eu. Nós dois tínhamos feito algumas anotações extras, de modo que agora não havia apenas a planta externa da torre de vigilância, mais as distribuições exatas das câmeras de monitoramento do lado externo à torre, quantos agentes eram distribuídos em cada uma das entradas, bem como os possíveis horários tanto das trocas de turnos quanto da abertura de descarte do lixo. Não havia comunicadores suficientes para todos nós, de modo que um comunicador ficou com os meninos e outro um pouco menor e discreto havia ficado com o Noah, preso ao cinto da calça, por baixo da camisa.
Nós dois seguiamos o resto do extenso caminho de terra batida até a torre de vigilância em sua caminhonete preta. Ele volta a olhar a estrada, como se nada pudesse ser tão valioso quanto o caminho de terra e escuridão ao qual estávamos percorrendo, antes de dizer baixinho : - De fato... ele combinou com o laranja dos seus olhos... exatamente como imaginei que ficaria. - Noah olha ligeiramente para mim. Eu sinto como se pudesse afundar no banco e ser levada para outra dimensão, se o sutil sorriso adornado em seus lábios tinha haver com o quanto eu estava corada naquele momento, ele nada deu a entender.

- Isso não quer dizer nada. O vestido voltará para onde veio quando essa noite acabar e você poderá usá-lo já que gostou tanto dele. - Eu despejo as palavras tentando cobrir parte da coxa exposta pela fenda do vestido pêssego. Noah sorri, um breve e nasalar sorriso antes de dizer:

- Existem uma variedade de roupas naquele caixote e ainda assim prefere aqueles trapos velhos e gigantes? - Ele questiona baixinho. - Você não precisa mais saí por aí roubando trocados de mercadores, Emery. - Noah faz uma pausa, então conclui. - E não precisa mais se vestir como uma maltrapilha. Acho que a pago muito bem para se vestir com o mínimo de decência, não é difícil conseguir algumas roupas descentes... eu poderia...

- Isso não é dá sua conta. - Digo irritada.

- Talvez tenha se esquecido, meu docinho, mais tudo o que faz é da minha conta. - Seus olhos brilham em divertimento e ousadia, Noah para a caminhonete e é possível ver à poucos metros de distância a iluminada torre de vigilância. - Não somos muito diferentes Emery, ambos fazemos qualquer coisa para alcançar nossos objetivos, ou acha que está tudo bem roubar os pobres mercadores se isso a ajudar a alimentar suas famintas irmãs? Ou comprar as vitaminas da pobre mãezinha a beira da morte? Eu a ajudei quando ninguém mais sequer se importou com você. - Ele faz uma pausa, fixando sua atenção em mim.
- Não ache que é diferente de mim, todos nós carregamos coisas de que ninguém se orgulharia se contassémos por aí, basta saber se vai passar seus dias se culpando por isso ou conviver com o fato de que existem coisas que não valem a pena lutar contra. - Noah abre a porta, então diz, sua voz baixa e sem ironias, carregada de certeza e sinceridade, como nunca tinha visto antes, não vindo dele: - Sobreviver é medíocre demais para o que poderíamos conquistar juntos. Você e eu.

- Em Cirta!? - Eu indago incrédula, mal noto o leve sorriso em meus lábios. - Somos uma nação de trabalho ou esqueceu a quem suas roupas pertencem? - Alguns dos guardas dispostos na entrada principal já notam a nossa presença e começam a usar seus comunicadores. - Aonde quer que andamos tem olhos e telas nos perseguindo. Eu não quero construir nada com você. Acho que está delirando, Noah. - As palavras escorrem dos meus lábios antes mesmo que eu pudesse pensar em dizer outra coisa. Noah pisca algumas vezes, embora nada saia da sua boca.

- Não, Emery, não estou. - É tudo o que ele me oferece. Noah contorna a caminhonete, abrindo a porta em seguida. - Vamos querida. - Ele diz quase como um sussurro me oferecendo uma mão estendida, seus ombros firmes e postura majestosa, eu o ignoro e saiu sozinha do veículo. Noah leva suas mãos até os bolsos e segue à frente até os agentes de segurança me deixando para trás.
- Noah Scountt. - Ele anuncia aos agentes. - Avisem que estou aqui. - Diz à guisa de cumprimento, sua voz fria e indiferente quanto seu rosto estava naquele momento. Dois dos agentes se aproximam e trocam coordenadas em seus comunicadores e alguns minutos depois estamos sendo conduzidos a entrada principal.

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