Capítulo 52

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- Não imaginei que terminaríamos a noite assim. - Jonathan sussurra, sua cabeça ainda apoiada no topo da minha. Eu me inclino para olhá-lo quando digo, ele afrouxa um pouco seus braços ao redor de mim.

- O que nós somos agora, Jonathan? - A insegurança é nítida em minha voz.

- O que você quiser que a gente seja. - Ele indaga. - Eu não me importo de passar meus dias assim, apenas abraçando você, meu sol. - Desvio meu rosto pra um canto escuro quando as duas últimas palavras são absorvidas. Jonathan paralisa como se tivesse tentando entender o que havia falado de errado.

- Emery, eu não quero que você...

- Era assim que ele a chamava. - Deixo as palavras escaparem, ainda estou encarando o escuro mas posso sentir seus olhos em mim, Jonathan leva uma eternidade até dizer baixinho e envergonhado, o calor dos seus braços não mais presentes em meu corpo:

- Desculpa, eu não fazia ideia disso.

- Eu sei que não. Mas ouvir de você como se não significasse nada... me relembrava momentos que não terão mais volta. - Jonathan parece uma estátua ao meu lado. Ele ainda está sentindo o peso das palavras.

- No começo eu confesso que era porque você se irritava. - ele exponhe. - E me parecia a melhor forma de mantermos nossas barreiras intactas. Mas depois... elas escapavam sem que eu desce conta disso. - Uma pausa. - Desculpa, eu não...

- Ei. - repouso minha mão em seu rosto, prendendo sua atenção em mim. - Tá tudo bem. - Garanto para ele. - Você não tinha como saber. Não é sua culpa. - Ele não se convence muito disso pois seu rosto ainda está aflito e o silêncio presente. Jonathan leva uma mão até a minha em seu rosto e suspira em afirmação.

- Ainda quer observar a cidade? - Pergunta hesitante. Faço que sim com a cabeça e começamos a nos levantar em direção ao objeto de observação.

- Você ainda não me disse o nome dessa coisa. - Exponho.

- Eu o chamo de observa céu. - Quando não digo nada, Jonathan resmunga: - É o melhor que eu consegui inventar, tá legal!

- Eu não disse nada. - Repreendo o sorriso.

- Você não me engana. - Jonathan ergue uma sobrancelha de reprovação. Faço minha melhor expressão de inocência. É a sua vez de repreender o sorriso. Segundos se passam até que ele ergue meu rosto com a ponta do polegar, Jonathan retira um fio de cabelo do meu rosto e me beija. É incrível a forma como alguém pode expressar o que sente sem ao menos dizer uma palavra. Depois de um tempinho ele diz: - Pronta pra ver o céu, meu sol? - Nenhum dos dois contém o sorriso quando ele surge em nossos lábios.

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Não havia nada de especial no céu, embora de alguma forma a camada de poluição na atmosfera estivesse um pouco menos espessa de onde estávamos próximos à fronteira. Mas eu não me importava em ficar observando o concreto dos prédios da cidade ou quantos ratos haviam em cada maldito esgoto. Não era essas coisas que importavam agora. Jonathan tinha um caderno de registros do observa céu e falava empolgado tudo que havia descoberto desde que encontrara o objeto meses atrás. O caderno em capa de couro, era uma espécie de manual de instrução de montagem, levando em consideração o tempo em que o prédio havia sido desativado e o estado ao qual encontrou o objeto, me surpreendia Jonathan ter o encontrado com todas as peças. Tínhamos visão completa do centro da Cidade de Ferro e alguns pontos ao qual havia postos de vigilância do continente. Passamos quase uma hora só na sacada, Jonathan me dizendo tudo o que havia aprendido sobre o objeto e o quanto ele nos seria útil caso tivesse uma versão de bolso. Estava quase na hora das vãs buscarem os civis para os distritos de trabalho em Cirta, e eu, a poucos passos da escadaria em espiral do prédio. A cidade de algum modo estava silenciosa e poucas pessoas circulavam entre os becos. Jonathan não havia ficado nada satisfeito quando o dispensei do papel de dama de companhia. Mas podia jurar que ele estaria em algum lugar garantindo que nenhum bicho de sete cabeças estivesse a solta naquele momento. Eu entro no prédio, a porta de alguma forma não estava trancada. Eu encontro silêncio que não dura muito
quando ouço sua voz atrás de mim. Não me viro para encará-lo.

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