Capítulo 43

25 1 0
                                    

Uma mesa retangular de tamanho médio no centro do cômodo com gavetas embutidas e duas poltronas velhas uma ao lado da outra no canto esquerdo próximo da entrada, um tapete redondo de fibra sintética sujo no chão de concreto liso próximo das poltronas e da mesinha de centro coberta de folhas de papel, latas de comida aberta e vazia e garrafas de vidro com bebida alcoólica pela metade. Uma estante atrás da mesa de trabalho, livros, armas e objetos esculpidos em metal parecidos demais com que o Kira coleciona em seu próprio quarto, ocupava também os espaços entre as prateleiras empoeiradas, nenhum cofre, nenhum baú, nenhum compartimento ao qual guardar uma caixa com segredos de um assassinato, mas quem deixaria exposto algo assim? O escritório do Isaque era nada além de um escritório. Um pequeno e bagunçado escritório em um dos cômodos no térreo, próximo da sala de estar. O Noah estava acomodado na poltrona de couro do Isaque, sua postura majestosa. Ele usava calças de tom creme e uma camisa simples de algodão preta, o deixando perfeitamente elegante, seus cabelos negros penteados e perfeitamente alinhados para a lateral, caindo como uma lisa cortina em sua testa coberta por sardas, assim como o relógio de ônix em seu pulso, enquanto o Isaque de pé próximo ao Noah, fazia pouco para esconder o quanto não estava satisfeito em ter perdido seu lugar de anfitrião, seus braços estavam cruzados próximos do peito. Ethan, Carter e Jasper de pé revezando-se em contar tudo o que havíamos visto na missão de mapeamento, desde que havíamos chegado a mais ou menos meia hora atrás, a noite já se agitava além das paredes do prédio, a pequena janela de vidro gradeada do escritório permitia um pequeno vislumbre. Arthur não estava entre eles, ele tinha sido encarregado de deixar o caixote com as vitaminas do sol que havíamos trazido de Cirta na noite passada para o ponto de troca à alguns quilômetros daqui. Era a vez do Jasper falar. Ele estava agora explicando suas anotações, a brecha que havia na segurança entre as trocas de turnos, bem como os horários de descarte do lixo, a planta quase perfeita da torre desenhada em uma das folhas de papel em sua mão.

- Está surda, garota? - Ouço o Isaque me chamar.

- Ah... perdão?

- O que você tanto olha? - Isaque perguntou grosseiramente.

- Algo a dizer sobre hoje, Emery? - Noah pergunta, antes que eu pudesse responder qualquer coisa para o Isaque, sua voz sólida e modelada.

- Eu não sei. - É tudo o que dou como resposta, na verdade parei de prestar atenção no que estava sendo dito a dez minutos atrás.

- Como assim não sabe? - Isaque indaga rispidamente. Ele leva uma mão até o encosto da poltrona ao qual o Noah esta sentado, fechando seus dedos no encosto da poltrona como se quisesse fazer um esforço tremendo para não estrangular alguém, mais precisamente um que estivesse sentado em seu lugar com um copo de bebida em sua mão. Isaque revira os olhos como se estivesse lidando com alguma criança birrenta. - O que ela faz nessa sala? - Ele pergunta a ninguém em especial.

- É o que tenho me perguntado também. - Ethan diz baixinho. Noah o avalia por nada mais que alguns segundos, seus olhos caramelos o fitando como se o desafiando a dizer mais alguma palavra, Ethan sustenta seu olhar, embora nenhuma palavra seja dita de nenhum dos dois. Eu me vejo na obrigação de dizer alguma coisa.

- Aparentemente não terão problemas em entrar no prédio - começo a dizer, Noah volta sua atenção para onde eu estava, de pé próximo a porta, Ethan, Carter e Jasper fazendo o mesmo, virando ligeiramente até mim, finalmente lembrando da minha existência na sala. Eu retomo minha fala -, foram duas horas entre um descarte e outro e embora não houvesse nada que contasse exatamente o intervalo de tempo, acredito que foram entre cinco ou sete minutos que a grade ficou aberta, a vigilância em determinado momento do dia fica um pouco vulnerável, a troca de turno ocorre duas vezes por dia, pelo menos foi o que aconteceu enquanto estávamos lá, o que deixa a entrada príncipal exposta por alguns minutos antes dos novos agentes se posicionarem para a vigilância. Há câmeras de segurança em todos os lados e percebi uma  diretamente no compartimento de descarte, ao qual vocês pretendem entrar - eu faço uma pausa, me aproximando do Jasper -, me empresta isso? - Peço, ele hesita por uns instantes mas estende a mão me oferecendo a folha com a planta da torre, eu vou até a mesa, estendendo-a  sobre ela.
- Para que acreditem que estão de fato sendo atacados pelos rebeldes, antes mesmo de entrar na sala de circuito e desabilitar as câmeras, é necessário despistar os guardas dispostos nos perímetros próximos das principais entradas do prédio, ou eles irão arruinar qualquer chance de vocês entrarem.

OS RETALHADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora