Capítulo 9

64 9 43
                                    

Algo definitivamente me parece errado e eu poderia apostar duas moedas do continente que não era o fato da senhora Clark está pela quinta vez em menos de 30 minutos limpando os livros expostos na barraca das histórias ou as pessoas que eventualmente paravam para cumprimenta-la com sorrisos e abraços afetuosos como filhos ou netos que a muito tempo não visitam sua avó mais querida. Embora livros não eram o que no final das contas a maioria das pessoas que paravam na barraca das histórias levavam em suas sacolas de couro. A senhora Clark era a mais antiga no Mercado do Peso ou pelo menos a que conseguiu sobreviver a mais tempo exposta as substâncias do Mercado. Desde que a Caixa começou a receber os primeiros exemplares de livros e seu pai, Eduardo Gousthen Clark, ainda jovem começou a coleciona-los no velho baú dentro de seu quarto compartilhado com os pais em uma das inúmeras casas idênticas construídas pelo continente espalhadas em vilarejos, e anos mais tarde achou de bom grado mudar a única herança deixada pelo pai: uma barraca a muito esquecida no Mercado que comercializava pedaços de cobre extraídos da Caixa para enfim colecionar e vender toda espécie de livros e contar suas histórias em alojamentos compartilhados para qualquer criança ou adulto dispostos em fogueiras crepitantes e improvisadas nos becos e ruas de Cirta, afim de ouvir como fora a formação do continente bem como as diversas histórias fantásticas de suas dezenas de livros e revistas, tentando amenizar um pouco o peso que só o final de um longo dia nos galpões de trabalho poderia proporcionar, fazendo assim, com que a família Gousthen Clark se tornasse conhecida e respeitada por grande parte das pessoas em Cirta. Talvez seja o fato dos livros nos transpotar à realidades fora daquilo que os olhos conhecem, sem precisar dá um passo fora do lugar aonde estamos. Então eu definitivamente estava ficando paranóica por ficar parada em um beco observando por quase duas horas absolutamente nada de estranho e suspeito acontecer, embora eu tenha quase certeza de está usando essa desculpa para evitar o que possivelmente me esperava na Alcova. Mas tudo não havia sido totalmente tempo desperdiçado, já que duas sacolas cheias de moedas eram agora um peso satisfatório nos meus ombros. - As pessoas precisam esconder melhor suas moedas.

A noite passada tinha sido um completo fracasso. E não só pelo peso de absolutamente nada em relação aos Retalhadores ser descoberto ou o fato de que em três dias Cirta, talvez, possa não só ter a ameaça rebelde como sua única preocupação, seria eufemismo em dizer o quanto a falta das vitaminas iria acarretar para aqueles que trabalham nos setores com maior exposição e mais eufemismo ainda se eu não estivesse a beira do colapso com essa possibilidade. Já havia se passado duas horas desde que havia conseguido convencer a Lenora a distrair os guardas dos portões de entrada enquanto eu saia do galpão sem ser vista em pleno expediente, o porquê dela aceitar distrai-los sem questionar o motivo disso, eu não saberia responder, ou talvez não tenha sido de todo sacrifício já que certamente os olhares direcionados para ela, dizia que Lenora, com certeza, tinha o total controle da situação. Não seria inesperado se ela no final das contas saísse com um deles.

.......... ◢☼◣ ..........

- Achei que tinha se perdido no caminho até aqui. - Disse Jonathan, à guisa de cumprimento. Ele estava encostado em uma parede, uma das inúmeras das entradas que ladeavam o caminho até a Alcova, as luzes bruxuleantes do beco destacando sua expressão entediada, ele só pesando o peso do corpo entre os pés.

- Estou aqui, não estou? - disse com total frieza na voz -, e não precisava de escolta, eu sei muito bem o caminho.

- Não estou aqui para escolta - la, acredite. - Disse ele sem nenhuma emoção na voz apesar dos seus movimentos demonstrarem que algo o estava inquietando.

- Fugindo de alguém em especial, Jonathan? - Digo erguendo uma sobrancelha. Isso talvez explique o porquê da Kayla não está em seu encalço. Ele não fez nenhuma menção que iria responder a minha pergunta ao invés disso, começou a caminhar em direção a Alcova.

OS RETALHADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora