Capítulo 3

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- Não sei como a sua mão ainda não foi arrancada pela máquina garota. - Disse uma voz feminina nada agradável ao meu lado, estava difícil manter a concentração depois do completo fracasso que fora a noite passada, não importava o quanto meu corpo precisasse de descanso minha mente nunca cedia completamente ao sono e a falta dele já estava começando a atrapalhar meu raciocínio.

- Eu...

- Não me importo com suas desculpas garota, volte ao trabalho. - Disse por fim a guarda me lançando um olhar de desprezo antes de voltar a circular entre as máquinas e tecidos que se estendiam por todo o galpão de costura. Com os ataques cada vez mais frequentes dos Retalhadores estávamos andando no fio da navalha e dava para sentir a tensão entre as pessoas, ao qual o único barulho era o tilintar da lâmina rente aos tecidos e dos caixotes que estavam sendo avaliados antes do próximo carregamento ao continente, as pessoas mal conversavam.

- Você parece horrível. - Uma voz masculina grave e familiar ecoou como um sussurro. Encontrei seus olhos verdes me encarando.

- Jonathan... Minhas palavras saíram entediadas e inexpressivas demais.- Seja lá o motivo que o fez atravessar o Cidra e chegar até aqui, sinto em dizer que não estou interessada. - Disse dando de ombros e sem me incomodar em parar o toque da lâmina rente ao tecido. - Achei ter deixado bem claro para o Noah que não trabalho mais para ele.

- Quando o Noah me disse que você tinha deixado a Alcova para vim trabalhar nesse, buraco eu custei em acreditar -, Jonathan se aproximou e apoiou uma das mãos sobre a máquina de costura me fazendo parar, lhe lancei um olhar de soslaio gesto suficiente para lhe fazer recuar um passo, seu corpo definido como uma parede de músculos à minhas costas. Ele circundava o galpão como se estivesse prestes a vomitar o café da manhã -, como pôde descer tão baixo, Emery?

- Sabe... até que gosto desse buraco e achei que você estaria do outro lado do Cidra apalpando os bolsos de alguma senhora rendida demais em seu charme e belos olhos verdes para notar que está roubando todo o seu saldo da semana e não aqui servindo como lacaio, pronto para atender à ordens. - Minhas palavras não o atingiram como eu esperava mas a máscara de indiferença inabalável estampada em seu belo rosto delineado por um momento pareceu fraquejar.

- Sua irmã é condescendente com o que faz em seu tempo livre ou realmente é ingênua ao ponto de acreditar que é daqui que saí a maioria das suas moedas?

- Não sei do que está falando. - Disse dando de ombros e sem conter o tom de desinteresse na voz.

- Para uma ladra você deixa rastros demais ou esqueceu quem a ensinou o truque das pedras nas sacolas de moedas? Crescemos juntos, conheço seus recursos, pode parecer como a maioria das garotas nesse galpão mas não é costurando tecidos que mantém sua família, então não me julgue...

- Você não sabe do que está falando.

- Sei que o continente está bastante disposto em fornecer recompensa por qualquer informação que os levem aos Retalhadores e atribuir roubo a vasta lista de atividades deles...

- Não tenho qualquer ligação com os Retalhadores. - Disse de forma áspera, Jonathan me lançou um sorriso que não chegou aos olhos notando os olhares curiosos em nossa direção, ele continuou:

- Quem me garante que não?- Tentei não parecer irritada com a insinuação ou com o sorriso conspiratório que preenchia seu belo rosto, Jonathan sempre possuiu uma beleza peculiar em relação a maioria dos caras que sobrevivem por aqui, como alguém recém esculpido - o idiota sempre fora lindo. E desde cedo ele soube que seria uma ferramenta quando empunhada com inteligência..

OS RETALHADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora